A artificialidade da "região norte" e a premência da existência de duas regiões a norte do Douro é facilmente verificável de várias formas. Uma das mais flagrantes é a análise do mapa de interacções entre os centros urbanos, que nos mostra as relações entre as diversas cidades e concelhos de uma região, no caso a NUT-II Norte, e que pode ser encontrado, por exemplo, no Programa Operacional Regional do Norte 2007-2015:
O que podemos concluir daqui?
- Denota-se claramente a existência de duas regiões no espaço considerado. A fronteira entre Trás-os-Montes e Alto Douro e Entre-Douro e Minho é perfeitamente demarcada pelo espaço onde não existem interacções entre centros urbanos. De Montalegre até Lamego, a faixa fronteiriça entre as duas regiões está bem patente.
- As regiões de Trás-os-Montes e Alto Douro e de Entre-Douro e Minho têm diferenças muitíssimo notórias, sendo quase contrastantes. Neste mapa, o peso da interioridade é visível no predomínio das áreas de muito forte marginalidade funcional (assinaladas a cinzento) na região transmontana, o que contrasta com a quase inexistência destas em Entre-Douro e Minho.
- As diferenças entre estas duas regiões são ainda reforçadas pelas características funcionais das suas áreas urbanas. Enquanto em Entre-Douro e Minho, a maioria das áreas urbanas estão assinaladas a vermelho, o que significa que a maioria dos centros urbanos desta região tem uma área de influência considerável para funções muito especializadas; em Trás-os-Montes e Alto Douro, poucas são as cidades nessa situação. Na região transmontana, predominam os centros urbanos de menor dimensão, dependentes das cidades principais que estão sempre dentro do espaço de Trás-os-Montes e Alto Douro.
- A dimensão das áreas urbanas nas duas regiões é também completamente diferente. Em Entre-Douro e Minho, para além da existência de uma zona metropolitana- a Área Metropolitana do Porto (que, diga-se de passagem, sozinha tem mais do triplo da população de Trás-os-Montes e Alto Douro)- verifica-se a existência de uma espécie de «teia» de centros urbanos com fortes relações entre si (Braga, Guimarães, Viana do Castelo, Barcelos, cidades do Vale do Sousa e do Vale do Ave), relações essas que são muitas vezes de interacção e não de dependência (ou seja, a probabilidade da existência de centralismos nesta região é menor), e que nunca ultrapassam as fronteiras da região.
- Isto significa que Trás-os-Montes está completamente fora deste esquema urbano. A região transmontana forma, isso sim, uma rede urbana completamente distinta, muito independente, de cariz regional, centrada num número reduzido de pólos urbanos de importância e influência localizada (e não nacional/internacional como em Entre-Douro e Minho). São eles Vila Real e Lamego (que, em conjunto com a Régua, têm tendência a formar um eixo urbano que concentra mais de 100 000 habitantes e se afirma como um dos principais do interior português), Chaves, Mirandela e Bragança. Somam-se ainda dois centros de menor dimensão: Valpaços e Macedo de Cavaleiros.
- Em termos de competitividade interna, e face às suas reduzidas populações, as cidades e, consequentemente, a região de Trás-os-Montes e Alto Douro teria muita dificuldade em fazer-se ouvir dentro de uma "região Norte", uma vez que se encontraria no meio da povoadíssima e dinâmica «teia urbana» de Entre-Douro e Minho.
Em suma, quando falamos no espaço estatisticamente denominado de "norte", estamos a generalizar precipitadamente, pois neste espaço existem claramente duas regiões bem distintas, e contrastantes a vários níveis, como aqui se comprovou pela análise das suas realidades urbanísticas.
Urge, por isso, respeitar as diferenças, e dar capacidade às diferentes regiões de tomar decisões por si próprias, adaptadas à sua realidade, e que tenham sempre a satisfação das suas necessidades específicas como primeira prioridade.
É indispensável, assim, implementar uma Regionalização que consagre a existência da Região de Entre-Douro e Minho e da Região de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Afonso Miguel
Comentários
O senhor bem se esforça, e com razão, mas os seus amigos regionalistas do Porto não querem essa conversa. Querem outra...
