Região Centro - visão estratégica

|Paulo Júlio|
Presidente da Câmara Municipal de Penela

O desenvolvimento da região Centro passa necessariamente pela procura de uma identidade, de uma filosofia de trabalho baseada em rede, por lideranças que saibam personificar as estratégias de desenvolvimento, considerando a sua complexidade e diversidade territorial, o seu policentrismo e ainda o facto de ficar a meio caminho entre as duas maiores áreas metropolitanas de Portugal – Lisboa e Porto.

O desafio, tem sido referido por muita gente, afigura-se, cada vez mais essencial, considerando as oportunidades que se perdem e se ganham, numa sociedade rápida, exigente e com um enquadramento económico e financeiro precário.

Talvez precisemos de mudar simplesmente alguns hábitos ou eventualmente aproveitar e fazer um grande “reset”, de modo a afinar a visão estratégica e colocar metas de desenvolvimento regionais, tentando responder à inevitável e comum questão: “O que queremos ser daqui a 20 anos?”.

Na competitividade territorial há que ter ambição, fazer apostas, arriscar e perseguir os objectivos traçados.

Esta afirmação é válida para a região, para os seus principais pólos urbanos com responsabilidade acrescida de “puxar” pelos seus arcos territoriais, para os concelhos de baixa densidade demográfica, Universidades e Institutos, associações comerciais e industriais e empresas.

A região Centro não tem as melhores praias da Península Ibérica, nem as maiores montanhas da Europa, nem nenhuma cidade com meio milhão de habitantes para ser pólo catalisador de desenvolvimento regional.
M
as, a região Centro tem uma diversidade imensa para poder estruturar um produto, leia-se região, de referência.

Na realidade, a região tem mar, tem serras, tem castelos medievais, tem património relevante que atravessa séculos de história, tem o principal destino turístico religioso do país, tem Universidades de referência internacional, tem um património construído constituído por milhares de aldeias e vilas que formam um produto único, tem produtos gastronómicos de excelência, tem vários centros urbanos de média dimensão, onde pontificam Coimbra, Aveiro, Viseu, Leiria, Guarda e Castelo Branco.

O segredo deste desígnio e desta diversidade tem duas palavras chave : redes e lideranças, sendo que a primeira definirá a segunda.

É certo que os indicadores demográficos apresentam várias debilidades, nomeadamente no nível de instrução e qualificação dos seus recursos humanos, e que parte da região tem uma baixa densidade demográfica, pouca massa crítica, baixa criação de riqueza, baixas oportunidades de emprego, fuga da sua população mais jovem, gerando assim um ciclo vicioso que urge inverter.

Apesar desse quadro, a região terá, nos próximos anos, enormes oportunidades seja ao nível das redes urbanas para a competitividade e inovação, seja com os vários programas de valorização económica de recursos endógenos (PROVERE) destinados às regiões de baixa densidade.
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Comentários

Destaco aqui uma frase:

"O desenvolvimento da região Centro passa necessariamente pela procura de uma identidade"

Procura de uma identidade, mas como? As identidades, ou existem, ou não existem. Não se procuram à força, como se quer fazer com este "centro". Poucas são as pessoas desta área geográfica meramente estatística a que deram o nome de NUT-II Centro que se identificam com ela. Aliás, se nem gentílico existe (como é que se chama uma pessoa do "centro"? "centrense"? "centrenho"???), e a NUT-II é um mosaico de realidades completamente opostas, entre Litoral e Interior, em que uns são pobres e outros ricos, uns mais rurais outros mais industrializados, uns em ganho populacional e outros à beira da desertificação completa...
Como é que querem chamar a isto uma região???
Como é que estão à espera que isto resulte?? Como é que querem que isto passe em referendo?
Al Cardoso disse…
E pelo facto de achar que regiao "Centro", nao corresponde, nem sequer ao centro geografico de Portugal, que sempre advoguei a criacao de uma regiao chamada "Beira" ou ate mais propriamente "Beiras" porque elas sao tres, todas distintas embora complementares!

O amigo Ribeiro que comentou acima, sei que nao concorda comigo e prefere uma "Beira Interior", mas com esta ou nao, que venha a regionalizacao, antes que todo o "interior" (nao consigo gostar desta palavra) desapareca completamente!

Um abraco regionalista d'Algodres.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

A identidade da região centro está definida e não é preciso andar a procuar mais seja o que for para alimentar clientelas. Essa identidade está distribuida e bem, pelas Províncias da Beira Alta e Beira Baixa (para formação da futura Região Autónoma da Beira Interior) e da Beira Litoral (suporte da futura Região Autónoma da Beira Litoral). O Senhor Presidente da Câmara Municipal de Penela (qualquer autarca) deveria ter conhecimento desta particularidades específicas de cada região natural ou província e que têm características ancestrais que deverão ser sempre respeitadas.
A título de exemplo, ninguém se lembra de dinamizar as FEIRAS TRADICIONAIS como elemento desafiador da desertificação e de incremento da produção agrícola, frutícola e pecuária de todo o território interior, à semelhança da lembrança feliz de introduzir as cabras dor parques nacionais para limpar e defender a floresta (a este propósito, seria bom que as televisões não dessem demasiado tempo de antena aos incendiários com reportagens nos telejornais superiores a 10 MINUTOS por sessão e com direito a repetição na sessão da hora seguinte, porque toda a gente gosta de mostrar o resultado do seu "trabalho" a milhões de pessoas e com orgulho).

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Caro Al Cardoso:

A regionalização, seja por que modelo for, será sempre importante, mas tenho como quase certo que só uma regionalização em que se contemple uma efectiva distinção entre territórios que são tão diferentes que chegam a ser em tantas coisas opostos como são a Beira Litoral e a Beira Interior ao nível económico, social, demográfico, infra-estrutural, geográfico e paisagístico, cultural, etc., poderá efectivamente salvar o Interior do País.

Estamos a chegar a uma situação insustentável, quase catastrófica. O Interior está a perder cada vez mais população e não vê perspectivas de se regenerar. E muito disto acontece porque não existe poder efectivo que tenha como preocupação maior desenvolver em específico o Interior.

O fosso entre as duas grandes Beiras (Litoral, composta pelas regiões naturais da Beira Litoral e Beira Alta; e Interior, composta pelas regiões naturais da Beira Trasmontana e Beira Baixa), existe, e está a aumentar a olhos vistos, de ano para ano. Só com distinção a nível administrativo, e medidas concretas para acabar com o ciclo vicioso do despovoamento e da pobreza, é que se pode ir ainda a tempo de evitar o descalabro que se nota cada vez mais em todo o Interior do País.
E só assim podemos acabar, não com o Interior, que é a nossa posição geográfica quer queiramos quer não, mas sim com a "interioridade", no sentido negativo da palavra, e com todas as consequências que tem tido, e tem, para regiões como a Beira Interior, Trás-os-Montes e Alto Douro, e o Alentejo, ao longo de décadas.

Um bem-haja.