Um caso de amor

Planando sobre ti, no movimento imaginário que um fotograma fixou, vejo uma ondulante linearidade nos telhados, consigo tocá-la e nela flutuar, captando como nasceste e por onde cresceste, descendo ao rio que te levou ao mundo e que a ti o mundo trouxe.

Posso amar-te sem fim, enquanto vogo por essa superfície que finge ser una e coerente. É mais trabalhoso amar-te com os pés no chão, mas, que diabo!, és a minha terra, e há nesta relação tanto de incondicional como nessa união eterna que regra geral existe entre pais e filhos. Mais trabalhoso, sim, porque no chão ganhas em realidade dura tudo quanto perdes em coerência, a tal coerência dos contos de fadas que se vê lá do alto.

Mostras-te aqui, no Olival e na Pena Ventosa, com essa linearidade cor de tijolo que oculta a pobreza, as casas degradadas, as casas devolutas, o desinteresse, a incapacidade de intervir sabe-se lá de quem e porquê ao longo de muitas décadas. Ou sabe. Mas não importa aqui.

De tão genuíno que é, esse amor à cidade faz sentido no chão, onde se convive com maravilhas e com defeitos. Como com as pessoas.

Voar é preciso, sim, mas a imaginação não pode fazer-nos enjeitar a realidade. Porque só a realidade alimenta o imaginário e porque só a realidade desafia os que amam o Porto. Fazendo-os sonhar, pois, com um burgo vivo. Renascido neste miolo onde nasceu, neste casario que connosco mexe profundamente. Isto não se explica.

|Pena Ventosa|
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Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Ao observar a fotografia anexa ao post, identifico-me integralmente com os sentimentos esplanados pelo seu autor. Quem é natural do Porto e arredores próximos não pode ficar indiferente à ergonomia arquitectónica da cidade do Porto, mesmo quando é observada da marginal de Vila Nova de Gaia.
Este sentimento é perfeitamente natural, mas também o sentem as populações das diferentes Regiões Autónomas em relação às suas terras de naturalidade ou de origem. Acentuá-lo em relação a uma única terra, localidade ou cidade é criar condições de novos e indesejáveis centralismos, a causa fundamental que impede o desenvolvimento.
Enquanto as populações tiverem que (e)migrar para outras terras diferentes da sua naturalidade (nacionalidade) não se estará a assegurar condições efectivas de desenvolvimento e acentuar-se-ão cada vez mais as condições de desigualdade entre pessoas, entre as populações de um País e entre as sociedades de diferentes países.
Por isso, é imprescindível que as condições de desenvolvimento sejam asseguradas nas terras de origem das populações para que possam potenciar os seus próprios recursos que melhor conhecem no seu mais profundo aproveitamento a favor do respectivo desenvolvimento económico, social, sem quebra do respeito pelas suas tradições e características culturais.
Posto isto, na parte que nos toca, é imprescindível que a regionalização seja implementada nas condições indicadas. A única fórmula que permite consegui-lo é a regionalização autonómica, por entre outras e também importantes razões aqui já demonstradas anteriormente.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)