A DIVERSIDADE TERRITORIAL EM PORTUGAL: DESAFIOS AO DESENVOLVIMENTO DO INTERIOR

O território português é caracterizado enormemente por disparidades em termos da sua dimensão geográfica bem como pela desigualdade em termos de competitividade.

Em Portugal, a estrutura urbana do interior, embora com uma dimensão territorial maior, apresenta um nível de competitividade muito pouco significativo comparativamente com o litoral.

É verdade, que a concepção de território urbano, nos dias de hoje, ultrapassa os planos meramente demográficos e funcionais. Os aspectos relacionais assumem uma maior importância na avaliação de uma cidade do que os aspectos meramente quantitativos, na medida em que, uma cidade média, bem organizada, que faz um bom aproveitamento das suas complementaridades territoriais e com uma boa rede de relações e mobilidades com outras cidades e os territórios vizinhos, pode ser mais eficiente e proporcionar um melhor nível de vida às suas populações do que uma cidade grande, mal organizada e congestionada (Capello, 1998).

No entanto, a maior parte da actividade económica em Portugal encontra-se no litoral, cujos centros são vistos como sendo “centro de todas as oportunidades”, onde se concentram aspectos importantes relacionados com a inovação, serviços, mercado de trabalho, diversidade e atractividade.

O facto de existir centros populacionais, administrativos, financeiros e económicos, leva a que as populações que não se encontram nestes locais, se tendam a deslocar para eles. O fluxo migratório do interior do país, em busca de melhores condições de empregabilidade no litoral, e no estrangeiro, criaram condições para a sua progressiva desertificação.

Os centros urbanos do litoral estão cada vez mais congestionados, em detrimento de um interior cada vez mais desertificado, com potencialidades subaproveitadas, caracterizado essencialmente pelo desemprego, pouco desenvolvimento e muita pobreza.

Para combater esse problema é necessário formular estratégias que tornem competitivas as cidades do interior do país, o que significa que é necessário saber como identificar as vantagens competitivas que devem ser asseguradas por estas cidades.

É também indispensável uma maior descentralização para os níveis regional e local como forma de resposta às exigências das populações, reforçar o papel das cidades e formar arranjos territoriais fisicamente descontínuos que, estrategicamente utilizada, pode levar à melhoria da competitividade externa das cidades, acrescentando valor ao espaço, tornando-o mais competitivo no contexto das suas relações com os outros, melhorando a qualidade de vida das suas populações e o seu valor de mercado.

É também necessário, cada vez mais, a promoção da igualdade de oportunidades e a modernização dos diferentes espaços de forma a captar novos investimentos, que resulta num aumento do nível de emprego, bem como apoiar os sectores económicos que nas diferentes regiões, poderão estimular o desenvolvimento dessas cidades.

Não se procura com este artigo afirmar que é possível que as cidades do interior possam vir a desenvolver tanto quanto as do litoral, uma vez que associado ao desenvolvimento do litoral também estão associados outras condições que não dependem tão-somente de decisões humanas, (condições climatéricas, por ex.) mas sim ressaltar para a necessidade de aproveitar as capacidades e as características que as diferenciam positivamente do litoral através de uma estratégia que fortaleça o aproveitamento económico dessas particularidades e aumentar o seu nível de competitividade.

Em síntese, creio que para colmatar as assimetrias e fazer face ao fluxo migratório do interior para o litoral, é necessário uma política de ordenamento do território eficaz, uma aposta nas condições de mobilidade, nas redes de transportes e de comunicações rápidas e eficazes, criação instituições de formação e investigação, criação de condições para a fixação de empresas de serviços qualificados, e um ambiente cultural e social de qualidade incluindo instalações culturais, desportivas, de recreio e animação. Repare que estas apostas permitiriam não só cativar as pessoas e as empresas para o interior, como permitiria uma melhoria significativa na qualificação dos grandes centros urbanos.

HÉRICA CELIZA GOMES TAVARES
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular Desenvolvimento e Competitividade do Território, do Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas, da EEG/UMinho)

|J. Cadima Ribeiro|

Comentários

Paulo Rocha disse…
Artigo com algum interesse mas que, nem de longe, toca no cerne da questão.
Anónimo disse…
Editorial: O regabofe lisboeta

Autor : Manuel Queiroz - Director E-mail : manuel.queiroz@grandeportoonline.pt Data : 29-01-2010 - 12:00



Duas notícias de ontem: o PIDDAC 2010 para o Porto é um sexto do que se prevê gastar em Lisboa e o Benfica recebeu 65 milhões de euros para construir o Estádio da Luz através da Câmara de Lisboa, segundo a investigação da PJ sob a direcção da unidade especial do Ministério Público criada para investigar o Apito Dourado.

Todos sabemos que o Euro 2004 deu direito a muitas festas, antes, durante e depois do evento. Mas 65 milhões de euros é metade do que custou o Estádio do Dragão - e esses 65 milhões não incluem o que o Estado dava como comparticipação normal, digamos assim. E como um dos passatempos favoritos de alguns colegas meus de Lisboa e de alguma classe política era falar das verbas que Fernando Gomes - enquanto presidente da Câmara do Porto - deu ao maior clube da cidade, fica aqui claro que contas se fazem. Até porque não me esqueço de que, uns anos antes, Jorge Sampaio, então presidente da Câmara de Lisboa e futuro presidente da República, quando assinava mais um protocolo com um (ou os dois) clubes de Lisboa, dizia que não se podia continuar assim, a dar dinheiro aos clubes, e terrenos e bombas de gasolina... Continuou-se, claro, até porque o presidente do Benfica Manuel Vilarinho chegou a apoiar Durão Barroso e o PSD nas eleições de Março de 2002, como bem se sabe, num acto aliás lamentável. Não há almoços grátis, claro, mas tão caros... Não haverá petróleo em Lisboa, mas há seguramente outras coisas que não há no resto do país - um regabofe que deixa o povo muito irritado. As irregularidades detectadas são mais do que muitas em todos aqueles contratos e já não estamos a falar dos tempos de Vale e Azevedo, que também deu jeito para deitar para baixo do tapete muita porcaria.
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