templario: resposta a um anti-regionalista


(no seu contexto original no post "Moção sobre Regionalização no Congresso do PS em Espinho")

(As frases entre aspas pertencem a um anterior comentário do sr. templário)

Caro templário:

"O que vai propor mais para esfarrapar mesmo o país?"

Eu, sinceramente, a isto, já nem respondo. É o típico argumento do Velho do Restelo. Diga-me só uma coisa: a Holanda está regionalizada. Vê a Holanda estar esfarrapada?; a Suíça está regionalizada: vê a Suíça estar esfarrapada?; a França está regionalizada: vê a França estar esfarrapada?; a Alemanha está regionalizada: vê a Alemanha estar esfarrapada? E daqui não sairíamos se fôssemos falar em todos os países que estão regionalizados, desde os mais pequenos até aos maiores, da Europa e da América superdesenvolvidas, até à África subsariana. Em quase todos os países do Mundo há um nível intermédio de poder, entre os governos nacionais e o poder local, um nível de poder da máxima importância e que tem dado frutos. Em Portugal, não: continuamos "orgulhosamente sós" (estou-me a lembrar de alguém que disse isto... e não acabámos lá muito bem...), e vêm dizer que isto é "retalhar um país". Sem comentários.

"não tem a noção que num país sem tradições regionalistas (quando muito poderá encontrar algumas reminiscências no nordeste transmontano)"

Esta afirmação entra já no campo da hipocrisia. Se "não temos tradições regionalistas", explique-me como é que falamos em Minho, Trás-os-Montes, Alentejo, Ribatejo e Algarve com tanta naturalidade. Explique-me porque é que todos nos sentimos minhotos, transmontanos, beirões, ribatejanos, alentejanos, algarvios, etc., com tanta naturalidade. Explique-me porque é que em Portugal sempre existiram unidades territoriais regionais, desde o século XIII (províncias, comarcas ou distritos), muitas vezes dotadas de governadores, deputados, e outros soberanos, que representam a sua região, e porque é que atravessamos precisamente hoje em dia um dos períodos de maior centralização de Portugal em toda a nossa já longa história enquanto nação. E, por acaso, este período coincide precisamente com o período em que há mais desigualdades em termos de distribuição de riqueza e população entre as várias regiões do nosso país? Será que precisamos de um novo povoador, um novo D.Sancho I? Se calhar precisamos, mas lembre-se do que ele fez para atrair população para as áreas desertificadas: promoveu o fortalecimento de um poder até então quase inexistente, o poder local. Mas nós já não estamos no século XIII. Não estamos, mas parece, porque o nosso ordenamento pouco evoluiu desde então. Continuamos com governo central e municípios, e um fosso enorme entre eles. Desde o século XIX que se fala em Regionalizar, por algum motivo deve ser. Somos dos países mais atrasados da Europa, mas temos uma das regiões mais ricas: Lisboa. Porque será? E porque será que as regiões que se lhe seguem no nosso país são logo os Açores e a Madeira que, por acaso, gozam de autonomia? Porque resiste tanto à aplicação da Regionalização em Portugal? Tem medo de quê? Temos experiências, boas práticas, até mesmo dentro do nosso país, que nos mostram que a Regionalização é positiva... Tem medo que fiquemos pior do que já estamos? Acha que a Regionalização é assim uma coisa tão má? Não estou a ver porquê...

"os poderes políticos regionais iriam entrar em choque com o municipalismo e as comunidades e abririam a médio e longo prazo o caos em Portugal"

Sim, compreendo isto... Traduza-se esta frase em "Politiquês" de Portugal:
os interesses das populações, reforçados por uma autonomia dada a um poder de proximidade conferido pelas regiões, iriam entrar em choque com a política de caciquismo e tachismo quase feudal instalada há várias décadas no nosso país...
Pode ser que assim se perceba melhor...

