Porque não lhes interessa a regionalização (parte II)



(continuação da parte I)

Atingimos o fundo, o cúmulo do centralismo. E o pior é que a população e os empresários das regiões, completamente asfixiados por uma crise que ameaça deixar meio país a pão e água, têm preocupações a mais para lutar pelos direitos das suas regiões. Como sempre, os governantes aproveitam-se disso como podem.

Por outro lado, a aceleração do processo de liberalização da economia portuguesa podia ter sido uma oportunidade para remediar um pouco do mal centralista que comprometeu seriamente o desenvolvimento harmonioso dos territórios portugueses. As empresas a privatizar podiam ter sido separadas em companhias mais pequenas, sediadas em diferentes regiões, que, sendo vendidas a diferentes proprietários, não só aumentariam a concorrência dos mercados onde actuam como também potenciariam o desenvolvimento das regiões onde se encontrassem sediadas.

Veja-se, por exemplo, o caso da EDP, que resultou da nacionalização e fusão de empresas produtoras de electricidade de âmbito regional. Aquando da sua devolução ao sector privado, podia ter-se tentado reparar o dano feito às regiões aquando da centralização.

Mas não. Todas as empresas, sediadas junto ao sempre eterno poder absoluto do Terreiro do Paço, foram vendidas tal qual estavam antes. Com todos os vícios centralistas e monopolistas, que em vez de serem resolvidos, se perpetuaram irremediavelmente. Até os aeroportos, talvez os mais valiosos activos das cidades onde estão inseridos, foram vendidos em bloco (mesmo na Madeira e Açores!)

Não é de admirar. O poder pode ter-se desfeito das empresas, mas continuará a ganhar com elas através da inclusão de figuras destacadas do eixo Terreiro do Paço-São Bento nas suas administrações. E com a benesse de, sendo empresas privadas, nem sequer terem que prestar contas à população sobre a obscuridade de tais nomeações.

Voltando à regionalização. Porque não interessa a este governo? É simples: não interessa porque a ideia é não haver nada para regionalizar. Porque quando se voltar a discutir o tema, o Estado já não terá a influência que tinha na economia. E o centralismo, transferido do Estado para o sector privado, será um facto cada vez mais consumado e irreversível.

Não tenho, por isso, dúvidas em afirmar que o que temos vindo a presenciar nos últimos dois anos é a maior operação de centralização encapotada das últimas décadas nosso país. Cabe agora aos regionalistas encontrar solução para contrariar este rumo.


João P. Marques Ribeiro

Comentários

Al Cardoso disse…
E enquanto fazem tudo quanto enumera, apresentam-nos uma aberracao de "regionalizacao" em que ninguem foi ouvido nem sequer as assembleias municipais! E onde os presidentes de (ou da) camara, decidiram onde se deviam agregar em muitos casos contra ideias antigas pelos mesmos defendidas!

Honra no nosso caso a Aguiar da Beira, que nunca deu o dito por nao dito!

Continue que goste de le-lo.

Um abraco regionalista.