INTERIOR: O ENCERRAMENTO DE SERVIÇOS PÚBLICOS


O ex-ministro da Economia e atual presidente da Fundação de Serralves, Luís Braga da Cruz, criticou hoje, no Porto, a forma “como se vai cortando e se vai desfazendo” a rede de apoio aos cidadãos do interior do país.


“O que me parece é que é preciso olhar para esses territórios com uma capacidade de análise muito fina, o que significa que é necessário designar pessoas que tenham capacidade de interpretar e de propor soluções de forma integrada”, defendeu.

Braga da Cruz, que também já foi presidente da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Norte, falava à Lusa à margem de um debate organizado pela Academia para o Debate e Formação Política da Federação Distrital do PS/Porto, tendo abordado o tema “Demografia: diminuição, envelhecimento e assimetrias no povoamento”.

O ex-ministro da Economia considera que “se o tribunal de um determinado concelho tem de fechar por razões de racionalidade, não pode, simultaneamente, fechar-se no mesmo concelho o posto da GNR, a escola ou o centro de saúde”.

“Até agora não tem havido essa preocupação, cada um olha para o território da forma mais desintegrada. O que está a acontecer é falta de articulação. Não se dá às pessoas aquilo que elas merecem, e isso chama-se política de coesão, política de justiça”, sublinhou.
Braga da Cruz admite que é necessário “alguma racionalidade” na rede de serviços públicos, mas critica a intervenção que está a ser feita por considerar que é “puramente setorial”.

“Ou seja, o Ministério da Justiça faz a rede judiciária, as escolas fecham onde têm menos de ‘x’ alunos, depois vêm os postos da GNR que também fecham e cada um vai cortando e vai desfazendo a rede de apoio aos cidadãos de uma forma incoerente”, frisou.

Segundo Braga da Cruz, “as regiões de baixa densidade carecem de uma visão, no mínimo, integrada. Esses territórios precisam de uma analise muito cuidadosa e a isso chama-se politica regional de desenvolvimento”.

“Tenho receio, mas também acredito que se a inteligência das pessoas for mobilizada há muita coisa que pode ser feita e bem feita. Os princípios que estão aí como orientadores do próximo acordo de parceria, justamente proclamam que é necessário inovar, garantir sustentabilidade nesses territórios, melhorar as condições de governação e, se forem bem aplicados, pode haver sucesso”, considerou.

Mas, “se esses princípios forem mal aplicados, se as políticas forem mero faz de conta, nessa altura estamos mal”, acrescentou.

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