Consequências da litoralização: A desertificação da Beira Interior

Na Beira Interior, apenas os concelhos da Guarda e de Belmonte contrariam a tendência de perda de população registada em todos os outros, de acordo com dados do INE - Instituto Nacional de Estatística sobre a população nos municípios entre 1991 e 2008. O caso mais preocupante na região é o de Penamacor que regista uma quebra de 30,6 por cento, sendo mesmo o quarto concelho em todo o país que mais perdeu população durante este período.

Os dados foram analisados em dois períodos temporais, o primeiro entre 1991 e o ano 2000, e o segundo, mais longo, entre 1991 e 2008. No primeiro caso, a Guarda é o concelho com melhor registo, com uma subida de 12,1 por cento na população, ficando inclusivamente à frente das vizinhas capitais de distrito, Viseu e Castelo Branco, com 10,2 e 1,2, respectivamente. Belmonte foi o outro caso com registo positivo, com uma população superior de 1,1 por cento. De resto, todos os outros municípios apresentam registo negativo. Os “menos maus” são Covilhã (menos 0,3 por cento), Celorico da Beira (-1,4) e Fundão (-1,9). Seguem-se Vila Nova de Foz Côa (-5,4), Trancoso (-6,5), Aguiar da Beira (-8), Seia e Gouveia (ambos com -8,3) e Manteigas (-9,4). Acima dos 10 pontos percentuais negativos estão Fornos de Algodres (-10,9), Figueira de Castelo Rodrigo (-12,2), Sabugal (-12,9), Pinhel (-14,1), Mêda (-16,6), Almeida (-16,9) e Penamacor (-17,4).

Já entre 1991 e 2008, a Guarda continua a ser a cidade que mais população ganhou na Beira Interior, subindo inclusivamente para 14,7 por cento, embora tenha sido ultrapassada por Viseu que passou a ter 18,5 por cento. Belmonte também melhorou, passando a ter 4,3 por cento, enquanto que Castelo Branco passou a ter registo negativo com menos 0,6 por cento.

De resto, todos os outros concelhos analisados pioraram ainda mais a situação, sendo que Aguiar da Beira “apenas” passou de -8 por cento em 2000 para -8,3 o ano passado. Outras situações com um aumento pouco significativo são os casos do Fundão que registava -2,5 por cento, passando à frente da Covilhã que passou para -3,5. Já Celorico da Beira passou a ter -3,3 e Seia e Gouveia -11,6 e -11,9, respectivamente. Por seu turno, Trancoso registou uma descida menos acentuada passando de -6,5 para -9,9 por cento. A partir daqui, as diferenças negativas são ainda mais acentuadas. Vila Nova de Foz Côa, por exemplo, duplicou o seu registo, passando a deter -10,8. Também Manteigas quase duplicou, passando para -18,1 por cento, ao passo que Fornos de Algodres chegou aos -16,5 e Figueira de Castelo Rodrigo aos -19,1. Para cima dos 20 pontos negativos passaram Sabugal (-21,7), Pinhel (-22,5) e Mêda (-23,1). Pior ainda, a fechar o “top 5” do país estão Almeida (-30,3) e Penamacor (-30,6), só superados por Gavião, Alcoutim (ambos com -31,8) e Sardoal (-57,2). Em oposição, surge Sesimbra, com 92,6 por cento.

in O Interior, 15/10/2009

Comentários

Quando será que este drama vai parar? Quando é que o País desperta para este desastre nacional galopante que é a desertificação do Interior? Esperemos que rapidamente, está-se a tornar tarde demais...
Paulo Rocha disse…
Parece-me evidente que a Guarda cresceu, basicamente, à custa dos municípios vizinhos.

Infelizmente para o interior do país, este crescimento da Guarda está muito longe de corresponder à totalidade das perdas dos outros municípios da Beira Interior.
ⓡⓞⓣⓘⓥ disse…
Tenho muitos amigos a residir na Guarda que são das vilas e aldeias do distrito.
Manteigas perdeu, Guarda ganhou!
Devemos olhar para Belmonte como um exemplo a seguir.
Abraços