As aldeias "fantasma"

Santo André, Roca e Quintas do Souto, são aldeias que já tiveram gente, onde houve alegria e tristeza, onde se viveu e morreu. Agora são locais despovoados, onde só restam as memórias do passado. Estas localidades existem em Trás-os-Montes, distrito de Bragança, no concelho de Mogadouro, mas também no resto da região e no distrito. São totalmente fantasmas.
Não há gente a circular, não há cães a ladrar ou gatos a apanhar sol nos telhados, não se ouve o riso das crianças, as ruas estão cobertas de erva. Apesar dos vestígios que restam são do passado. As casas estão abandonadas e em lugar de portas há tijolos para evitar a profanação daquilo que em tempos foi um lar. Noutras aldeias, alguns teimam em ficar, mas não será por muito mais tempo. Em Falgueiras, Carrazeda de Ansiães, só já restam duas pessoas, os outros partiram todos à procura de melhores lugares, noutros casos a morte foi ceifando vidas ao sabor da idade ou das circunstâncias. Nestes sítios o despovoamento é real.

A recuperação de aldeias abandonadas esteve em debate em Salselas, Macedo de Cavaleiros, pela mão da Associação Aldeias, nas Primeiras Jornadas Ibéricas de Recuperação de Aldeias Abandonadas. O objectivo principal foi reunir técnicos e pessoas com experiência prática, em Portugal e em Espanha, para acumular conhecimentos que sirvam de ponto de partida para futuros projectos e iniciativas. Ricardo Brandão, responsável por aquela associação, garante que Trás-os-Montes tem “um grande potencial”, integrando a componente da natureza com a componente humana, juntando todo o património e legado cultural que sobreviveu.

Os casos mais paradigmáticos são os do eixo Santo André, Quinta da Roca e Quinta do Souto, em Mogadouro. Os últimos habitantes partiram no final da década de 90. “É o núcleo mais interessante e um dos que merecia ser trabalhado, com apoio da autarquia, que sabemos também tem interesse nisso” explicou Ricardo Brandão. Faltam apoios para avançar.

O responsável da Associação Aldeia acredita que são processos paralelos e que, os modelos de recuperação devem ser aplicados para dinamizar zonas de abandono potencial. Neste processo é importante manter as pessoas e ter em conta que há pessoas que querem regressar aos meios rurais, para criar ali os seus espaços de trabalho e de vida. Para manter ou levar pessoas é fundamental que as aldeias estejam vivas, “não é interessante ter apenas aldeias museu e aldeias para férias e para turismo é importante dinamizar outras actividades, como a agriculta e a cultura” afirmou. As autarquias procuram a associação para conseguir técnicos e gente que possa apoiar em eventuais recuperações.

Em Trás-os-Montes está tudo no início, não há sequer um levantamento global das aldeias abandonadas. Em Drave (Arouca), uma aldeia que esteve quase abandonada está em execução um projecto de recuperação que já possibilitou intervenções em oito habitações. O projecto teve o seu embrião em 1992, com a instalação de uma base escutista na localidade, que deu inicio às recuperações.

Na zona Centro, nos concelhos do Pinhal Interior, está em marcha o Programa de Recuperação de Aldeias do Xisto, que envolve 23 aldeias e perto de 10 milhões de euros de investimento. Estão a ser realizadas intervenções em 13 concelhos, ao nível das infra-estruturas, espaços públicos, imóveis públicos e privados de localidades como Fajão (Pampilhosa da Serra), Cerdeira (Lousã), Gondramaz (Miranda do Corvo), Álvaro (Oleiros), entre outras.
Até à data foram intervencionadas perto de 500 imóveis e em mais de 50% das casas que sofreram obras nas fachadas, as abrangidas pelo projecto, os proprietários acabaram por realizar obras no interior.

A perda de população é significativa no concelho de Macedo de Cavaleiros, mas não ao ponto de aproximar este e outras aldeias pequenas do concelho, do despovoamento e do abandono. “Não há nenhuma aldeia em risco de ficar abandonada” atesta Beraldino Pinto, e de suceder o mesmo que aconteceu em Barreses, uma localidade naquele concelho, que ficou completamente despovoada há algumas décadas. No resto das aldeias têm-se verificado perdas de população assinaláveis, contudo há casos de aldeias que conseguem reter a sua população e está a verificar-se uma certa revitalização no parque habitacional. A Câmara de Macedo está a tentar criar condições para que a vida nas aldeias possa ter qualidade, e a tentar cativar gente para que tenham uma segunda habitação nas aldeias, em vez de comprarem apartamentos no litoral.

Escrito por Glória Lopes
in O Informativo (Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro)
25 Setembro 2006

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalsitas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Já respondi no "post" seguinte.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
olá!

como se chama a aldeia na foto?