"a esmagadora dos assalariados que por aqui vivem passam as passas do Algarve para viver e quase arrisco a dizer-lhe, se vive no interior defenda a qualidade de vida que tem e que vai ser melhor mais depressa do que julga"

Frase puramente demagógica. A qualidade de vida no Interior é tanta, mas tanta, e as oportunidades de trabalho são tão abundantes, mas tão abundantes, que metade da população do Litoral até nem migrou para Lisboa, Porto e Litoral em geral (estou a ser irónico, é claro). Olhe para a realidade, não tente tapar olhos. Se no Interior vive meia dúzia de pessoas, e nas cidades vive tanta gente, é normal que haja mais pobres nas cidades do que no Interior... E, se a maioria das pessoas passa "as passas do Algarve para sobreviver" é porque se habituaram a um nível de vida superior ao que podiam ter, e agora com a crise, tudo isso se está a desmoronar. Lá está: gasta-se e não se produz; é a metáfora do país que somos: Lisboa pouco produz mas é rica, o resto do país produz e é pobre...

"Fala em Saúde e Educação: não seja injusto, puxe pela sua boa vontade e optimismo e verificará que foram as áreas onde a democracia mais êxito teve."

Este senhor não deve viver no mesmo país que eu. É mesmo preciso puxar pela minha boa vontade e optimismo, e mesmo puxando, não consigo perceber como é que chega a uma conclusão destas. A nossa saúde é um caos, se chama êxitos a termos uma rede completamente deorganizada, com dezenas de hospitais num centro de Lisboa com 500 000 habitantes, e apenas 3 numa Beira Interior com mais de 300 000, sendo que nesta última, se demoram horas em viagens por estradas horríveis (experimente ir de Coimbra a Castelo Branco, da Guarda a Pinhel, de Seia à Guarda, ou de Figueira de Castelo Rodrigo a Vilar Formoso e veja do que falo: não é só por termos duas auto-estradas que nos tornamos o paraíso em acessibilidades... quanto às ferrovias, são dignas de terceiro mundo), até se encontrar um serviço de saúde condigno, em alguns casos mais vale ir a Espanha (olhe a unidade nacional no que tem dado...), com a agravante de o 112, por vezes, nem sequer funcionar...

"Deve referir-se às acessibilidades, problema dramático na área metropolitana de Lisboa."

Lisboa tem uma rede de estradas ao nível de Barcelona, Valência ou Madrid. Tem uma excelente rede de transportes públicos, quer ferrovias, quer metropolitano, quer autocarros ou barcos. Se as pessoas não os usam não se queixem. As filas de trânsito não são reflexo de má qualidade de vida, são reflexo de um mau ordenamento crónico (veja Portugal, um Retrato Social, quando se fala das cidades, e leia o que os geógrafos portugueses pensam deste tema...). Quando as coisas são feitas à portuguesa, é nisto que dá.

"Investimentos nos mesmos sítios: não se esqueça que temos uma costa marítima com 840 kms que nos projecta para todo o mundo, mesmo para a Europa e que junto a esse imenso oceano temos 3 aeroportos internacionais, uns não sei agora quantos importantes portos marítimos, bem como uma evidente ind. turística. Este litoral continuará a ser polo de atração dos mais importantes investimentos."

Depois deste discurso, esqueceu-se de um pormenor. Que as regiões do Interior, no contexto Ibérico e até Europeu, estão até bastante melhor posicionadas que as do litoral. Que, por exemplo, o eixo Guarda-Vilar Formoso se encontra a distâncias-tempo semelhantes dos pólos urbanos de Lisboa, Porto e Madrid, e que estas duas localidades do Interior estão às portas da Europa, e precisamente no centro do eixo triangular formado pelas três cidades enunciadas anteriormente... E ninguém investe aqui... Porque será? Apenas porque não há vontade, não há incentivos, ninguém se interessa pelo Interior. Os interesses de Lisboa estão muito à frente dos interesses de Portugal. É a "unidade nacional", ou melhor, o "centralismo patriótico" (já o Eça o dizia no século XIX...) em acção.