Sendo eu contra a regionalização - como muito bem sabe -, mas procurando dar-lhe, a si, uma mãozinha... nessa fracassada campanha, tenho, de facto, a ideia, colhida em alguns especialistas, de que Trás-os-Montes é a única região em Portugal a que se deva reconhecer alguma identidade regional, alicerçada em tradições seculares; porém, o tempo, aculturação agora acelerada por via dos modernos meios de comunicação, as novas vias rodoviárias, etc., etc, etc., estão a esbatê-la.
O senhor sabe que os mesmos que propõem hoje cinco, já propuseram há 12 anos 11 e 9 regiões. É conforme a tendência do mercado..., onde se negoceia o poder e não os interesses dos portugueses, muito menos a centralização, porque centralistas são quase todos os regionalistas, viciados nos meandros do poder...
Aprecio o seu esforço em falar sério sobre essa causa - melhor seria, penso eu, que nos apresentasse propostas sobre uma descentralização, à séria, sem essa coisa das juntas regionais elitas por sufrágio direto. Porque aqui é que está o busílis, é por aqui é que Portugal iria ao fundo, como Estado-Nação, uno e indivisível.
Não é o Sr. Pinto da Costa um centralista???????? Daqueles que se agarram ao poder por todos os meios, e moldam as instituições que governam à sua imagem, etc., etc.????? Dou-lhe este exemplo, mas há mais.
E isto é verdade.
Com a devida consideração, mas não é com esse tipo de discurso anti-Porto, e muito menos, com alusões futebolísticas, que me vai convencer de alguma coisa.
Tudo por uma razão muito simples. É que eu não estou aqui a defender a regionalização contra Lisboa nem contra ninguém, e acho essa guerra Lisboa-Porto uma estupidez pegada.
E quanto a futebol, que não tem nada a ver com esta questão, digo-lhe apenas que, sendo da equipa que sou, o FC Paços de Ferreira, pouco me importa o que dizem os presidentes deste ou daquele clube.
Para mim o futebol vive-se nos estádios, e os seus protagonistas são quem está no relvado, e não os que alimentam o enorme "show-off" fora deles. É por isso que eu, como adepto e sócio da minha equipa, vou muitas vezes ao estádio, mas não me entretenho a ver programas de "debate desportivo".
É uma questão de prioridades...
Cumprimentos,
Já tenho conhecimento desse grupo. Uma boa iniciativa!
Bem-haja.
Como podia referenciar AJJardim, há mais de 30 anos como Presidente da Região antónoma. E poderia indicar outros dinossauros, recentemente convertidos à regionalização, como é o caso do Dr.Fernando Ruas.
Podemos imaginar a forma de fazer política dos eventuais presidentes das juntas regionais e as "Nomenklaturas" que iriam implementar no terreno para garantirem reeleições. Sabemos bem...
O futebol e o que se passa no futebol não é para aqui chamado, mas porque não tenho medo deles,como parte da imprensa, referencio-os como paradigmas do que seriam os futuros presidentes regionais
Não deixa de ser curioso que seja nos municípios, base do municipalismo que tanto advoga e defende como alternativa à regionalização, que os "dinossauros políticos" mais existem.
A sua generalização aos casos de Pinto da Costa e Alberto João Jardim aos futuros governantes regionais é que me parece muito despropositada. Pinto da Costa nada tem a ver com o assunto, por muito que alguns demagogos o queiram implicar com a Regionalização. Quanto a Jardim, está-se a esquecer que as autonomias não se resumem à Madeira... E se falasse também no que se passa nos Açores?
É como tudo caro templario: em todo o lado há bons e maus políticos, gente que serve e que se serve. Desde as juntas de freguesia ao poder central. Que propõe? Que se extingam todos os poderes e nos entreguemos à anarquia só para não termos maus governantes?
Já agora, deixo-lhe uma pequena nota sobre o artigo do Jornal O Interior que publiquei ontem sobre a discussão acerca da localização do hospital central da Beira Interior. Para que veja no que dá o exagero do municipalismo. Para constatar aquilo que é o bairrismo cego e extremo, e as questiúnculas que se geram devido à falta de organização a nível regional, em que cada município puxa para seu lado e ninguém se entende... E pensar que o templario ainda defende um aprofundamento disto...
