Entre-Douro e Minho, campeão do desemprego

Os números não mentem. No último trimestre de 2009, a taxa de desemprego no nosso país atingiu um máximo histórico: 10,1%. 35 concelhos ultrapassam os 15% de desemprego, e quatro chegam mesmo a superar a barreira dos 20%.

Mas, se esta taxa altíssima é uma péssima notícia para o país, é igualmente importante analisar o mapa do desemprego. E, nestes termos, o panorama não podia ser mais elucidativo: existem em Portugal enormes discrepâncias regionais no que toca ao desemprego.

Dos 10 concelhos com maior taxa de desemprego em Portugal Continental, 9 situam-se numa única região: Entre-Douro e Minho. O único dos dez primeiros que se situa fora desta região está "para lá do Marão": trata-se do município de Mesão Frio, em Trás-os-Montes e Alto Douro, que, com uma taxa de 25,8% de desemprego, é o líder nacional desta tabela.

Os restantes municípios dos dez primeiros situam-se em zonas com diferentes realidades, onde a presente crise internacional se vem juntar a outra, esta já de longa data, marcada pela estagnação do investimento, do fecho de indústrias e da emigração: Baião, Resende, Castelo de Paiva, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Vieira do Minho e Terras de Bouro são locais há muito flagelados pelo drama do desemprego e da crise económica e social. Hoje, vivem-se nestes municípios dias ainda mais difíceis, e o mais grave é que, encobertos pelo carácter "nacional" da crise, estes casos não têm o devido destaque, estando longe dos meios de comunicação social, que tanto teimam em resistir a mostrar o país real.

O mais surpreendente, ou talvez não, à cabeça desta lista é que se constata que o desemprego afecta também em força a Área Metropolitana do Porto: o concelho de Santo Tirso, ainda não recuperado da crise das últimas décadas no Vale do Ave, surge-nos na 9ª posição com 18,5% de taxa de desemprego, mas o caso mais grave, que pasma até os especialistas no assunto, é o de Espinho, que chega à 3ª posição, com 22,8%.

Os municípios mais industrializados do Interior surgem também em força nesta alta do desemprego: no Alentejo, o caso mais grave é o de Ponte de Sôr, com 18,0%, certamente agravado após os despedimentos na unidade da Delphi. Igualmente com 18,0%, aparece-nos, desta feita em Trás-os-Montes e Alto Douro, Torre de Moncorvo, que se junta assim ao caso já referido de Mesão Frio.

Na Beira Interior, é Manteigas quem toma a liderança, com 14,9% da população activa no desemprego. Na Beira Litoral, é a zona de Viseu que mais sofre com o desemprego, aparecendo Vila Nova de Paiva à cabeça, com 16,4%.

No Algarve, a crise também se fez sentir fortemente, e nalguns dos maiores concelhos da região: Portimão (17,9%) e Albufeira (16,9%) são disso exemplo.
Na Estremadura e Ribatejo, o pior caso é o de Salvaterra de Magos (16,7%).

Quanto às cidades médias, centros urbanos de importância regional, para além dos casos já referidos, nomeadamente no Algarve, destacam-se as situações de Lamego, Covilhã, Mirandela, Elvas, Chaves, Vila Real e Bragança, com taxas superiores a 13%. Nestes casos, nota-se uma enorme incidência do desemprego nas cidades do Interior, nomeadamente de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde se concentra grande parte da população destas regiões.

Entre as Áreas Metropolitanas, nota-se uma enorme discrepância. Enquanto a Área Metropolitana do Porto tem vários concelhos com elevadas taxas de desemprego, o concelho com maior taxa de desemprego da Área Metropolitana de Lisboa apenas aparece por volta da 80ª posição.

Na zona da Invicta, destacam-se, para além de Espinho e Santo Tirso, as elevadas taxas de desemprego da Trofa (16,9%) e de Vila do Conde (15,3%), mas sobretudo o aparecimento de alguns dos mais populosos concelhos da AMP e do país em posições cimeiras: Vila Nova de Gaia (16,5%), Valongo (15,0%) e o próprio concelho do Porto (13,4%) são disso exemplo. Para além destes, acima da média nacional na A.M. Porto, estão ainda os concelhos da Póvoa de Varzim, Gondomar, Maia e Matosinhos.

Já na A.M. Lisboa, apenas 8 municípios superam a média nacional. São maioritariamente municípios da Margem Sul do Tejo: Montijo, Moita, Setúbal, Barreiro, Benavente, Azambuja, Amadora e Lisboa, sendo que apenas o Montijo supera os 12% e os 4 últimos têm taxas inferiores a 11%. O concelho alfacinha registava uma taxa de 10,3%, em linha com a média nacional.

Em suma, o nosso país tem razões de sobra para se preocupar com esta crise, e com estes números. O desemprego atinge níveis elevadíssimos, com principal incidência em determinadas regiões. A inversão desta realidade, a solução para este problema passa necessariamente por tomar medidas adaptadas a cada realidade em específico, uma vez que os tipos de desemprego (e de crise) são diferentes de região para região: o desemprego em Mesão Frio é diferente do tipo de desemprego de Espinho ou de Portimão, e este facto só será contornado com medidas de estímulo às economias locais.

É neste contexto que a Regionalização, com a actuação efectiva dos poderes regionais competentes, seria certamente uma enorme ajuda para ajudar cada região, e o País, a sair mais eficazmente da crise. É pena que tal não seja possível.


Afonso Miguel

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