O que o Norte tem e o que perdeu...

Nada é eterno. Uma região é uma entidade autónoma, dinâmica e em constante mutação para o melhor e para o pior. Se a regra é a evolução, há casos em que as mudanças nem sempre são para o melhor. No Norte, há imagens de marca que se mantêm e se apuram, mas outras há que apesar do seu potencial e mais-valia foram perdidas. Perdidas para outro local, ou perdidas de vez.

- Tecido Fabril
Na década de 80, surgiram às dezenas as fábricas de têxteis e de calçado no Vale do Ave e no Vale de Sousa. Apostando numa mão de obra intensiva, com pouca qualificação e preços baixos, rapidamente atingiram o apogeu com as exportações e tornaram-se numa das imagens de marca da região. Nos anos 90, usufruíram de inúmeros subsísidos comunitários para a sua modernização e modificação do tipo de produção.

O resultado não foi o esperado. Pouco a pouco, os preços de produção que outrora eram baixos tornaram-se altos para um mercado global que acabara de descobrir o Oriente. Hoje, as poucas fábricas que ainda existem lutam pela sobrevivência e contam-se pelos dedos das mãos aquelas que não passam dificuldades.

- Bancos
Com a reprivatização da banca, após as nacionalizações do 25 de Abril, foi no Norte e no Porto que, novamente, surgiram algumas das principais instituições financeiras de Portugal. O Banco Borges e Irmão e o Banco Português do Atlântico são dois exemplos históricos que marcaram a segunda metade do século XX.

Hoje, após sucessivas aquisições e fusões restam dois grandes grupos: o Millenium BCP e o BPI. Apesar de ambos ainda manterem as suas sedes no Porto, cada vez mais deslocam os seus centros de poder e de decisão para a capital.

- O Comércio e o Janeiro
Fechou as portas aos 151 anos de idade o histórico jornal que, desde a sua fundação, tinha sido a voz da cidade que lhe emprestara o nome. Fundado em 1854, pelas suas páginas passaram textos de Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, Carolina Michaelis, Bordalo Pinheiro, José Malhoa ou Alfredo Keil.

Teve o seu momento mais alto nos períodos conturbados do pós 25 de Abril de 1974 atingindo tiragens superiores a 120 mil exemplares diários. Nos anos 90 foi perdendo progressivamente leitores e, a 30 de Julho de 2005, O Comércio do Porto foi para as bancas pela última vez.

Ainda não extinto, mas muito longe do que já foi, sobrevive o Primeiro de Janeiro, um matutino portuense que já foi de referência nacional, mas que vive tempos conturbados.

- AEP
Apontada como o exemplo do dinamismo e capacidade empreendedora das gentes do Norte, a Associação Empresarial de Portugal (AEP) é a maior associação nacional do género com centenas de membros. Fundada em 1849, sempre teve a sua sede no Porto, mas não a terá por muito mais tempo. Em Outubro passado, concretizou-se a fusão da AEP com a Associação Industrial Portuguesa, passando a nova associação a intitular-se Confederação Empresarial de Portugal e que irá ter sede em Lisboa.

- Bovista FC e SC Salgueiros
O futebol, um dos pontos fortes da região, também não atravessa tempos felizes. O Boavista FC passou do céu ao inferno em menos de um década. O campeão nacional de futebol na época 2000/01, milita, agora na II Divisão B e, por causa de dificuldades financeiras, a queda não dá sinais de abrandar e até já se fala em fechar as portas.

Quem já fechou as portas do futebol sénior, em 2004, foi o Salgueiros. Todavia, em 2008/09, qual Fénix renascida das cinzas, surge, já sem estádio, o Salgueiros 08. No seu ano de estreia no escalão mais baixo das competições distritais do Porto, o típico clube de Paranhos terminou a sua série no primeiro lugar e subiu à 1ª Divisão Distrital, o que já deixou os seus adeptos a sonhar com voos mais altos.

- Bolsa de Derivados
Em 1996, o mercado bolsista nacional vibrou com a criação da Bolsa de Derivados do Porto, a primeira a introduzir em Portugal a negociação de contratos de futuros. No ano de 2000, a A Bolsa de Valores de Lisboa e Bolsa de Derivados do Porto fundem-se e é criada uma nova sociedade anónima denominada Bolsa de Valores de Lisboa e Porto (BLVP).

Apenas dois anos decorridos, entra em cena a Euronext N. V. que se funde com a BVLP, dando origem à actual Euronext Lisbon. No final de 2002, são inauguradas as instalações oficiais da Euronext Lisbon na Praça Duque de Saldanha, em Lisboa.

- Ensino e Investigação
As Universidades do Norte dão cartas a nível nacional e internacional. Desde logo, temos a Universidade do Porto, a maior do país e com reconhecimentos de mérito além-fronteiras, destacando-se as inovações atingidas no campo das Engenharias.

A esta instituição ainda podemos adicionar as Universidades do Minho e de Aveiro que, embora menores em tamanho, não ficam atrás nas áreas da investigação e pesquisa. Realce ainda para o Laboratório de Nanotecnologia de Braga que se encontra na vanguarda daquele ramo de investigação.

- Empresas Fortes
Só os mais fortes sobrevivem. No Norte ainda há muitas empresas que sobrevivem e que dominam os mercados. Seria exaustivo enunciá-las a todas, mas não se pode deixar de fazer referência ao Grupo Sonae, ao Grupo Amorim,à EFACEC, à Lactogal ou à Bial, entre muitas outras, que têm mostrado que o tecido empresarial do Norte não se restringe às pequenas e médias empresas.