De facto, para quem está em Sintra, Cascais, Oeiras ou Lisboa é muito fácil falar. Falar em qualidade de vida, e, se for preciso, dizer que os lisboetas ainda deviam ter mais regalias. Mas Portugal não é isto. Portugal não é só Lisboa, não é só Porto, não é só litoral. Em Portugal vivem-se situações dramáticas de pobreza e desertificação. Situações escondidas, que as televisões e os jornais nacionais não mostram, nem têm interesse em mostrar. Temos de as ver com os nossos próprios olhos. E admito que em Lisboa ou no Porto seja difícil fazê-lo. Mas é a única solução para ver que este país está a caminhar para o descalabro, e que é preciso equilibrar a balança entre o litoral e o interior para que Portugal vá para a frente... E não é o municipalismo caciquista, nem a "solidariedade nacional" (boa pêta contada em 1998...), que vai equilibrar os pratos da balança. Se os Açores e a Madeira tivessem esperado pela "solidariedade nacional", actualmente seriam as Ilhas Desertas. Hoje, são casos de sucesso, a juntar a muitos por essa Europa e esse Mundo fora, que comprovam que a Regionalização é o presente e o futuro.

Afonso Miguel

Comentários

Anónimo disse…
Caro Afonso Miguel,

O mapa terá de ser o apresentado por A. Castanho.
Quanto ao resto, tudo em concordância.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Caro anónimo pró-7RA:

Não tenho conhecimento do mapa apresentado por A.Castanho, mas já agora gostaria que me informasse onde o poderia encontrar, ou então quais são as diferenças entre esse mapa e o aqui apresentado.

A realidade das províncias precisa de correcções. Se a única diferença a que se refere é a inclusão da zona do actual distrito de Viseu na Beira Interior, abordarei mais à frente esse assunto, quando tiver para isso disponibilidade, pois penso que a realidade desse distrito há muito deixou de ter a ver com a realidade da Beira Alta Raiana e da Beira Baixa, que juntas perfazem a Beira Interior.

A inclusão desta zona na Beira Interior seria muito difícil por dois motivos, e não seria benéfica, nem para o distrito de Viseu, nem para os da Guarda e de Castelo Branco:
Em primeiro lugar, não estou a ver Viseu, Mangualde, Tondela, e outros pólos urbanos consideráveis, a querer estar na Beira Interior, quando a sua realidade está muito mais em consonância com a da Beira Litoral.
Em segundo lugar, se tal se concretizasse, Viseu iria ter tendência a monopolizar a Beira Interior (o concelho e a cidade de Viseu, em termos de população, economia e influência política está ao nível de Leiria, Coimbra ou Aveiro), acabando com o princípio das regiões polinucleadas e homogéneas que tanto tenho aqui defendido.
Por último, os distritos da Guarda e Castelo Branco ofereceriam muita resistência à inclusão de Viseu na Beira Interior, já que ficariam numa posição inferior, e haveria uma tendência a perderem voz a nível regional e nacional.

A Beira Interior é uma coisa, Viseu é outra. Viseu aproxima-se muito mais de Aveiro, Coimbra, Leiria, Figueira da Foz, e das outras cidades médias do Litoral do que da Guarda, Castelo Branco ou Covilhã, tal como Mangualde, Tondela ou Santa Comba Dão se aproximam também mais das pequenas cidades do Litoral (Cantanhede, Mealhada, Ílhavo, etc.) do que das do Interior Beirão (Fundão, Pinhel, Sabugal, etc.). O mesmo acontece em relação às vilas e até em relação às aldeias. No eixo A25 nota-se isso muito bem: de Mangualde para o Litoral, vemos fábricas, investimentos, indústria, aldeias e vilas a crescer, todo o pulsar económico e social de uma região; de Fornos de Algodres para o Interior vemos abandono, estagnação, pouca indústria, agricultura pobre, poucos investimentos, envelhecimento, e pouca gente. Há aqui uma fronteira. É preciso delimitá-la.

Cumprimentos.
Anónimo disse…
Caro Afonso Miguel,

Não precisa de procurar mais, para além deste blogue e logo no "psot" clocado em primeiro lugar.
As províncias ou regiões históricas ou naturais jamais precisam de correcções; estão é ávidas de autonomia no quadro das 7 Regiões Autónomas.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
templario disse…
(Demasiada honra me concedem o Sr. António Felizes e o Sr. Afonso Miguel ao trazerem-me à "primeira página"... Não gosto do "anti-regionalista". Não sou "anti-nada". Sou contra isto ou aquilo por alguma razão que procuro sempre justificar, como o tenho feito neste blog e no meu modesto blog "camaradita.blogs.sapo.pt" no que se refere à regionalização).

