Pela abertura de mais faculdades de medicina em Portugal


O Alentejo e Trás-os-Montes são as únicas regiões de Portugal Continental sem faculdade de medicina, e o Algarve tem apenas um reduzido número de vagas, num injustíssimo concurso para alunos já licenciados, com critérios de selecção, no mínimo, duvidosos.

Portugal precisa de médicos. Porém, em vez de se dar resposta às necessidades das populações (mesmo a classe médica não se opõe à abertura de novas vagas; opõe-se sim a estes injustos concursos para licenciados noutras áreas), dá-se apenas resposta a alguns interesses instalados. Resultado: ou não se abrem vagas, ou, quando se abrem, o ínfimo número de novos lugares situa-se no Porto, Coimbra ou Lisboa, onde a falta de médicos existe, mas não ainda a um nível que ponha em risco a prestação de cuidados de saúde às populações. Entretanto, no Alentejo e no Algarve vive-se uma situação de quase ruptura a nível de saúde, principalmente na região algarvia, onde o intenso fluxo turístico exige para além do aceitável aos fragilizados sistemas de saúde da região. No Alentejo e em Trás-os-Montes a situação é igualmente preocupante, já que os médicos espanhóis que durante muitos anos ajudaram a suprir a falta de pessoal médico estão agora a regressar a Espanha, onde a falta de profissionais também já se começa a fazer sentir. Na Beira Interior a situação não é melhor, embora a abertura do curso de medicina na Universidade da Beira Interior, e a proximidade da Universidade de Salamanca, onde estudam muitos portugueses, tenha ajudado a evitar a ruptura no sistema de saúde da região.

Mas não chega. São precisos mais médicos, mais sangue novo. Mais de metade do país, correspondente a 4 regiões, tem sistemas de saúde com enorme défice de profissionais. Face a uma hipotética ameaça real à saúde pública nestas regiões (por exemplo, com a pandemia de Gripe A), como poderemos garantir a segurança e a manutenção da saúde pública do nosso país quando não há médicos para o fazer?

Em Portugal, os nossos responsáveis políticos parecem continuar a ignorar que a saúde é a base de tudo. Como estamos a verificar com esta pandemia de Gripe A, a falta de saúde pública pode paralisar uma economia, um país, inviabilizando o desenvolvimento, e trazendo graves prejuízos para todos, não só em termos económicos, mas principalmente a nível pessoal e social. Como é possível descurar este aspecto em mais de metade do território nacional?

Enquanto se faz uma injustiça tão grande perante as populações e o país, há jovens que desesperam para poderem entrar num curso de medicina, preenchendo as poucas vagas existentes a nível nacional. Muitos emigram (e convém dizer que estamos a falar de alguns dos mais inteligentes e dotados jovens deste país), em mais um episódio da crónica fuga de cérebros que há décadas hipoteca o desenvolvimento intelectual, científico, económico e social do nosso país. Portanto, candidatos de valor, e com mérito, aos cursos de medicina, não faltam em Portugal. Não percebo o porquê de este país lhes defraudar as expectativas, empurrando-os para o estrangeiro, quando precisa tanto deles.

Abram-se mais vagas para medicina, em todas as faculdades existentes no país, mas particularmente na UBI, e criem-se, o mais depressa possível, cursos de medicina (com acesso pelo regime geral) na Universidade de Évora e na Universidade do Algarve. Só assim conseguiremos suprir as necessidades do nosso país, contendo custos (evitando a importação de profissionais), e evitando problemas mais graves que podem por em risco o próprio funcionamento de Portugal.

Afonso Miguel

Comentários

Anónimo disse…
Não está a favorecer a UBI.
Também inclui outras.