Os convertidos da regionalização!

Honório Novo
Deputado do PCP



Vinte anos após a integração, o Norte parece acordar da doce ilusão de três quadros comunitários, confrontando-se com a dura realidade de continuar a ser uma das regiões europeias mais atrasadas. O "el dorado" não lhe trouxe significativos ganhos por comparação com as suas congéneres não houve aproximação aos índices médios de riqueza, conservaram-se baixos níveis de escolarização e formação, atingiram-se taxas regionais de desemprego e de precarização superiores aos valores médios comunitários.

Quando se esperaria um balanço exaustivo sobre a forma como se aplicaram tantos milhões, a quem foram concedidos e com que resultados, o discurso oficial tresanda a mofo e volta a prometer este mundo e o outro com os milhões que chegarão da "Europa". E, tal como antes, a fila dos potenciais beneficiários curva-se perante a hipótese de benesses e subsídios. Assim está de novo montado o "circo" dos fundos comunitários, com a definição de prioridades e as decisões ainda mais centralizadas e menos transparentes, concentradas nos grandes projectos e desvalorizando (ou desprezando) a estrutura e a dimensão empresarial e social dominantes na região.

Poucos parecem reparar que Portugal continua a ser dos mais centralizados parceiros europeus, que nenhum outro país com mais apoios recebidos governamentalizou tanto a sua gestão. Poucos parecem reparar que esta centralização obsessiva terá sido uma (entre outras) das causas dos insucessos, designadamente no Norte, da aplicação dos fundos comunitários.

Também por isto dá que pensar quando se ouvem certas vozes falar de regionalização.

Certos responsáveis do PSD, (e até do CDS, pasme-se), confessam-se agora arrependidos e convertidos à regionalização! Apesar do ruidoso silêncio dos respectivos partidos, seria de saudar o facto desde que esta fosse uma conversão genuína e perdurasse até ao momento das decisões. É que, a alguns deles, já ouvíramos essas juras antes do PSD e CDS terem montado uma cruzada pelo não no referendo de 1998!... Por isso, soam a falso algumas destas conversões, não se sabendo se não terão sido motivadas por razões unicamente mediáticas sabedoras da oposição do PS às ideias regionalistas. Nesta aspecto, incomoda o cinismo de responsáveis do PS que tecem loas à regionalização mas só a aceitam quando pouco ou quase nada houver para gerir ou decidir... Com este panorama, com falsas conversões e seráficos adiamentos, vai mais uma vez malbaratar-se um instrumento potencialmente determinante para poder colocar os fundos ao serviço da região e do país.

Comentários

Anónimo disse…
Oh senhor Novo, isto cheira a muito velho. Que fazer com os "convertidos"? Enviá-los para o Darfur? Para o Afeganistão? Ou mesmo, talvez, um forno? Leio e constato que os PUROS também já se converteram, portanto já são pecadores. Se os puros têm avançado em 1998 com as "convertidas" CINCO regiões o referendo teria sido aprovado. Com amigos como o senhor NOVO os fundamentalistas da regionalização não precisam de inimigos.