O futuro do Vale do Tua



«Descolonização» de Trás-os-Montes


Desde a década de oitenta, a região de Trás-os-Montes tem sido espoliada dos seus facilitadores económicos, entre os quais o caminho-de-ferro, fruto das políticas adoptadas que acabaram por ditar a diminuição da actividade económica, ficando condenada a uma morte lenta...

Fruto do abandono gradual da região, a mesma vê-se, presentemente, esvaziada de gente e com uma actividade económica moribunda, em que apenas a agricultura e o turismo ainda têm alguma expressão, estando à vista a sua extinção, por via da transformação do IP4 numa auto-estrada com custos para o utilizador, descontextualizada da realidade actual da economia de Trás-os-Montes, uma vez que as poucas empresas existentes já não têm capacidade de criação de valor suficiente para incorporar os custos associados às portagens, além de que estas representam uma barreira às viagens de turismo.

Não obstante ser este um cenário já por si bastante recessivo, o risco de ser retirado ao Douro vinhateiro o desígnio de Património da Humanidade, por via da construção da barragem do Tua, fará com que Trás-os-Montes se confronte com uma situação ainda mais difícil, porquanto a criação de valor associada à mesma será inferior àquela que adviria da exploração turística integrada do vale do rio Tua com o caminho-de-ferro que o percorre, cenário que nunca foi avaliado no Estudo de Impacte Ambiental e que se enquadra no touring cultural e paisagísticoe touring da natureza, eixos prioritários na aposta turística portuguesa.

Considerando os impactos e externalidades económicas negativas e irreversíveis, decorrentes da construção da barragem e do consequente risco de o Vale do Douro deixar de ser Património da Humanidade, das perdas que isso representará para a já débil economia local e a destruição definitiva e irreparável do Vale do Tua, os custos associados à suspensão imediata da mesma serão bem inferiores.

Atentos os impactos negativos referidos, a escolha recai entre dois cenários possíveis: a destruição do património natural único e de valor incalculável do Vale do Tua associada ao risco da perda de uma distinção da UNESCO, ou a preservação do mesmo, acrescentando aos dois desígnios já existentes na região - o Vale do Douro e as gravuras rupestres do Côa - um terceiro que se traduziria na candidatura da Linha do Tua a Património da Humanidade.

A suspensão imediata da construção da barragem do Vale do Tua torna-se, portanto, óbvia, sendo a única opção de bom senso. E se ainda subsistem dúvidas, os fundamentos que podem suportar tal decisão deverão ser estudados, nomeadamente no que respeita aos respectivos impactos económicos, caso contrário, estaremos perante mais uma decisão fatalmente penalizadora para Trás-os-Montes, para o Vale do Douro e para os seus habitantes, e mais um passo para a respectiva \"descolonização\" irreversível.

Por último atrevo-me a citar uma frase do livro Comboios Portugueses - Um Guia Sentimental, de Francisco José Viegas: "Agreste a travessia dos vales ao longo do Tua. (...) São paisagens únicas, deslumbrantes, algumas delas apenas acessíveis ao comboio". Nem a magnífica leveza do traço de Souto Moura será suficiente para atenuar a ferida que já cresce...


Por Alberto Aroso
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Comentários

Fronteiras disse…
Isto tudo é treta!

Não é que afinal somos uns «piegas»?

Irra! Estamos a queixar-nos por tudo e por nada e a nos lamuriar sem razão nenhuma!

IRONIC MODE OFF
claudio disse…
treta é o seu comentario! de tantos posts aqui que podia dizer isso, ja em quase todos eles ha uma queixa, so neste é que se manifestou...... curioso! ainda é mais deprezavel tal comentario quando nao apresenta contra argumentos nem uma opiniao fundamentada! ja esta mais que provado que NEM É ESTA BARRAGEM, MAS SIM QUALQUER OUTRA BARRAGEM nao tratá energia compensatoria ao pais! mas esta esta a causar mais polemica por destruir o vale do tua. e as pessoas tem que ter consciencia de que nao é um quintal uma floresta ou reserva biologica que esta em causa MAS SIM PATRIMONIO DA HUMANIDADE! MUNDIAL!

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Fronteiras disse…
Caro Cláudio,

Não sei se reparou que estava a ser totalmente irónico. Uma coisa é ser «piegas» e outra coisa é queixar-se com base em argumentos sólidos. Se alguma vez fiz algum comentário crítico, foi atendendo a razões de todo tipo: económicas, culturais, sociais, etc.

Mais digo: Concordo completamente consigo! A barragem do Tua constitui para mim um atentado para o nosso património e os benefícios são muito duvidosos, a não ser fornecer energia a cidades que nada tem a ver com os habitantes que moram perto do lugar em que está a ser construída e ainda por cima criticarão qualquer queixa que façam estes habitantes que apenas querem um futuro melhor na sua terra.

Qualquer país da Europa civilizada impediria esse atentado ambiental e poria em valor o património que certamente tem a região. Mas este é o país que temos e sim, há razões para queixarmo-nos, mas com um amplo leque de argumentos sólidos. Isso não é pieguice!
claudio disse…
ha okay! é que diz ironico off, ou seja esta a falar serio foi isso que percebi. ainda assim fiquei confuso depois de ver o seu blog com as suas fantasticas fotografias da regiao nordeste!

esclarecido!
Fronteiras disse…
Não faz mal. Às vezes fazemos uma leitura rápida e depois não reparamos em todos os pormenores. Já me aconteceu a mim mais do que uma vez.

Cumprimentos,