Contas regionais: Uma análise das assimetrias regionais em Portugal (I)




Na sequência dos muitos artigos, entrevistas, notícias, etc. que apareceram cá neste blogue, sempre me vinha à mente uma pergunta: Será possível demonstrar, à base de dados estatísticos, a necessidade da regionalização? A resposta é SIM. Com este artigo, inicia-se uma série encaminhada a fornecer ao leitor uma serie de elementos que possam servir de reflexão e análise sobre a realidade portuguesa relativamente às assimetrias regionais.

Os dados utilizados fazem parte dos estudos estatísticos do INE (Instituto Nacional de Estatística), pelo que não pode haver contestação para dados oficiais. Serão feitas. no entanto, as oportunas advertências metodológicas, de modo a esclarecer os pontos que eventualmente possam apresentar mais dificuldades. Não pretende ser um estudo exaustivo nem muito técnico, mas sim um artigo de divulgação, para que qualquer pessoa possa, sem dificuldades, obter uma compreensão global dos textos.

Um dos indicadores básicos para o estudo das assimetrias regionais é o PIB (Produto Interno Bruto). Para quem não tenha uma ideia clara, baste dizer que representa a soma em valores monetários de todos os bens e serviços produzidos por um territorio num período determinado. No nosso caso, vamos usar os registos do PIB de 2006, que são baseados nos últimos dados definitivos e dos quais temos todas as cifras. A nossa referência territorial vão ser as NUTS III, regiões estatísticas mais pequenas do que as regiões-padrão baseadas nas NUTS II que têm sido planteadas como regiões plano para uma eventual regionalização. O PIB per capita é o indicador que nos vai permitir estudar melhor essas assimetrias, já que reflicte o valor do PIB dividido entre a população de um território. Finalmente, o índice de disparidade regional é possível estudá-lo assignando ao PIB per capita de Portugal (NUTS I) um valor de 100, sendo que um território, neste caso uma região NUTS III será mais rico quanto mais acima de 100 se encontre, e será mais pobre quanto mais abaixo desse limite esteja.

Feitos estes esclarecimentos, passemos aos factos. A nível de NUTS II, em 2006 o as assimetrias regionais eram as seguintes:

PORTUGAL=100
Continente=99,6
Região Autónoma dos Açores=90,0
Região Autónoma da Madeira=127,7

O Continente, nas cinco regiões-plano, apresenta os seguintes valores:

Norte: 79,5
Centro: 84,5
Lisboa: 139,8
Alentejo: 94,7
Algarve: 105,6

Por tanto, dos dados apresentados, chega-se à conclusão de que de sete regiões apenas três superam a média nacional. Mas, para além de deixar muito claro o facto de que as regiões Norte e Centro são as menos desenvolvidas em termos de PIB per capita, tais dados escondem assimetrias regionais que só podem ser estudadas quando comparadas a nível de NUTS III.

(Continua)

Comentários

Usar as NUT II como fornecedoras de apoio de dados estatísticos à regionalização seria um erro. Como podemos ver, a análise dos dados das NUT II dá-nos a impressão (errada) que o país é mais ou menos homogéneo no que toca a PIB per capita.
Deste modo, penso que a ideia do Gaiato Alentejano (que bom vê-lo como editor do blogue; que bom ver mais uma região aqui representada) foi óptima, e que, não só vai conseguir, com a análise dos indicadores ao nível de NUT III, demonstrar a necessidade da regionalização, mas também demonstrar a premência de um mapa de 7 regiões, em vez de um mapa de 5.
Porque as estatísticas servem para isto, para que se não cometam erros.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Excelentes "posts" estes do Gaiato Alentejano, justificativos da premência de implementação da regionalização com suporte na 7 Regiões Autónomas.
Este "site" da regionalização fica honrado e valorizado com a entrada de mais um editor de uma das regiões que considero mais nobres e personalizadas de Portugal, sem qualquer favor.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)