Mulheres de negro


Longe das datas comemorativas do Dia da Mulher, do Dia da Mãe… hoje, quero prestar a minha homenagem às mulheres do campo, àquelas para quem a meninice passou ao lado das suas vidas.

Mulheres que ostentam no rosto as marcam de tempos difíceis. Vestem roupas pretas, dos pés à cabeça, sinal de perda de entes queridos. A fome, a miséria a guerra colonial, levaram-lhes, há muito tempo, a alegria da vida.

Muitas delas são velhas há muito tempo. Os dias sombrios, de um regime emparedado, fechado ao mundo, roubaram-lhes os filhos cedo demais, colocando-os em frentes de uma guerra mortífera, devolvendo-lhes os seus filhos, mutilados, ou em caixões revestidos de cerimónias fúnebres em nome da Pátria.

São Mulheres de coração desfeito em mágoas intemporais.

Mulheres para quem o papel de mãe era um constante desafio, traduzido pelo número de bocas para alimentar, e por uma terra estéril muitas vezes ingrata para satisfazer as necessidades de pequenos e graúdos.

Dia a dia, sol a sol, trilhava caminhos sinuosos com a cesta à cabeça, filho no regaço e,… pela mão, protegia os que já caminhavam pelo seu próprio pé. No campo esperavam-na tarefas sem fim. De regresso, em casa, esperavam-na as tarefas ditas «domésticas», acrescidas dos inconstantes humores do marido.

O tempo foi passando e, com ele, as marcas visíveis de uma Mulher-Mãe transportaram para um tempo presente os direitos alcançados naquela radiosa madrugada de abril.

Hoje, os lenços pretos continuam a cobrir-lhes parte de um rosto cansado, rasgado por largos sulcos, como se de uma terra fértil se tratasse.

Os campos, companheiros de sempre, da Mulher-Amiga-Mãe, estão agora entregues ao silêncio quebrado, de quando em vez, pelo despertar da passarada, nas manhãs festivas de mais uma solarenga Primavera.

Para estas Mulheres que continuam a vestir de negro, sinal de respeito pela memória dos que já partiram, deixo aqui a minha sincera homenagem!


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