O nosso mundo rural está a chegar a um ponto sem retorno

Há cada vez menos jovens na agricultura

João Direitinho terá sido dos últimos jovens agricultores a instalarem-se nos campos da região. Já lá vão dez anos. De lá para cá poucos novos colegas conheceu. Cerca de uma dezena até 2004. A partir daqui nunca mais um jovem se aventurou a trabalhar a terra.

Resultado: o sector agrícola caminha a passos largos para a insustentabilidade. É que ainda de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, entre 2007 e 2009, a agricultura perdeu mais de 2 mil postos de trabalho só no Baixo Alentejo

João Direitinho, que aos 34 anos explora uma pecuária, sabe, porque também sentiu na pele, o que tem afastado os jovens da agricultura. Começa pela falta de incentivos, que torna, à partida, o sector pouco apelativo. "Estamos a falar de incentivos escassos que são só para quem não precisa disto para viver",  recordando, ainda, que quando se instalou havia de esbarrar com uma série de problemas "difíceis de ultrapassar."

"Tinha um projecto para 600 mil euros e pediram-me garantias bancárias de valores exorbitantes. Depois tive de fazer vários pagamentos e ficar à espera que eles (serviços estatais) pagassem, além de que não me consideraram o furo, que também deu uma série de chatices", relata este produtor.

O próprio Ministério da Agricultura reconhece que só agora, com a aceleração da entrega de contratos apresentados ao Programa de Desenvolvimento Rural (Proder) - iniciado em 2007 mas com uma taxa de execução de 16% - é que estão a ser desbloqueados incentivos para a instalação de novos agricultores.

É o próprio ministro António Serrano quem reconheceu, em recentes declarações ao comunicação social, as debilidades de um sector "muito envelhecido", mas alerta que existem sinais de esperança, relembrando que no último ano têm sido entregues contratos Proder em vários pontos do país, que "já permitiram ajudar cerca mil jovens agricultores."

Trata-se de um prémio para início de actividade no valor de 40 mil euros, apresentando pela tutela como um incentivo para contrariar o abandono dos campos, com consequências a nível do desequilíbrio das contas externas e ajudar à fixação de pessoas no mundo rural.

Segundo o presidente da Associação de Jovens Agricultores, Firmino Cordeiro, o mundo rural está a chegar a um ponto sem retorno. "Qualquer dia não resta nada à volta das áreas metropolitanas de Lisboa a não ser estradas e florestas desorganizadas", avisa o dirigente, que, tal como João Direitinho também aponta responsabilidades à falta de incentivos, com especial ênfase na "paralisação que afectou o Proder", a par da "inexistência de uma política agrícola nacional."

O Alentejo, de resto, não diverge da tendência nacional, onde apesar de o limite etário para os jovens agricultores ser de 40 anos, este escalão apenas abarca somente 2,9% dos cerca de 220 mil agricultores portugueses, tratando-se do valor mais baixo da Europa, onde a média ronda os 5,3%. A esmagadora maioria dos agricultores, cerca de 48%, tem mais de 65 anos.

Eis uma das razões pelas quais o eurodeputado e ex-ministro da Agricultura, Capoulas Santos, aproveita o início da discussão sobre nova Política Agrícola Comum (PAC), para depois de 2013, para defender que as futuras ajudas ao sector deverão passar a ser atribuídas de acordo com a combinação entre dois critérios: o ambiental e criação de emprego.

Não é de hoje que Capoulas Santos alerta para a importância de se alterarem os modelos de apoio, mas desta vez até a própria Comissão Europeia já admite adoptar o critério do representante alentejano no Parlamento Europeu.

|DS|

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