Regionalização - também ao nível Ferroviário faz falta

* Foram consignadas obras na linha do Douro, entre o Marco e a Régua. Coisa pequena, 4,5 milhões de euros. Substituição de travessas de madeira, algumas reparações no balastro e nos carris, alteamento de plataformas em duas estações.

O que concluir desta obra? Sei lá. Por exemplo, que esta é uma obra de manutenção, louvável, num troço que não terá grandes alterações nos próximos anos. E visto que a obra não inclui o troço Caíde-Marco da mesma linha, será presumível que este troço terá finalmente a duplicação / eletrificação / modernização prometida? É esperar para ver. Eu espero aqui, sentado.

Enquanto que no Marco se gastam menos de 5 milhões de euros, em Évora gastam-se 50 milhões.


* E, bom, mais umas considerações avulsas. Neste caso, a Alta Velocidade e cidades servidas. Na minha monomania recente centrada nos caminhos-de-ferro, produzi um diagrama da rede portuguesa (a publicar proximamente) que, partindo de um diagrama semelhante da ferrovia na Grã-Bretanha, retrata a triste condição dos caminhos-de-ferro em Portugal. Um eixo apenas (Lisboa-Braga), ainda com deficiências, e uma série de ramais que fazem tudo menos constituir uma rede. Um conjunto enorme de linhas de via estreita (todas no norte), que duplicam a condição infeliz dos ramais, eliminando a continuidade das ligações.

O que mais me chocou foi concluir que a rede existente não está otimizada. Se se conclui que houve melhorias significativas nos últimos anos - os tempos dos alfas/intercidades entre Lisboa e Braga, a chegada do intercidades a Évora - há situações em que a situação piorou. E muito.

Deixou de existir intercidades entre a Régua e Lisboa, e entre (imagino) Leiria e Lisboa. Aliás, entre Leiria e Lisboa é necessário apanhar (pelo menos) três comboios. A linha do Tua fechou por várias vezes já e a perspetiva futura é negra - com ou sem barragem. O ramal da Figueira fechou para obras, bem-vindas. É ver o que acontece lá.

O Governo propalou que até estar a funcionar a rede de Alta Velocidade / Velocidade Elevada, não haveria investimentos na rede convencional. Ora, sabendo que em qualquer sítio do mundo a rede de AV se alimenta principalmente da rede convencional, e a nossa rede convencional é pouco mais que paupérrima, depreende-se que o interesse do Governo em fazer funcionar o futuro investimento é muito reduzido. Ou então é apenas incompetente a gerir a coisa.

Investimentos como a ligação entre Guimarães e a (nova?) estação de Braga devia ser considerada tão essencial como a própria linha nova. Ou de ligar desde já Viseu à rede convencional. É que se Viseu é a maior cidade da Europa sem caminho-de-ferro, qual o sentido de lhe dar (seja lá quando for - 2030?) a Alta Velocidade sem a cidade ter ligação à rede? E, já que este é um projeto para as calendas, pelo menos assim os viseenses teriam comboio antes de 2030.

E apesar de eu criticar a ligação Lisboa-Madrid pelo Alentejo (seria muito mais lógica apenas uma ligação à Meseta, Aveiro-Salamanca, o tal T deitado), consigo perceber uma ligação em Alta-Velocidade entre Lisboa e o Porto. E compreendo a estação em Leiria. O que não compreendo é como uma cidade como Leiria, que teve nos últimos anos tamanho desinvestimento na ferrovia vá ter AV sem ter sequer ligação à linha do norte, sendo ainda necessário apanhar 3 comboios para ir até Lisboa.

E Évora? Sem desmerecer a cidade, a única ligação ferroviária de que Évora dispunha até há poucos anos (3? 4?) era uma automotora que a ligava a Casa Branca a 30 km/h. Neste momento tem ligação a Lisboa com intercidades, mas quase não tem regionais. E também vai ter AV. O concelho de Évora tem 55.000 habitantes e vai ter AV. E mais não digo. Até a Póvoa tem mais população que Évora.