Cumprimentos,
Sugiro que leiam esta página do Face Book:
"Adesão Massissa aos partidos...".
Só ontem tomei conhecimento da sua existência. Excelente iniciativa!
Os que já estão dentro dos partidos, mobilizem pessoas válidas para a vida política, os que ainda não estão, adiram ao partido com que se identifiquem e se têm páginas no FB, divulguem esta página.
À porta das organizações locais dos partidos coloquem um grande cartaz: ADIRA AOS PARTIDOS POLÍTICOS - VENHA DEFENDER A DEMOCRACIA E PORTUGAL!
Este é um dos caminhos a seguir. Os que querem criar partidos regionalistas estão a enganar o povo.
O nosso sistema partidário precisa de um grande movimento de fora para dentro para revolucionar a actual Caverna de responsáveis pela situação do país. É aqui que está o ponto. É isto que os que o tomaram de assalto não querem.
Só assim os problemas que os regionalistas sinceros e patriotas assinalam, podem ser ultrapassados. O resto é mais do mesmo.
Quanto ao debate sobre a regionalização, começo a estar saturado e até no meu blogue sobre a regionalização deixei de escrver. Porque não há nada de novo. Em boa verdade, o mesmo acontece com os regionalistas.
Levem à prática a mensagem daquela página do Face Book.
Citando o seu comentário:
"A esse risco há que contrapor as vantagens de uma região dotada de uma massa crítica importante em termos humanos, territoriais e de recursos"
Mais uma vez (já o fiz muitas vezes, talvez dezenas), deixe-me refutar absolutamente esse argumento. As regiões não se desenvolvem de acordo com o seu tamanho. E isto é um facto: para comprová-lo basta olhar para países regionalizados. Em quase todos existem regiões pequenas e rurais, que coexistem com regiões grandes e metropolitanas. É por isso que as regiões rurais se desenvolvem menos? Não.
Exemplos: La Rioja (Espanha), Drenthe (Holanda), Vale de Aosta (Itália), Vorarlberg (Áustria), e tantas outras espalhadas pela Europa. Regiões pequenas (supostamente com pouca massa crítica em termos humanos, territoriais e de recursos), e que estão no pelotão do desenvolvimento dos respectivos países.
No caso Espanhol, é flagrante a comparação de La Rioja (que se preferiu autonomizar de Castilla y León) com o País Leonês (que preferiu integrar-se em Castilla y León).
Duas regiões inicialmente pobres e pequenas. Hoje, La Rioja é das regiões mais desenvolvidas do país, enquanto o País Leonés é das mais pobres.
Trás-os-Montes e a Beira Interior não podem, em absoluto, cometer este erro, nem deixar-se guiar por argumentos falaciosos como este da "massa crítica".
Citando-o novamente:
"Há que contrapor o facto de os laços humanos entre os habitantes do grande Porto e os durienses e transmontanos serem fortíssimos (os primeiros sendo na sua maioria descendentes de primeira ou segunda geração dos segundos)".
Isto não é, de todo, verdade. É verdade que a maioria dos transmontanos migrou durante o século XX para o Litoral, mas essas migrações não foram tão significativas assim na população do Porto que façam com que a maioria dos portuenses de hoje tenha laços sanguíneos, e menos ainda relações próximas, com Trás-os-Montes. Muitos tê-las-ão, mas não seguramente a maioria. E no fundo este factor pouca importância tem em política.
Por isto, a que se somam outro enorme número de razões geográficas, económicas, políticas, sociais, e outras, acho que Trás-os-Montes e a Beira Interior se devem constituir como regiões.
Cumprimentos,
Estranho que esse seu súbito desinteresse sobre a regionalização coincida precisamente com a altura em que o desafiei a comentar as guerras municipalistas que têm muitas vezes posto em causa o desenvolvimento do País, nomeadamente o caso concreto da guerra pelo Hospital Central da Beira Interior.
Continuo à espera da sua posição sobre isto, visto que, pelas leves linhas que tem traçado nos seus comentários, a sua solução para Portugal passaria pelo aprofundamento do municipalismo...
Cumprimentos,