Lisboa-Madrid: o TGV ao serviço do centralismo português e espanhol

De acordo com uma directiva europeia, temos na Alta Velocidade duas categorias: Categoria I - Velocidades iguais ou superiores a 250 km/h (TGV em francês e AVE em castelhano); Categoria II - Até 200 km/h. Chamei-lhe nestas colunas Velocidade Alta (VA).

Para distâncias até 350 km, chegaria perfeitamente a Cat. II. Para as grandes distâncias, impõe-se obviamente a Cat. I. Assim sendo, entre Lisboa e Porto haverá passageiros mas não há distância para o TGV. Entre Lisboa e Madrid haverá distância mas duvida-se que haja tráfego para o TGV.

Os espanhóis aprenderam a lição de Madrid-Sevilha e vão aplicá-la nos troços Madrid-Barcelona e Madrid-Badajoz. As linhas só são viabilizadas através de paragens em cidades intermédias e, ao fazê-lo, puxam pela economia dessas regiões, colocando-as mais perto de Madrid. Assim, na estratégia espanhola (que aceitámos nos governos PSD/PP), ao fazermos o troço Badajoz-Lisboa, a capital portuguesa será equiparada a Sevilha e a Barcelona no beija-mão a Madrid...

Mas a grande questão para a nossa competitividade não é a velocidade dos passageiros mas a bitola europeia das nossas linhas para o transporte de mercadorias, por forma a que possamos, por via ferroviária, exportar e importar da Europa. Isso é que diminuirá os nossos custos de transacção.

Temos então que fazer linhas mistas em bitola europeia de passageiros e de mercadorias, com estas a circularem entre 100 e 150 km/h. Como é fácil perceber, a gestão das linhas mistas é tanto mais fácil quanto menor for a diferença de velocidade entre os comboios de passageiros e de mercadorias, o que nos levaria a privilegiar a Cat. II.

Acontece ainda que a ligação Lisboa-Madrid não é a mais adequada para colocar as nossas mercadorias na Europa. Para nós, seria mais directo Aveiro-Vilar Formoso-Irun.

Também crucial para a competitividade do porto de Sines será a ligação por ferrovia em bitola europeia ao interland espanhol e à Europa desse porto de águas profundas vocacionado para o transhipment.


Luís Mira Amaral

Professor de Economia e Gestão - IST

Texto publicado na edição do Expresso de 9 de Outubro de 2009

Comentários

hfrsantos disse…
Portugal so precisa de refazer as vias de comboio internacional para nos retirar do isolamento atual.
Os comboios de Alta Velocidade ja chegam a fronteira do Algarve, dentro de pouco tempo a fronteira do Alentejo e mais tarde a Fronteira do Norte.
Portugal so tem que refazer as suas vias ferreas para permitir que esses comboios caros e rapidos possam circular em Portugal.
Nao precisamos de fazer linhas para circular a 300 nem a 400km/h. O percuso dos comboios de alta Velocidade é de uns poucos kilometros ate chegar a Faro, Porto e Lisboa, pelo que o comboio em Portugal entrara ja praticamente a TRAVAR, nao se esqueçam que isto é pequeno e o comboio circula muito rapido.
Faro a fronteira sao 60km de terreno plano.
Porto a fronteira sao 100km.
Badajoz a Evora sao 100km e de Evora a Lisboa mais 100km,pelo que o comboio praticamente andara sempre a velocidade inferior a maxima em Portugal porque nao ha espaço.
Portugal nao precisa de umas vias ferreas excelentes, so umas vias ferreas que permitam no minimo que o comboio possa entrar e sair do Pais pois a maior parte da viagem sera feita no estrangeiro e é no estrangeiro que as vias ferreas teem que ser excelentes pois é no estrangeiro que o comboio vai andar a velocidade maxima.
Mas mais tarde ou mais cedo os nossos politicos vao compreender que em Portugal eletrificar refazer a linha entre Lisboa e a fronteira, entre Faro e a fronteira e entre o Porto e a fronteira permitindo velocidades de 150 a 200km/h chega e sobra para o que os comboios de Alta Velocidade virao fazer a Portugal.é no no percurso efetuado em Espanha e França que as vias teem que ser perfeitas porque é em Espanha e França que estao a maioria dos km a percorrer pelos portugueses que querem ir de Portugal para o coraçao da Europa.