Alberto João Jardim, Presidente da Região do Alentejo

- ou como o exemplo das autárquicas é demonstrativo da visão centralizante que preside à regionalização em curso -


Confrontado com a opção regionalizar ou não regionalizar e optando em princípio pelo sim, continuo no entanto incapaz de dar uma resposta sólida e convincente àqueles com quem convivo e que se mostram reticentes.

A razão fundamental da minha hesitação reside acima de tudo, e diria mesmo, apenas, na desconfiança absoluta que deposito naqueles que se posicionam já como candidatos a futuros líderes das regiões e aos que tem hoje na mão o poder de regionalizar como bem entendem.

A atitude perante as autárquicas dos dois principais partidos defensores da regionalização e que tudo indica a vão levar a cabo, o PS e o PSD, é sem duvida significativa em relação ao que são as suas esperanças e a sua visão em relação ao processo de regionalização.

Regionalizar só será útil para o país se significar, entre outras coisas mas fundamentalmente, o aproveitamento, a valorização e a elevação de tudo o que provém da região e, logo à cabeça, os homens que lhe pertencem.

Esta opção - a regionalização - deveria ser a abertura necessária para que as mulheres e os homens válidos da região, com o conhecimento profundo e concreto que possuem da sua própria terra, encontrem enfim a possibilidade prática de se candidatarem, de agirem e de gerirem os seus destinos, ultrapassando definitivamente uma burocracia centralizante, distante administrativa, social e geograficamente.

Ora, aquilo que nos últimos tempos temos vindo a assistir, com os principais partidos “regionalizadores” a distribuir os seus quadros arbitrária e compulsivamente como candidatos a autarquias que desconhecem totalmente, e muitas vezes contra a vontade expressa dos militantes locais, é a prova cabal de que a regionalização que nos vão impingir é fruto de interesses que não são seguramente os nacionais e muitos menos os regionais.

Não poderei nunca compreender que, na escolha de um líder para uma Câmara ou uma Junta de Freguesia, as direcções nacionais ou distritais de um partido possam impor um candidato "pára-quedista" oriundo ou habitante de um outro município ou freguesia e que desconheça essencialmente a localidade.

Pela mesma lógica, a Região necessita fundamentalmente de alguém que nela tenha nascido e ou vivido, e possa assim conhecer-lhe o pulsar e encontre para ela as soluções de que necessita.

Não acredito em políticos tão “polivalentes” que possam um dia ser, por esta ou noutra ordem, ministros ou secretários de estado, no outro deputados, depois presidentes de Câmara e um ano depois, quiçá, deputado europeu ou mesmo comissário europeu.

É que, senhores dos partidos, a política não e apenas uma técnica, uma burocracia. A política tem de ser um acto cultural norteado pela noção antiga e sempre válida do servir.

Afinal, com aquela mesma lógica, poderemos ter um dia Alberto João Jardim como candidato a Presidente da Região do Alentejo ou Pinto da Costa na Presidência da Região de Lisboa e Vale do Tejo.

Dá para rir; é triste; é saloio; … mas é verdade!

(publicado n'O Progresso da Foz)

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

De acordo com o escrito neste "post" que não está muito diferente do que tenho escrito ao longo dos 9 últimos meses, se se recordarem
Mas, para colocar a cereja no topo do bolo, mais uma citação de um grande escritor que a propósito da emigração diz o seguinte:
"...Por isso, por esta inclinação movediça, a nossa cultura é estrangeirada; não se recorre ao SABOR PÁTRIO, DE TANTO QUE ELE SE TRADUZ EM HUMILHAÇÃO E IMPEDIMENTO".
Gostava que os leitores deste "blogue" procurassem saber quem escreveu estas linhas e o expressassem aqui, há dezenas de anos e muito actuais que poderiam ser actualizadas, nas condições de desenvolvimento, pelo aproveitamento e valorização dos nossos recursos endógenos característicos de cada região, de forma a que a regionalização possa constituir um projecto político de regresso às origens como condição de desenvolvimento.
Nada mais só porque é uma grande tristeza o que se tem passado no nosso País, em termos políticos e sociais,desde o século XVI até hoje, salvo algumas muito raras excepções.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)