Televisões=Centralização

250Há muito que tenho a firme convicção que, a par e em sintonia com o Estado, um dos instrumentos responsáveis pela macrocefalia centralizadora do país na capital, se deve em substancia à acção dos orgãos de comunicação social, com destaque para a televisão, pelo forte impacto de audiências que disfruta junto do grande público.

Por razões temporais, não irei ao ponto de garantir (como já alguém disse) que a televisão elege ou derruba Chefes de Estado ou Govêrnos, mas não hesitarei em afirmar que - num país de gente despolitizada e apática, como ainda é o nosso - pode perfeitamente manipular a opinião pública à penumbra de práticas aparentemente democráticas e até lisonjeiras. Mas, com o tempo necessário para a tarefa, não custa a crer que seria mesmo capaz de derrubar e eleger Govêrnos.

A juntar a esse poder semi-oculto, mas factual, existem outro tipo de fenómenos de carácter socioeconómico, como é o caso do futebol, que a televisão explora para manipular a população em função dos seus desígnios ou prioridades. Assim, com todo o tempo do mundo e sem oposição, vai urdindo valores, inventando intrigas, carimbando competências, levantando suspeitas, ao mesmo tempo que modela mentalidades e opiniões públicas.

Deste trabalho de formiguinha, em prol dos interesses centralistas, obviamente, não assumido, as televisões usam a clubite aguda dos portugueses para os dividir, incluindo gente da mesma cidade e região, preparando-se pacientemente para recolher os "louros" chegada a hora de "decidir" a Regionalização.

Não é por acaso que este tema (o da Regionalização) sendo tão pertinente ao nível do interesse e da receptividade pública, com sucesso previsivelmente garantido, é dos raros de que as tvs lisboetas preferem abdicar. O mesmo se passa, com alguns fazedores de opinião ao seu serviço, como Pacheco Pereira e Marcelo Rebêlo de Sousa que fogem do assunto como o diabo da cruz...

Pelo exposto, o resultado do trabalho missionário das televisões, junto do Poder Central, à imagem da "acção psicológica" usada pelo exército na ex-guerra colonial para "amansar" os rebeldes, redundou num acentuado bairrismo das populações (no que de pior contém a nova adjectivação), gerando fissuras difíceis de sanar a curto prazo.

A discussão pública sobre a Regionalização patente em alguns espaços de opinião na Web, como fóruns, blogues, etc., mostra-nos à evidência esses sintomas. Bastará pesquisarmos atentamente para percebermos, que a lei "SONY", aquela que dizia, "a minha televisão, é maior que a tua", domina o conceito de divisão territorial de alguns supostos "regionalistas", de tal forma que, não tarda, estarão a discutir ferozmente o espaço reservado a cada membro da família dentro da sua própria casa sem opção referendária.

E é destes "regionalistas" que o Centralismo gosta.

Publicada por Rui Valente em "Renovar o Porto"

Comentários

templario disse…

Que dorido desabafo o seu, Sr. Rui Valente! Responsabilizar as televisões de Lisboa por algumas nuvens que entretanto começaram a pairar sobre o "grande desígnio nacional" para alguns, a regionalização! Não me tire a possibilidade de ver o meu Glorioso semanalmente, de ver os lagartos perderem e ter a esperança de ver o FCP regionalista, castiço e rebelde pelo menos empatar. Desde Quarta Feira que ando de canal em canal para ver sempre mais uma vez o golo do Cardoxo...

"Dispolitizado e apático" o povo português?! Não estou de acordo. Para o convencer do contrário seriam necessárias milhares de páginas e se escritas por mim estou certo que não o conseguia.

Temos, então, que a contradição principal na nossa sociedade, responsável pelo nosso atraso (infelizmente foi sempre assim), reside nesta magna questão. V. presta um elevado favor aos partidos e personalidades que passaram pelo governo nos últimos trinta anos. Coitados, não implementaram boas políticas porque não disposeram de juntas regionais eleitas pelo povo. E as televisões, se tevéssemos uma em cada região o povo estava mais educado, mais politizado, mais activo. Não creia nisso.

Numa península ibérica de Oceano. Planaltos, Mediterrâneo, com uma periferia sempre retalhada e de costas voltadas para o Planalto (o centro), Portugal iniciou a "regionalização" da península no séc. XII, alargou fronteiras até ao Algarve com povoamento e repovoamento com forais que lhes concediam autonomia de governo e municipalidades, numa estrutura de poder centro/poder local. Na Fundação e alargamento o grupo familiar aristocrático rebelde e o nosso princepezinho não entregaram as terras conquistadas a grandes senhores (isso acontece mais tarde com influência da Igreja. Esses nossos antepassados criaram assim a primeira região independente da Ibéria.

Na restante Iberia existiam vários reinos e a conquista e reconquista não foi feita por um reino, mas por vários. Não dá para desenvolver aqui, mas dá para perceber que esse processo ainda não terminou, está em curso hoje.

A regionalização em Portugal iria servir âs mil maravilhas o grande PLANALTO ibérico com centro em Madrid, este mesmo que assiste impotente ao aprofundamento desse retalhar em nacionalidades, nações, etc.. Um processo imparável, se é que tem acompanhado.

Portugal, mais tarde ou cedo perderia a sua identidade, dissolvia-se, com as restantes nacionalidades periféricas a esfregarem as mãos de satisfeitas.

Essa coida da regionalização em Portugal é muito perigosa. Como disse a outra, é mesmo FRACTURANTE.

Tenho lido muito sobre a História de Espanha de autores espanhóis. Ajuda muito. Temos hoje obras maravilhosas da História de Portugal que não tínhamos antes. Ajudam muito para estarmos contra essa solução.


Fantasmas, cada um que apascente os seus...



Excelente Artigo de Rui Valente. Mas atenção: os centralistas "andem por todo o lado" e os mais ferrenhos não são os de Lisboa (antes pelo contrário), mas sim os de Boliqueime, os de Cabeceiras de Basto, os de Fafe, etc., etc....
E até os há também no Porto, que até são alguns dos mais abruptos...
Rui Valente disse…
Obrigado pelas felicitações a todos.
Caro António Felizes,
Autorizo desde já e sempre que entenda,a publicar os meus posts.

Abraço!
Rui Valente
http://renovaroporto.blogspot.com