Sr. Afonso Miguel,

Para os regionalistas os factores geográficos, políticos, históricos, etc. não contam: para eles nós vivemos ainda na pré-história, e o advento da História em Portugal só será alcançado quando dividirem o país e o poder entre si e a partir daí a História conta, e conta porque com a regionalização será irradicada a grande contradição que nos mantém na pobreza e na estagnação - eliminaram-se todos os tipos de alienações sociais... e outras. O critério, para eles, é o tamanho: se a Bélgica é mais pequenininha que Portugal e é uma confederação de duas, mais a região de Bruxelas, onde se falam 3 línguas, que se conflituam permanentemente e andam desde 2007 sem conseguirem chegar a acordo quanto a um governo estável e ameaçam ir cada uma para seu lado, se a Suiça também o é e está dividida em cantões, quatro línguas e é um país rico..., porque carga de água é que Portugal não pode seguir-lhes as peugadas e criar uma certa quantidade de Terreiros do Paço para assim terem naçõezinhas para governar... Imagine-se que até a Espanha, a Alemanha estão "regionalizadas"!!!! Quanto isto seria fácil! e os que estão contra como eu, ou são estúpidos ou estão a defender interesses próprios e dos maditos dos centralistas. Não, não! Estamos contra para defender todos os portugueses e a independência de Portugal, para defender a Pátria que nos foi legada pelos nossos antepassados que nunca quiseram a regionalização e fizeram a revolução de 1383/1385. Há alguma escrupulidão em certos regionalistas em usar estes termos, expressar estes sentimentos.

Ainda antes de ser Rei, já o jovem Afonso Henriques se viu obrigado a demarcar-se de alguns barões do norte, para levar por diante o objectivo da independência desta região da Península Ibérica, apoiando-se nos concelhos. É bom lembrar que durou mais de 1 000 anos (antes da nossa independência) o processo de "regionalização" autonómica e independentista da Península Iberica onde ainda hoje existem muitos "nacionalismos sem estado". Portugal chegou à independência há quase mil anos e nunca teve uma divisão por regiões na sua história nem é o produto de condensação de várias nações e Estados como o são a maior parte dos estados europeus, a exemplo da Espanha. Qualquer regionalização em Portugal só poderia ser o resultado de negociações entre partidos e outros interesses à margem do povo que nunca tal coisa exigiu, bem ao contrário.

Cito algumas opiniões:

"A Sul do rio Vouga encontramos o território de Coimbra que desde 1096 fazia parte juntamente com o antigo Condado de Portucale, de uma unidade mais vasta, mas que continuava a manter algumas das suas profundas diferenças. Nele encontramos alguns representantes da nobreza, mas sobretudo uma forte população moçarabe, tendo-se aí criado uma importante tradição concelhia. É neste território que eu chamaria anti-senhorial, que Afonso Henriques vai procurar refúgio a partir de 1131, para se opôr, ou pelo menos escapar, à influência dos barões do Norte" - Pedro Gomes Barbosa, Director do Instituto Alexandre Herculano, Depart. de Hist. da Faculdade de Letras da Univ. de Lisboa (em 1998).

"El apego al lugar, al municipio-unidad territorial mínima-, puede ser mucho más fuerte que todos los órdenes territoriales superiores. Quizá la explicación se deba a que el territorio municipal esta directamente vinculado a la vida cotidiana, al conocimento y uso diario de su espacio, por tanto es un territorio que cada uno de sus habitantes puede dominarlo. Esta cualidades no las poseen territorios de ordem superior, su dominio es más abstrato y pertenece al poder público instituido, cuyos mandatarios no se conecen diretamente. Sólo la confianza en las instituciones estatales y en los partidos políticos que detentan el poder de administralas puede garantizar un cierto sentido de pertencia y pertinencia". - Rosa Telo Robira, Depart. Geografia Humana da Faculdade de Geografia e História da Univ. de Barcelona (1998)

Sr. Afonso Miguel: desculpe, mas identidades regionais uma ova!
Sou natural de Tomar mas não vivo lá e nunca digo a ninguém que sou ribatejano, Ribatejo que começa aqui a 40 kilómetros de Lisboa... A minha terra é Tomar. Um Conimbricense não diz que é beirão, diz que é de Coimbra, mesmo que habite nos seus mais distantes termos. De uma forma geral é assim.