- F. C. Porto
Referência incontornável, o F.C. Porto leva o nome da cidade a todo o Mundo. O grande dominador do futebol nacional das duas últimas décadas, conquistou ainda, graças à raça que o caracteriza, várias troféus internacionais.

Em clara desvantagem no que concerne aos recursos financeiros, o clube ombreia lado-a-lado com os gigantes do futebol europeu. Um bom exemplo de que raça e determinação são tão ou ainda mais fulcrais que o dinheiro para atingir um determinado objectivo.

Serralves
A Fundação e em especial o Museu de Serralves são bons exemplos de que a Cultura não precisa de subsídios estatais para sobreviver. Precisa é de ter qualidade. Com o número de visitantes a bater recordes a cada ano que passa, Serralves marca a diferença num país onde a cultura ainda é secundária. Milhares e milhares de visitantes mostram que as ideias preconcebidas do estereótipo do homem do Norte, sem cultura, e de que só na capital é que se aprecia a arte não podiam estar mais londe da realidade.

- Sá Carneiro e Leixões
O aeroporto Sá Carneiro foi considerado como o melhor do mundo na categoria de até cinco milhões de viajantes anuais. Não foi por acaso que a companhia low-cost Ryan Air o escolheu para ser uma das suas bases de operações. Com legítimas ambições de ser o líder no noroeste peninsular, o futuro permanece incerto com a possível privatização da ANA para financiar o novo aeroporto de Lisboa.

Recentemente, as vozes do Norte reclamaram mais autonomia para o Sá Carneiro, com medo que a necessidade de rentabilizar o novo aeroporto corte as suas pernas.

Também o Porto Marítimo de Leixões é uma das mais-valias para a indústria no Norte e um dos pontos nevrálgicos para o escoamento dos seus produtos. Sofreu recentemente obras de remodelação que permitem o acesso a mais navios e de maiores dimensões. O novo terminal de cruzeiros de Leixões estará concretizado em 2011 e irá colocar a cidade na rota turística marítima mundial.

- Douro e Vinho do Porto
Um vale e um vinho únicos no mundo. Dotado de uma beleza sem igual, é no Vale do Douro que nasce o produto mais típico do Norte e de Portugal, que há séculos seduz os paladares mais selectos e que, ainda, hoje, é uma das nossas mais conhecidas e valorizadas iguarias. Recentemente, tem-se visto uma renovada aposta no Vale do Douro como um destino turístico de excepção, aproveitando as várias potencialidades e meios de transporte da região: o vinho, os barcos e o comboio.

- Turismo e Air Race
Com o aumento dos voos low-cost, a cidade do Porto tem vindo a acolher um número crescente de turistas de curta estadia. Basta passear pela cidade, a qualquer altura do ano, para se sentir o cosmopolitismo crescente que as dezenas de jovens turistas trazem à Invicta.

Uma mais-valia que poderá não regressar à cidade é a Red Bull Air Race que, este ano, trouxe um milhão de pessoas às margens do rio Douro durante um fim-de-semana, transformando-se no maior evento desportivo em Portugal. Ainda não há confirmação para a edição de 2010.

|JN|

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

O único sentimento com que deparo sempre que se fala na "influência ou poder do Norte", na versão de prdido, é o de fastio.
Apesar de ser natural da futura Região Autónoma de Entre Douro e Minho (Vila Nova de Gaia, a Gaia original fica perto da Guarda), não consigo compreender esta fobia pela perda de influência política do chamado Norte quando o que está em causa é o DESENVOLVIMENTO do nosso País como um todo e de cada Região Autónoma (7), em particular.
Por isso, todo o discurso político actual não passa de coisas políticas vulgares assentes no "copy/past" dos programas político-partidárias sem imaginação, sem inovação e sem protagonistas políticos capazes de pensar de forma estratégiaca e não conjuntural.
Até os principais comentadores políticos da nossa praça são incapazes de formular novas abordagens de exercer a política e de propor a intervenção de novos e melhores protagonistas políticos. Acresce ainda o facto de órgãos da comunicação social de circulação nacional, se converterem em órgãos de intervenção regional como se com isso pretendessem mesmo proteger os interesses da região onde os editam e o pior é que estão memso disso convencidos, pretsando um papel inteiramente nagativo âs cuasas do desenvolvimento e da eliminação das assimetrias regionais através da defesa de novas condições de concentração das decisões políticas.
Estes comportamentos antes descritos, a diversos níveis, relevam somente a mesquinhez de pensamento e de intervenção política e informativa na sociedade portuguesa, detonadores de uma capacidade de conservação de benefícios restrictos e concentadores em meia dúzia de organizações, empresariais ou não, e das mesmas individualidades integradas nos "suspeitos do costume".
Ninguém está interessado em inovar e modificar qualitativamente as nossas condições particip+ação e integração numa sociedade em desenvolvimento, assim como toda a gente está interessada em conhecer mais em conhecer os protagonitas do próximo processo judicial mediático, menos em saber do que são acusados e muito menos em conhecer as condições concretas e os figurões (que os há) responsáveis pela violação do segredo de justiça o qual, à luz do nosso sistema jurídico, é considerado CRIME punível com pena efectiva de prisão.
Os presumíveis arguidos daqueles processos poderão vir a ser acusados e condenados, os violadores do segredo de justiça nunca foram identificados nem apanhados, em flagrante delito ou fora dele.
Será que o espectro criminoso, no nosso País, é muito mais alargado do que se pensa? Responda quem souber.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Paulo Rocha disse…
Interessante esta abordagem do Anónimo pro-7RA.
Anónimo disse…
O que o norte perdeu? Mas que isso de norte? Este artigo só fala do Porto!!
duar disse…
Fai falha unha grande aliança Galiza-norte. juntos venceremos.saudaçoes