Os mitos do TGV. TGV e regionalização-II

(Continuação)

Mas os efeitos positivos são muitos e podem favorecer a regionalização. Vejamos o caso da região Alentejo:


No TGV Lisboa Madrid são previstas três estações em solo português: Lisboa, Évora e Elvas-Badajoz, já na estação transfronteiriça. A centralidade de Évora neste caso seria incontestável. O TGV mudaria completamente a face da cidade. Poder estar em Lisboa em 30 minutos é o miolo do assunto. Há um tempo saiu na DECO um artigo que situava Évora como a quarta melhor cidade para se viver. Com o TGV teria motivos acrescentados. Um trabalhador, usuário frequente com custos bem mais reduzidos que os preços praticados habitualmente, pode fixar a sua residência em Évora e trabalhar em Lisboa. Demoraria muito menos do que uma pessoa que se desloque a Lisboa de, por exemplo, a Linha de Sintra. Mas moraria numa cidade com qualidade de vida, tranquila, sem aglomerações, sem engarrafamentos intermináveis, com custos de habitação muito inferiores, numa cidade bem mais segura do que Lisboa e arredores. O caso de Ciudad Real em Espanha é paradigmático nisso. De uma cidade morta, passou a ser uma cidade mais movimentada, que beneficia dos salários mais elevados de Madrid, mas sem os inconvenientes desta. O caso de Évora pode ser o mesmo que o caso de cidades médias como Leiria, Aveiro ou Braga. Os espaços centrais (Lisboa, Porto) não perderiam o seu papel, mas as cidades médias veriam potenciadas as suas possibilidades de desenvolvimento. Já no caso de Elvas-Badajoz, temos de falar da plataforma logística e da linha Sines-Caia, que converteria este espaço como o grande receptor de mercadorias do SO europeu, fazendo de Sines o porto de saída da Extremadura espanhola.


O turismo seria outro valor em auge. Com boas promoções é relativamente fácil tirar as pessoas do carro. Com a linha Évora-Faro já construída, por exemplo, um casal pode chegar à cidade algarvia uma Sexta-feira em 1 h. 15 min. sem ter de se preocupar pelas portagens, o cansaço da viagem, o combustível e o desgaste natural do carro e ainda alugar um carro para um fim-de-semana por menos do que custariam as portagens, podendo voltar a casa comodamente um Domingo à tarde sem stress nem complicações no trânsito. Sem esquecer pessoas com menos recursos que, não podendo pagar um hotel, com uma boa promoção, talvez visitariam cidades numa visita rápida de um dia (Quantas pessoas conhecemos de Lisboa que não conhecem o Porto e vice-versa?) com as despesas inerentes (Quem não toma, por exemplo, um café? Ou um bolinho? Ou compra essa camisola que está em promoção?). Para não falar dos turistas que eventualmente possam vir da Galiza ou de Madrid e da Extremadura espanhola.


Estas observações foram feitas sem ter em conta outro factor importantíssimo: o TGV é muito menos poluente e mais ecológico do que o carro e o avião.


A questão que se coloca é: pretendemos continuar a ser um país extremamente conservador onde nunca acontece nada e, por isso, nunca acaba por desenvolver-se, ou pretendemos ser um país que perde o medo à modernidade, que não receia os avanços tecnológicos num mundo em que comunicações mais rápidas significam mais valias para esses territórios e, portanto, significam maior possibilidade de negócios?


A polémica TGV sim, TGV não no fundo é mais do que falar em comboios. É o confronto entre duas mentalidades completamente diferentes: o Portugal do passado e o Portugal que olha para o futuro com confiança, sabendo que das crises nascem novas oportunidades nas que triunfará aquele que estiver melhor preparado.


E vocês, o que é que escolhem?


Luís Seixas (Gaiato Alentejano)

Comentários

Anónimo disse…
o senhor esquece-se que portugal só tem 10 milhões de habitantes.

fala aí em ciudad real... pois mas madrid, a área metropolitana de madrid tem quase a população de portugal.

depois não se esqueça que a estação em évora ná no centro, penso que até fica bastante longe!

fala também em turismo, mas olhe que eu duvido muito que alguma família com dois filhos (típica em portugal) viagem com as mala de comboio! e claro isso é tudo bonito mas pense na quantidade de pessoas que iriam passar o fim de semana a faro! é que as coisas têm de ter pessoas para as pagarem!

e depois esse discurso do conservadorismo e do país parado cheira a....

olhe parado vai estar o TGV!
Paulo Rocha disse…
Mais um bom artigo sobre a problemática do TGV.
zangado disse…
Apresentado o TGV nesta perspectiva do autor, seria uma grande mudança e favorável. Porém, lamento dizê-lo, não acredito em muito do que escreveu. Não por sua culpa mas pelas notícias que temos tido até agora e perspectivam o futuro, sempre dominadas pelo centralismo lisboeta. Que para Lisboa e arredores, Sines, Évora, Elvas e para os espanhóis seja bom, não duvido. Agora para o Norte, por exemplo, Porto, Braga, Coimbra (?), Aveiro, Viseu, Guarda e muitas outras terras não acredito. Quem de nós vai dar uma grande volta a Lisboa e ao Alentejo e depois subir para ir a Madrid?
Fala numa linha Lisboa-Porto, a meu ver a única que poderá dar lucro, numa ligação a Vigo, há anos anunciada e sempre deixada para trás, numa linha Aveiro-Salamanca que seria o ideal para as pessoas do Norte mas que nunca vi interesse em ser sequer construída,de uma de Évora a Faro de que nunca ouvi referências (só Faro-Huelva) e, aspecto importante, das ligações entre diferentes comboios, para não se chegar a uma estação num e não haver ligações com outros. Falta destacar, só focou Évora, os horários e comodidade compatíveis com horários de trabalho, escolares e outros, para não acontecer como hoje em que, muitos milhares de jovens estudantes passam o dia na escola ou a passear e a arranjar vícios, só porque o táxi ou a camioneta que os vem buscar só chega ao fim da tarde.
De qualquer forma, gostei do que escreveu só que sou um pouco céptico, ou realista, em relação a população, nível de vida, origem dos capitais investidos e outros aspectos.
Numa nota final, penso que se a alta velocidade, como os Alfas Pendulares, fosse alargada a novas linhas previstas ou sonhadas para o TGV já não seria mau, seria bem mais barato e acabava a verdadeira vergonha de muitas linhas ferroviárias que temos e, com novas linhas, o transporte de mercadorias seria possível de ser aumentado e melhorado.
Cumprimentos