Custos da Interioridade com aumento incomportável

Mais longe

1. A decisão de introdução de portagens nas auto-estradas da região (A23 e A25) é uma penalização para o interior. Mais uma. Mesmo que concordemos com a universalização do princípio do utilizador pagador, a verdade é que, para quem vive no interior, esta decisão implica mais um custo para as empresas e pessoas. O Governo, contrariando a promessa do PS, aceitou, depois de muita confusão, a imposição social-democrata da “universalidade” de pagamento pelo utilizador. Os argumentos das assimetrias regionais, da necessidade de aproximar o litoral desenvolvido do interior atrasado, da coesão territorial, do desenvolvimento do território como um todo, da solidariedade nacional… foram esquecidos pelo PS e pelo PSD. Os socialistas apanharam a boleia “laranja”, esquecendo a promessa eleitoral de Sócrates de que não haveria lugar ao pagamento das Scut onde não houvesse alternativas e em que os rendimentos fossem inferiores a 90 por cento da média nacional. Ainda assim, para se livrarem do custo eleitoral da impopular medida, irão isentar de pagamento os residentes e as empresas das respectivas zonas com bónus e descontos – uma confusão. Pior. Como já aqui referi, as Scut não são verdadeiras auto-estradas, não foram construídas como tal e não deviam ser consideradas para efeitos de pagamento de portagem – a sua construção não obedeceu aos requisitos próprios de uma auto-estrada, nomeadamente no que concerne à segurança (de pavimento, de trajecto, de largura, de largura da berma, têm curvas apertadas e curvas com inclinação ao contrário, muitos acessos, etc). As Scut são vias rápidas onde, em muitos quilómetros, a velocidade obrigatória é inferior ao normal numa auto-estrada (por exemplo, a maior parte do trajecto da A25 está limitada aos 100 km/hora, o que é inadmissível).

Agora, já é tarde para continuar a discutir os argumentos (ainda que possamos contestar). A decisão está tomada e, no próximo ano, vamos sentir no bolso os custos da interioridade – até agora, quando falávamos deles pareciam algo menos palpável, quase espiritual, uma exclamação contestatária, uma frase feita para digerir a nossa incapacidade de mudar o rumo dos acontecimentos, ainda que verosímil e manifesta, mas agora terá evidência constante nos custos das deslocações, em cada passo rumo ao litoral, em cada trabalho para lá das proximidades, em cada ensejo de lazer e cultura a sério, em cada dia que queiramos sair do nosso pequeno mundo e abandonar a pequenez que nos rodeia (fica a oportunidade de irmos mais até Espanha… por enquanto).

2. A falta de capacidade de atracção de novos alunos no IPG é assustadora. Menos de metade das vagas foram, para já, preenchidas (380 novos alunos). O nível de exigência vai sendo cada vez mais baixo, num tempo em que o ensino superior está massificado e “toda a gente” tem vaga e tira um curso superior, mas o IPG já nem os alunos mais fracos atrai…. Economicamente, para a Guarda, é muito mau que a sua mais importante instituição não consiga ter dinâmicas e capacidade para atrair novos e mais estudantes e irá sentir cada vez mais a falta dos tais “milhões” que os estudantes deixam na cidade.

Na Covilhã, a UBI, sem ter conseguido resultados extraordinários, ocupa já a maioria das vagas com mil e cem novos estudantes. Sinal de atractividade e consequência do prestígio que a universidade tem granjeado. Salva-se a região.


in O Interior (Guarda, Beira Interior), 16/09/2010


Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Actualmente, fica-se com a sensação que a rede de auto-estradas (e outras parceria público-privadas) não foi construída a pensar na sua sustentabilidade a longo prazo e muito menos nos seus utilizadores.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
Pois...
Não há sistema mais justo que o do utilizador pagador.
No alcool, no tabaco, na prostituição e... nas autoestradas.

O resto é conversa de bananeiro para enganar mapuatas.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Já tinha saudades de quem se distingue, no pior dos sentidos, pelo teor da sua linguagem única.
De vez em quando, tê-mo-los de volta.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)