Litoral e Interior


excertos do estudo "AS VANTAGENS COMPETITIVAS DAS CIDADES DO INTERIOR DE
PORTUGAL: o caso da Beira Interior", por Pedro Guedes de Carvalho* e Tiago Neves Sequeira**


“A estrutura urbana do interior de Portugal é uma das mais débeis da União Europeia, enquanto que a do Litoral apresenta uma competitividade significativa e um crescente grau de internacionalização (DGOTDU,1997:257,421). As migrações que desde os anos trinta assolam o interior do país em busca de melhores condições de empregabilidade no litoral (e também no estrangeiro) criaram condições para o seu progressivo esvaziamento demográfico e empresarial. Com o aumento da densidade, aumentavam no litoral os dinamismos de mercado que possibilitaram a existência de economias de escala e aglomeração

Não obstante todos os constrangimentos políticos que historicamente se têm imposto ao interior, ele representa cerca de 70% do território nacional e 30% da população, que constituem valores não desprezíveis.

Se os argumentos anteriormente apresentados forem aceites, é agora necessário saber formular a estratégia que torne competitivas as cidades do interior do país, o que significa que é necessário saber como identificar as vantagens competitivas que devem ser preservadas pelas cidades do interior, na medida em que, refazer a História não parece viável.

Assumiremos neste argumento que se se pretender que a equidade seja um objectivo da política económica, não interessa repetir o modelo de desenvolvimento seguido pelo litoral. As cidades do interior devem aproveitar as capacidades instaladas e as características que as diferenciam positivamente das do litoral, devem potenciar as suas características únicas e traçar uma estratégia que fortaleça o aproveitamento económico dessas oportunidades.
(…)

Utilizando a análise estatística de clusters identificaram-se cinco que permitem hierarquizar as cidades capitais de distrito do continente.(…)”

1º Cluster (1ª cidade): Lisboa
2º Cluster (2ª cidade): Porto
3º Cluster (Cidades médias em forte crescimento): Aveiro, Braga, Faro, Leiria, Setúbal e Viseu
4º Cluster (Cidades médias em fraco crescimento ou estagnadas): Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Guarda, Santarém, Viana do Castelo e Vila Real
5º cluster (Cidades em declínio): Beja e Portalegre

“Os dois primeiros clusters são constituídos pelas duas maiores cidades, Porto e Lisboa (são de facto os últimos a aglomerarem-se, uma vez que apresentam uma grande distância de todas as outras). Apresentam como principais pontos fortes o poder de compra, os serviços e o património; Lisboa distingue-se ainda pelos baixos índices de desemprego e pelo clima. São pontos fracos: a mobilidade, o custo da habitação (que deverá estar associado ao primeiro) e a poluição.
O terceiro cluster é constituído pelas cidades capitais de distrito do litoral, essencialmente industriais e que experimentaram nos últimos anos um importante crescimento económico e demográfico. Distinguem-se pela positiva pelo custo da habitação, pela mobilidade, pelo clima e o pelos baixos índices de desemprego. Na generalidade, no entanto, não estão bem dotadas de serviços e património e são relativamente inseguras.
O quarto cluster é constituído pelas cidades do interior (à excepção de Coimbra e Viana do Castelo), com forte peso do sector terciário e cujo crescimento económico e/ou demográfico tem sido lento ou nulo. São cidades com um custo da habitação relativamente reduzido, com menor criminalidade e poluição e com alguma mobilidade; são pontos fracos o baixo poder de compra e o clima.
Por fim o cluster constituído pelas capitais de distrito Beja e Portalegre apresentam vantagens de pouca poluição e baixos índices de criminalidade mas com elevado índice de desemprego, baixo poder de compra, mobilidade reduzida e baixos índices nas dimensões definidas para património e clima.

Todos os clusters são estatisticamente diferentes em todas as dimensões, excepto no clima, o que permite validar a distribuição das capitais de distrito nestes clusters.
Aplicando a metodologia de avaliação das vantagens competitivas definida por Sequeira (1999) às dimensões referidas anteriormente as principais conclusões são as seguintes:
♦ as cidades do litoral apresentam vantagens absolutas em relação às dimensões desemprego, poder de compra e clima; as cidades do interior apresentam vantagens absolutas nas dimensões: criminalidade, poluição e custo de habitação;
♦ as cidades do interior apresentam vantagens relativas em relação às dimensões: património, mobilidade e serviços.

Este ensaio permite um primeiro esboço das características que distinguem as cidades Capitais de Distrito do litoral das do interior, conseguindo identificar grupos mais ou menos homogéneos de cidades que se distinguem entre si. É, portanto, possível, não só identificar grupos de cidades ao nível nacional, bem como estabelecer uma clara distinção entre cidades do litoral e cidades do interior. (…)”



*Assistente no Departamento de Gestão e Economia da Universidade da Beira Interior (UBI). Visiting Scholar na Universidade de Illinois at Urbana – Champaign – E.U.A. Bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

** Licenciado em Economia pela Universidade da Beira Interior. Estudante de doutoramento da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Comentários

"As cidades do interior devem aproveitar as capacidades instaladas e as características que as diferenciam positivamente das do litoral, devem potenciar as suas características únicas e traçar uma estratégia que fortaleça o aproveitamento económico dessas oportunidades."

Essa estratégia tem, claro está, que passar por uma Regionalização com atribuição de competências efectivas ao Interior, ou seja, por um mapa que distinga as regiões do Litoral e do Interior, que separe as diferentes realidades, para que se possam, a nível local e regional, tomar decisões diferentes para realidades diferentes.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Como tem sido provado por estudos que vêm à luz do dia, as vantagens competitivas das regiões do litoral são diferentes das do interior.
Por isso, diversidade, diferenciação e recursos próprios deverão ser os elementos (os factores principais decorrentes da análise "cluster" assinalada no texto) a enformar as políticas regionais a implementar no quadro do programa de descentralização política baseado na regionalização autonómica.
Criação das 7 Regiões Autónomas, integradas pelas 11 Províncias ou Rgeiões Naturais e Históricas, sempre acompanhada pela reestruturação do funcionamento de todos os Órgãos de Soberania e da Administração Pública, reestruturação necessária como do "pão para a boca".
Implementar a regionalziação política sem esta reestruturação é tão prejudicial como não implementar a regionalização.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Apesar deste estudo ter quase uma década, o que é certo é que, nas conclusões enunciadas, genericamente, os pressupostos continuam válidos.
JOSÉ MODESTO disse…
Caro António, grato por nos apresentar um foto de excelência: O Porto de Leixões!!!, efectivamente uma grande valia para Portugal e motor de arranque da nossa economia.
Desejo-vos tudo de BOM para 2009 e que a ideia de REGIONALIZAÇÃO permaneça sempre em nós.