Nuno Gomes Lopes

Comentários

Vitor Silva disse…
viva,

a propósito deste tema do transporte ferroviário queria aproveitar para publicitar
o meu podcast "O Porto em Conversa" que nesta terceira emissão que vai ser gravada no próximo domingo (8-março) irá abordar precisamente o tema da ferrovia mais especificamente no norte de portugal.

os temas a abordar estão em http://oportoemconversa.wordpress.com/2009/03/03/conversa-com-antonio-alves-guiao/ e quem quiser contribuir para este debate só precisa de me enviar quais as questões que gostariam de ver abordadas.

vitorsilva
http://blog.osmeusapontamentos.com/
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

O que se passou com o sistema ferroviário nacional, depois do 25 de Abril foi de lesa-pátria, ao destruir-se um conjunto de infra-estrturas transformada agora em pistas, com valor não só histórico como colectivo de transporte.
Estas referências aos milhões de € em trabalhos de investimento ou de reparção não significa nada em relação ao que foi destruído e que as populações acabaram então por não protestar suficientemente para impedir o que acabou por acontecer, escandalosamente.
As populações parece que foram então "adormecidas" para aquilo que aconteceu com efeitos irremediáveis na economia e no interesse das respectivas populações.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
hfrsantos disse…
A minha questao, para a ferrovia do Norte, porque o comboio de Alta velocidade espanhol entre Madrid e Galiza nao para em Bragança com ligaçao por comboio normal entre Bragança e Porto?
Porque nao esta prevista nenhuma ligaçao por comboio entre Porto-Bragança e uma cidade espanhola onde pare o comboio de Alta velocidade entre Galiza e Madrid?
Estamos a perder oportunidades unicas de desenvolvimento para a Regiao Norte.
Espero que quem faça os planos da ferrovia no futuro pense na cooperaçao transfronteiriça.

Outra questao: Porque nao existe um Passe Ferroviario para o Norte de Portugal?
Porque a CP vende o passe entre Porto e Pocinho a 225 euros por mes, ou Porto-Tua a 207 euros por mes, se estes preços nao sao de passes sociais e o utente ainda tem que pagar a parte os transportes urbanos da area metropolitana do Porto.
POrque a CP vende o passe entre Porto e Regua a 166 euros por mes, entre Porto e Viana do Castelo a 143 euros/mes e entre Porto e Valença a 182 euros por mes, se por este preço praticamente ninguem compra o passe?
Nao seria preferivel que quem paga mais de 100 euros por mes de passe a CP (1200 euros/ano), pudesse utilizar sem limites os comboios urbanos, regionais e interegionais na Regiao Norte.
E por mais 20 euros pudesse ainda utilizar os transportes urbanos das cidades aderentes?

Com este passes de valores exorbitantes, os nortenhos que vivem em regioes mais afastadas dos grandes centros urbanos sao prejudicados e existe uma tendencia a migraçao para proximo dos centros urbanos.

Transportes publicos teem um papel social de aproximar as oportunidades, emprego, formaçao e os portugues entre si.

Um Passe Regional para a Regiao Norte, com integraçao entre os transportes urbanos das cidades aderentes e a Rede CP do Norte deveria ser uma prioridade.
O passe mais caro deveria ser de 100 euros e dar acesso a toda a rede CP do Norte.

A mesma logica deveria ser utilizada para a Regiao das Beiras, Alentejo e Algarve.

Passe Regional para os transportes publicos a 100 euros que da acesso a toda a rede CP da Regiao e acesso aos transportes urbanos das cidades aderentes deveria ser criado.

E porque nao um Passe Nacional ferroviario para todo o Pais, a 166 euros por mes (2000 euros por ano) com acesso a toda a rede CP Nacional, incluindos os intercidades.

Antes de criar mais infraestruturas temos que pensar em como otimizar o uso da rede CP atual que muitas vezes nao utilizamos por falta de uma politica comercial logica e ao serviço dos portugueses que subsidiam a empresas ferroviaria Nacional.

Nao é so o tempo que demoramos nos transportes publicos que conta. Tambem conta quanto pagamos para os utilizar. Creio que devem ser criados os passes CP regionais e Passe CP Nacional que ja existem em muitos paises europeus (suiça, austria, alemanha, suecia, belgica e outros) e por preços bem inferiores ao Passe CP entre Porto e Valença!
Anónimo disse…
Bjeu sem comboio não me mete pena absolutamente nenhuma, e se eu mandasse no país, fazia uma linha a passar por lá, se tal necessário fosse, com estação e tudo, mas enquanto o Ruas não desse ao quiques da câmara, não parava lá nem uma dresine sequer.
Querem ir para Coimbra estudar? Vão de autocarro que faz muito bem, ou então também podem usar a bicileta para ir até Santa Comba Dão, e depois levarem-na no regional, ou desmontarem-na e levarem-na no IC, a CP agora permite essas modernices, que as aproveitem!

Roberto, com comboio à porta de casa de hora a hora.