Diz o Dr. Carlos Alberto Medeiros, Vice-reitor da Univ. de Lisboa, Depart. de Geografia e Planeamento Regional e centro de Estudos Geográficos da Facul. Letras da Univ. de Lisboa (1998), acerca das nossas

"Identidades Regionais":

"Em contraste com esta diversidade e com fragilidades das identidades regionais, desde os começos da nacionalidade ganhou consistência a organização em municípios e concelhos. O sentimento que se gera a nível de muitos destes (e também de freguesias) leva a falar, com plena propriedade, em identidade por parte das suas populações, que assumem uma ligação muito forte a esses territórios. Mas isso verifica-se no «âmbito» de interesses locais e portanto não se trata verdadeiramente de identidades regionais".

"Em casos mais extremos ou mais significativos, identidades regionais bem vincadas estão relacionadas com formas de organização administrativa vigorosas e eficazes:mas estas nunca existiram em Portugal a nível de província ou região".. Os nossos historiadores, regra geral comungam desta opinião.

Os partidos portugueses que defendem a regionalização estão a mentir aos portugueses, a regionalização é para eles um "negócio", estão a usar de uma falsidade criminosa e só os legitima um equívo constitucional, pois os portugueses já a recusaram em referendo.

Sou incondicional defensor do papel dos partidos para defender a democracia. Mas os partidos vivem hoje em ILÍCITO FUNCIONAL que é preciso mudar.
. disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Caro templario:

Nada de novo trouxe à discussão. Sempre os argumentos frouxos do costume, as balelas históricas, sempre a mesma conversa de historiadores, do porque nunca existiu também nunca há-de existir.

Pois bem. Se em 1143 D. Afonso Henriques pensasse assim, Portugal nunca se teria tornado independente. Na verdade, as diferenças, na altura, entre Portugal e Leão eram poucas, muito poucas mesmo. Se no século XIV o Infante de Sagres pensasse assim, nunca passaríamos o cabo da Boa Esperança, nem chegaríamos à Índia, ao Brasil ou ao Japão. Afinal, nunca ninguém tinha passado do Cabo Bojador...

Se é história que quer, é história que tem. Não tenho disponibilidade profissional para, para já, escrever mais. Guardarei a resposta para o fim-de-semana.

