Olhando para norte

Rui Moreira, no "Publico"

Esta semana, almocei com Dom Jaime Borrás Sanjurjo, presidente do Club Financiero Vigo, uma associação fundada nos anos 90 do século passado, e por isso com menos história, mas que tem uma missão muito semelhante à da Associação Comercial do Porto.

Apesar da inquietação pelo adensar da crise internacional, que dominou o ambiente, tivemos oportunidade de falar das nossas cidades e regiões e da colaboração estratégica que precisa de ser aprofundada também ao nível das instituições associativas.

A questão do modelo de gestão do Aeroporto Francisco Sá Carneiro e do TGV entre o Porto e a Corunha são temas em que partilhamos muitas preocupações. No caso do nosso aeroporto - e há que reconhecer e enaltecer a sua promoção por parte da ANA junto dos galegos - percebe-se que ele é hoje de grande utilidade para quem mora do outro lado da fronteira. Porque, apesar de a Galiza dispor de três aeroportos, ou talvez por isso mesmo e pela dispersão de recursos e de tráfego que isso implica, o nosso tem uma maior dimensão e uma oferta inigualável em termos de destinos directos, o que é hoje um factor de competitividade para qualquer região.

Por isso, os galegos partilham hoje da nossa ansiedade, face à ameaça de um modelo de privatização que poderá vir a secundarizar o aeroporto do Porto. No caso da ligação ferroviária, percebe-se que do outro lado da fronteira há ainda dúvidas por esclarecer, o que não admira, na medida em que nós próprios temos grande dificuldade em compreender em que fase de desenvolvimento está o projecto.

É verdade que se sente, em toda a Galiza, uma proximidade com Portugal, que vai muito para além da questão da língua. Os autonomistas galegos sempre procuraram a sua inspiração na proximidade a Portugal e acentuaram as suas parecenças culturais connosco para evidenciar as suas diferenças relativamente a Castela.

Aliás, a mais recente querela sobre a política linguística e a sua influência na questão educativa tem sido muito acesa na Galiza e, ainda há pouco tempo, os autonomistas viram recusada a sua pretensão de mudarem a sua hora para a portuguesa.

Mas, ainda que a influência da proximidade portuguesa se sinta por toda a Galiza, ela é mais evidente em Vigo do que na capital política, Santiago de Compostela, ou na Corunha, que é a mais castelhana das cidades galegas. Aliás, não é por acaso que os corunheses dizem, com humorado despeito, que o primeiro viguês era filho de uma meretriz e de um português...

Pena é que nessa cidade, que tanto tem prosperado e que tantas relações mantém com Portugal, a nossa presença seja ainda ténue, apesar do encurtamento das distâncias e do muito elevado número de portugueses que aí trabalham. Nesse aspecto, a notícia da despromoção do consulado geral de Portugal em Vigo e o consequente regresso da esforçada e competente cônsul, Maria Regina Almeida, não augura nada de bom. Bem sei que o presidente da CCDR e os nossos autarcas se têm empenhado em fortalecer os laços neste diálogo transfronteiriço, mas há ainda muito por fazer e enormes oportunidades a não perder.

A promoção turística do Norte de Portugal junto dos públicos galegos, por exemplo, tem de ser incrementada e agilizada. O turismo de proximidade é o mais estruturante e estável e precisamos de o garantir para que o crescimento que se nota na nossa região tenha a desejável sustentação. Há uma grande esperança por parte dos investidores e têm surgido inúmeros novos projectos de hotelaria na região e, em particular, no vale do Douro, que está na moda. Expectativas que não podem ser defraudadas.

A esse respeito, há também notícias que nos entusiasmam e fazem sonhar, como a reabertura do Hotel Infante de Sagres, o mais emblemático hotel da cidade, por Miguel Júdice, que também acaba de anunciar o seu projecto Douro 41, um hotel que ficará a essa distância quilométrica do Porto. Um bom sintoma de esperança, nestes tempos tão conturbados.
.

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Por mais esforço que aplique não consigo concentrar-me na problemática da regionalização, "olhando só para o Norte".
O mapa deste "post" é riquíssimo de oportunidades a aproveitar no quadro da regionalização, dado que tais oportunidades se identificam com um sem número de afinidades antropológicas e linguísticas não verificáveis noutras regiões do nosso País. Se existe região (ou regiões) onde a identidade antropológica é mais densamente histórica é precisamente a área geográfica formada pela Região Autónoma da Galiza e pela futuras Regiões Autónomas de Entre Douro e Minho e de Trás-os-Montes e Alto Douro.
É incompreensível que exista disparidade no estatuto político entre as futuras regiões autónomas portuguesas e aquela região autónoma galega, a qual constitui um verdadeiro impecilho na adopção de políticas comuns de base e finalidades regionais rumo ao desenvolvimento, que se quer autosustentado, equilibrado e coordenado.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)