Os 'sound bites' da Regionalização


Relvas, a bota e a perdigota


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O ministro Miguel Relvas (ou melhor: o omniministro, como lhe chamou, com certeira ironia, Manuel António Pina) disse, anteontem, estar a fazer mais pela regionalização do que os "regionalistas de discurso". É uma daquelas frases bonitas, que Relvas devia mandar emoldurar, para mais tarde mostrar aos netos como exemplo do perfeito soundbite.

Sabendo-se que Miguel Relvas não é, longe disso, um defensor da regionalização, haverá bocas a abrir-se de espanto. Convinha que não nos iludíssemos, porque o que está por detrás da declaração do ministro tem muito pouco a ver com a criação de regiões administrativas. Relvas fala, apenas, da discussão em curso sobre a eleição direta, ou não, dos presidentes das "Áreas Metropolitanas (AM).

O argumento é o seguinte: não faz sentido eleger diretamente os líderes das AM, porque isso seria "começar a casa pela chaminé", uma vez que daí resultaria uma denecessária "luta política". Confesso não entender o pensamento do ministro: se a esmagadora maioria dos autarcas defende a eleição direta para aquele órgão, de que "luta política" fala? Da luta desenfreada pelo lugar? Ou da incapacidade de quem elege para perceber o que está em jogo?

Miguel Relvas prefere discutir, antes, as competências e o orçamento das AM, aquilo a que ele chama o "desenho institucional" da coisa. Ora, é aqui que a bota não bate com a perdigota. Exemplos da incongruência entre o discurso apaziguador do ministro e a realidade existem para todos os gostos.

No caso do Porto, para ser consequente com o que diz, ao mesmo tempo que garante estar a fazer mais pela regionalização do que os "regionalistas de discurso, o ministro devia jurar que se baterá até à última gota do seu suor contra a fusão do porto de Leixões, contra a inclusão do aeroporto do Porto na privatização da ANA, contra a centralização da AICEP e do IAPMEI em Lisboa, contra a deslocalização do núcleo do Porto do INE para a capital, contra o esbulho que representa o efeito difusor (gastar em Lisboa milhões alocados a outras regiões), contra o esvaziamento das comissões de coordenação regionais e, sobretudo, contra essa verdadeira excentricidade democrática que é como os fundos europeus estão a ser tratados. Sim, porque a preparação do próximo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) está a ser feita sem a presença dos poderes regionais e municipais, esses chatos que se batem pelos seus territórios, porque os conhecem melhor do que ninguém.

Quer dizer: Relvas vai ter muita dificuldade em encontrar "competências" para entregar à AM do Porto, porque elas têm sido sugadas, bocadinho a bocadinho, pelo inexorável centralismo de quem governa. Quando ele der conta, não sobrará nada para oferecer às AM...


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Comentários

Anónimo disse…
Curiosamente.....
Foi este omniministro que juntou a ele e ao farsolas do primeiro ministro, os mais ferrenhos defensores da regionalização.É preciso referir os nomes? Muitos deles são do PORTO/GAIA.

E ouvem-nos falar? Abrir o bico? Lá andam eles embevecidos em redor doa manjedoura nacional. Qual regionalização qual carapuça.

De uma forma geral, os regionalistas são isso: em busca dos despojos da pátria.

Regionalização não tem sentido em Portugal. Mas pode servir como meio de ajuntamento para fazer pressão para chegar ao "Pote".

Este trágico governo teve como suporte exatamente os bandos defensores da regionalização.

Só não vê quem não quer ver.
Caro Anónimo,

O meu amigo não deixa de ter razão quando afirma que os grandes paladinos da regionalização do PSD - Marco António Costa, LF Menezes, Mendes Bota, CA Amorim, etc - andam agora calados que nem ratos. E os poucos que vão dizendo alguma coisa é só no sentido de alertar que este não é o tempo para a Regionalização. Simplesmente, lamentável...!

Todavia, os verdadeiros regionalistas não esmorecem como é comprovado pela vitalidade deste 'blog' e a adesão sempre crescente que se verifica nas redes sociais.

Cumprimentos