Um Concenso Inconcensual

É notícia de hoje a confirmação do início das condicionantes impostas pelo governo relativamente ao processo Regionalização. Muito se adapta o governo conforme os temas em discussão! Se nuns casos (Aeroporto da Ota) o concenso é algo que apenas vai atrapalhar os interesses do governo no que diz respeito a esta matéria, noutros o concenso é uma condição para que o processo avance. Concenso é preciso por um lado, enquanto que por outro o que manda é o avanço do país. Ou de uma parte dele.

Será então preciso que haja concenso entre as partes interessadas para que o processo da regionalização seja levado avante. E é colocado imediatamente de parte uma resolução rápida para o processo, descartada que foi pelo primeiro-ministro a hipótese de o referendo se realizar antes de 2009. Ou - quem sabe? - (nem) na próxima legislatura. E ainda assim, será necessário haver um concenso.

De uma assentada, e após um silêncio prolongado sobre o assunto, o primeiro-ministro arrefece os entusiastas da Regionalização e começa a colocar os primeiros entraves. E colocar entraves à regionalização do país é colocar entraves ao desenvolvimento económico dele. Porque um país nunca poderá funcionar apenas tendo como referência a sua capital, enquanto o resto do país (a sua maior parte) tenta sobreviver diariamente com o pouco que tem - para não falar na privação das necessidades básicas que diariamente lhe são impostas.

Temos portanto um país a duas velocidades e com duas políticas. Uma região (Lisboa e Vale do Tejo) a uma velocidade embalada pela frescura económica proporcionada por uma política centralista do governo - que lhe proporciona vantagens na competitividade interna; e o resto do país a uma velocidade de caracol, tentando desesperadamente encontrar meios e soluções para sair do marasmo em que se encontra e combater o desinteresse do governo pelos seus problemas. E, por outro lado, uma política proteccionista para com a capital, desburocratizando - e passando mesmo por cima de pareceres técnicos e algumas leis - tudo quanto seja possível para que o desenvolvimento desta acompanhe o ritmo das suas congéneres europeias - enquanto que para o resto do país há a maior burocratização possível de todos os processos (e uma necessidade de concenso), impedindo-o de crescer ao ritmo frenético da sua capital.

A isto chama-se ter dois pesos e duas medidas. A serem usados da forma que mais lhes convém. Enquanto o resto do país luta para sair das dificuldades que atravessa. Não adianta anunciar um crescimento de 2, tal % do país quando esse crescimento não corresponde à realidade de todo o terrritório nacional. Não é correcto anunciar a queda do desemprego quando ele aumenta na região que fora o motor económico do país. O que adianta é ser objectivo e olhar de frente para os problemas sem estar a pensar noutro tipo de interesses

Comentários

Anónimo disse…
É um diagnóstico feito com elementos de "censo" que não enganam ninguém mas as suas causas não são de con(senso), muito menos a solução da regionalização como terapeutica para todos os males, que não é. Os regionalista caem facilmente no erro de porem a fasquia muito alta.