Cumprimentos,

Afonso Miguel, Vilar Formoso (Beira Interior)
Anónimo disse…
Como de costume, apreciei o comentário de Afonso Miguel, embora discorde em alguns aspectos pontuais. Quanto ao comentador "templário", infelizmente há pessoas que produzem comentários sem terem o cuidado de ler, com atenção, o que outros escreveram. Depois, claro, sai asneira. Só assim é possível escrever que eu não devo conhecer bem Lisboa nem a vida dos seus assalariados; ora, se no meu comentário anterior eu afirmei que já vivi mais de 2 anos em Lisboa e que conheci lá centenas de pessoas de vários estratos culturais e sociais, que será que eu lá estive a fazer? Andava na rua e de transportes públicos de olhos fechados ou terei estado preso nalguma das cadeias da capital? Para se conhecer melhor uma cidade deve andar-se a pé e, eventualmente, devo conhecer certos aspectos e zonas melhor que muitos que lá moram (500.000 ou menos) pois o resto, como muitos que conheci iam a correr apanhar o barco (agora já têm o Metro) para a outra margem ou o comboio na estação do Rossio para irem para Queluz, Cacém, ...
Quanto ao interior, deve estar esquecido ou desatento. Sou do Porto e vivo no Porto,só que, ao contrário de muitos que nunca tiveram de sair da sua terra, também já aqui dei a conhecer que vivi um ano na Covilhã e sei o que me custava lá chegar, de caminho-de-ferro ou de carro. Também vivi 2 anos na Régua, passando a conhecer melhor Lamego e outras localidades próximas. Conheço bem e desde pequeno duas freguesias de Cinfães e Sobrado de Paiva (nome da vila e não Castelo de Paiva)onde passava as férias.Por razões de saúde ou lazer, conheço melhor ou pior Vouzela, S. Pedro do Sul, Viseu, Leiria, Alcobaça, Caldas da Rainha, Aveiro, Coimbra, ...e até já fui 2 vezes a Tomar e 8 vezes ao Festival de Gastronomia de Santarém. Daí para baixo, à excepção de Lisboa, conheço pior mas algo do Alentejo e Algarve.
Sendo assim e embora não viva no interior ainda no domingo de Páscoa passado estive em Seia, onde visitei o Museu do Pão apenas, já que e ao contrário de há uns anos e também nesse dia o Posto de Turismo e o Museu do Brinquedo estavam encerrados. Por tudo isto, conheço "in loco" muitas zonas de Portugal, ao contrário de outros que só conhecem Lisboa e arredores. Até já fui (há muitos anos) a Sintra e tive um colega que morava nas Mercês. Como vê, sempre conheço qualquer coisa. Por isso discordei da extinção de vias férreas (conhece as estações de Vouzela e S. Pedro do Sul ou já olhou para os restos das linhas extintas e não concordo com o que querem fazer à do Tua agora. Sabe quantas horas demora e demorava do Porto à Guarda ou à Covilhã de caminho-de-ferro? Sabe quantas horas demora o mesmo transporte do Porto a Viana, a Vila Nova de Cerveira, a Valença ou a Vigo e quantas composições diárias existem e a sua qualidade? Pois é, na verdade os transportes suburbanos em Lisboa andam cheios, mas são muitos, mais baratos que no Porto ( o Metro é um exemplo) e sempre a encomendar mais, como no Metro e se falássemos dos milhões já gastos ou previstos para novas estações, aonde iríamos?
Mas a parte melhor é o "êxito" na educação. Só por brincadeira ou completa ignorância do assunto. Esse sector é uma das maiores vergonhas e fracassos de sucessivos governos, desde o 25 de Abril. Massificar era necessário, mas enveredar por um facilitismo cada vez maior (e isto desde Roberto Carneiro e a "palhaçada" da P.G.A.), em que todos os alunos de uma turma passam, cheios de negativas, sem estudarem nem prestarem a mínima atenção nas aulas ( por acaso tem televisão ou lê jornais?), com uma ministra incompetente que queria que se um professor atribuísse (leia-se propusesse, pois há anos que deixaram de ser os professores a classificar os alunos, atribuição que passou para o Conselho de Turma)negativas aos alunos fosse penalizado na respectiva avaliação. Podia ser bom professor,mas, se propusese algumas negativas a sua classificação baixaria e não progrediria ou fá-lo-ia mais lentamente na sua carreira orofissional. Isto é chantagem e estupidez, seja quem tiver sido o autor da ideia. Sabia que, já há mais de 20 anos que, se um professor der mais de 50% de negativas é obrigado a justificar em acta e por escrito esse facto e, mais recentemente, os conselhos de turma têm que preencher e propor montanhas de papéis e "planos" disto e daquilo, quando a verdadeira causa está na indisciplina e falta de educação de muitos dos alunos, além da falta de estudo e atenção nas aulas? Resultado - cada vez mais alunos passam sem nada saber e contra a vontade de muitos professores e até dos próprios pais! Conheci milhares de professores e de alunos e ainda conheço muitos, por isso, lamento ter de lhe dizer que não fale do que desconhece, a não ser que tantos milhares de professores, membros ou não dos sindicatos que, por todo o País, têm contestado a política criminosa do actual governo também não conheçam a realidade e só não queiram ser avaliados como a sinistra propaganda ministerial quer que os portugueses acreditem. Gostava de deixar claro, como já tenho feito noutras ocasiões que aceito que haja leitores que não concordem com o que escrevo, mas custa-me que isso se deva, por vezes como neste caso, a uma leitura desatenta ou que procura desvirtuar, não sei porquê,o que eu escrevi. Antigamente, um aluno da 4.ª classe sabia ler e interpretar um texto, mas agora muitos alunos universitários e até licenciados primam pela ignorância e incapacidade de análise.São os "bons" resultados da política educativa que, pelos vistos, tanto aprecia.
Se me permite uma sugestão: passe, depois das notas do segundo período serem afixadas, por uma escola com 3.º ciclo e secundária perto de si e observe as notas.Acredita que sejam reais? Melhor ainda: no fim do ano vá ver quantos alunos passaram e quantas negativas tiveram. Acha que depois na vida real é assim, passarem todos ou quase, saibam ou não, estudem ou não?
Por essas e outras é que Portugal está como está!
Anónimo disse…
Caro Afonso Miguel,
Caro Templário,

