Menos de paisagem

O Porto visto dos corredores do poder de Lisboa, é considerado uma espécie de Bósnia, sujeito aos humores de alguns, por lá, apelidados de caciques! É, para eles, terra de gente aventureira, pouco dada ao rigor, sempre entretida na intriga, incapaz de gerar uma grande ideia, um movimento mobilizador, determinar a agenda politica.

O último grande combate protagonizado pela gente do Porto foi a Regionalização.

Talvez, por isso mesmo, por ser um movimento que no Porto teve os principais impulsionadores, é que, de Lisboa, se apressaram a conjugar esforços pelo não, derrubando um imperativo constitucional, durante anos incontroverso e naquele referendo, transformado numa equação de difícil resolução.

Por força da manha dos instalados no poder, por definição centralistas, o referendo não passou de uma discussão de fronteiras; num pseudo combate ao despesismo.

O grande argumento contra a regionalização foi o de que iria multiplicar o número de cargos políticos e, dessa forma, onerar o orçamento do Estado.

Ardilosamente, os defensores do não, deixaram que na "paisagem", se consumissem em estéreis bairrismos, na luta pelas “capitais regionais” e pelas fronteiras de cada uma das regiões.

E, o que não era o cerne da questão, foi a razão de uma derrota...

As eleições intercalares de Lisboa vieram demonstrar que, afinal, é lá no coração do centralismo, que o despesismo reina e onde o número de cargos políticos prolifera.

A dívida da Câmara de Lisboa é superior ao conjunto da dívida de 14 Câmaras do Distrito do Porto!

E depois, de Lisboa dizem que é no Porto que estão todos os males da política!

Quanto aos cargos, ficámos a saber que nem os de Lisboa sabem quantos assessores a Câmara tem!

Se nem isso sabem, não custa nada admitir que, muito menos, saibam o que é que os ditos andam lá a fazer, se é que lá fazem alguma coisa!

Mas, ao fim do mês, recebem. E recebem bem, ao que dizem. E como Lisboa é um exemplo, todos comem pela mesma medida. Até os Vereadores da oposição têm direito a assessores. A muitos assessores!

O Porto goza da má fama. Lisboa tira-lhe o proveito.
Ao Porto, é fixado o rótulo de mau gestor. Só que quando comparado a Lisboa é o que se vê.

É verdade que nos corredores do poder, muita da gente que fabrica a ideia do Porto/Bósnia, do Porto/intriga, é do Norte. É do Porto...

A importância medida pelo número de vereadores, leva a que se conclua, como aqui que o Porto é paisagem.

A essa luz, porém, o distrito do Porto não passa de sombra!

Por via de regra, na maior parte das Câmaras do distrito, as oposições não têm assessores, nem secretárias, nem gabinete, nem papel!
Não têm nada, a não ser o direito que os eleitores lhes conferiram de tomar parte nas reuniões!


Nelson da Cunha Correia
Publicado no "Arrifana do Sousa"

Comentários

Anónimo disse…
1-Realmente, nas questão dos assessores e da divida da Câmara, estou de acordo com este senhor; e também na denuncia do preconceito centralista contra o distrito do Porto. Preconceito que não existe nos meios da classe média, mas existe sobretudo nas elites políticas e jornalisticas do centro de poder.

Agora, não confundir "Lisboa" com o governo central ou com a maioria dos meios de comunicação social que espalham a tal "má fama" do "Porto-Bósnia", ainda que uma boa parte dela esteja sediada em Lisboa.

3- Este senhor também devia ter mais cuidado ao acusar LISBOA-Cidade da falta de regionalização, quando foram duas pessoas naturais do PORTO as duas figuras principais (e caras mais influentes) dos movimentos do NÃO à regionalização em 1998: Paulo Teixeira Pinto e Miguel Sousa Tavares.

4- Evitemos falar muito de declarações por aí em Fóruns e Blogues de um ou outro racialista-separatista do norte a falar em erguer muros pela zona do Mondego, "guetizando a Nação" (mesmo como figura de estilo, é uma "piada" de péssimo gosto), a propangandear o impedimento da mistura "racial"(?) entre portugueses nortenhos e portugueses do centro-sul e sul e a falar de Portugueses do sul como gente com mais "sangue contaminado" e outras Blasfémias e alarvidades obtusas.

Portanto, este senhor e outros, (sem culpa dos mesmos, que só respondem por si e não pelas loucuras dos outros) deviam ter muito cuidadinho quando acusam o centro; - e caso se referam ao poder, como é o caso, especifiquem-no(Poder aliás, que estando em Lisboa, tem Pessoas de todo o País). Deviam ter duplo cuidado e olhar para os seus telhados de vidro (da sua área), sobretudo quando são Pessoas do Porto a darem a cara pelo NÃO nos referendos em posição de liderança; e triplo cuidado, quando pela net(e sem culpa dos mesmos) polulam mensagens racialistas, sobre "sangue contaminado" e separatismo, em uma propaganda que mina e descredibiliza completamente a regionalização - caso se venha a espalhar, vai ser o regabofe e o melhor serviço aos Anti-Regionalistas.

Preparem-se! Preparem-se, que cada um colhe o que semeia.
Não faltarão argumentos ao não, é só desenrolar o novelo, que é comprido.
Anónimo disse…
A história do "coitadinho" foi chão que já deu uvas. O governo, esse papão que está em Lisboa, sempre teve uma percentagem enorme de "grandes homens" do norte, do Porto. Fizeram algo? Não.
Quanto aos assessores na Câmara de Lisboa, eu penso, creio, para mim tenho a certeza, é um caso de polícia. Sá Fernandes, vereador sem pelouros, ter 14 ou 15 pessoas a trabalhar com ele, não faz qualquer sentido. A menos que fosse ele a pagar.
O Procurador Geral e o Provedor de Justiça, têm aqui terreno fértil para trabalhar...