Na parte relativa à regionalziação, as balelas históricas não tem lugar como parece insistir o nosso amigo Templário para justificar o centralismo político e a unidade nacional como se esta não se alicerçasse na convergência a partir da diversidade de cada Rgeião Autónoma (analisem bem o movimento de lobalização em curso).
É exactamente a configuração histórica, verificada há centenas de anos, da regionalização do nosso País que se justifica implementá-la, mas na versão autonómica, a partir das Províncias ou Regiões Históricas ou Nacionais.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
PMS disse…
"Deve referir-se às acessibilidades, problema dramático na área metropolitana de Lisboa"

Lisboa não tem qualquer problema de acessibilidades. O que tem é um excesso de concentração populacional, precisamente resultado do excessivo centralismo e concentracionismo.

"Este litoral continuará a ser polo de atração dos mais importantes investimentos."

Que seja, mas não à custa do interior. O seu discurso legitima o concentracionismo do investimento. Precisamente o que os regionalistas contestam, por ser injusto, injustificado, anti-democrático, e por, isso sim, estar a por em causa a unidade nacional.
PMS disse…
"Com essa visão das coisas está a ilibar os responsáveis das más políticas, os mesmos que estão prestes a criar um acordo para a regionalização (os partidos) para os tomarem e colocar lá os seus afeiçoadas, ensinados e assalariados. São os partidos que devem ser reformados. Mas aqui... ainda não sei como."

Muito simples, com regionalização. As regiões servirão de contra-poder. Como? Através do processo de conflito / concorrência entre elas (entre si) e entre elas e o Estado Central.

Quanto à questão da unidade nacional... é tipicamente centralista. Quem percorrer o país e estiver atento, rapidamente perceberá que o excesso de centralismo, desigualdade regional e distância ao poder estão a minar a coesão nacional. O pior cego é o que não quer ver.

Não nos interessa ter a regionalização "a mal", após a proliferação de grupos independentistas, como medida de contenção (muito eficaz em Espanha, aliás, onde o regionalismo cortou o grosso do apoio popular a independentismos). É que aí sim, as regiões terão na sua génese um espírito de independência. Interessa-nos ter regiões antes disso.

Porque, convenhamos, a presença na União Europeia está a mudar as lógicas gravitacionais ao nível regional. E Lisboa, com o seu concentracionismo, está a perder o magnetismo em relação a todo o interior (que se está a magnetizar a Espanha) e ao Norte (que se está a magnetizar à Galiza, que faz parte do seu territorio natural).

A regionalização permitiria enquadrar este processo de centrifugação numa lógica nacional, controlando-a e equilibrando-a. Seria um modelo de cooperação transfronteiriça com Espanha, mas com reforço simultâneo da união interna. O modelo actual é de abandono do território, drenagem para Lisboa e absorção por Espanha.

Falar de coesão nacional neste cenário é ridícula. Porque para haver coesão é preciso praticá-la. O modelo centralista é um modelo de drenagem/absorção. O modelo regionalista/descentralista é de coesão.