Linha do Douro - Comboios velhos por velhos comboios

|Manuel Igreja|

Começo por confessar o meu gosto por comboios. Gosto deles não propriamente no sentido estético da sua forma ou coisa que a valha, mas antes pela sua comodidade enquanto meio de transporte, ainda que num ou noutro caso, existam comboios bem bonitos e elegantes no seu deslizar por entre a paisagem.

Por causa deste meu gosto e de mais uma necessidade razoavelmente frequente, de oras em quando vejo-me metido numa composição em viajem de ida e volta até à cidade do Porto. Vai daí que por via disso, mas também por causa desta minha mania de deitar escrita sobe isto e sobre aquilo, por vezes lá me dá para discorrer acerca das condições de circulação na mais que centenária linha do Douro.

Tenho para mim que enquanto via historicamente estruturante do nosso desenvolvimento regional, a linha do Douro é merecedora de toda a nossa atenção enquanto cidadãos, assim como será credora de todos os esforços na sua defesa por parte dos nossos decisores, e dos nossos líderes regionais, estejam eles na Política, na Economia, no Ensino, ou em qualquer outro sector de actividade.

Estando em causa a linha do Douro, seja em que contexto for, está em causa a própria região do Douro e mais as terras e as gentes das franjas que lhe são adjacentes. Bem sei que infelizmente por erros de má estratégia ao longo das últimas décadas se privilegiou a rodovia em detrimento da ferrovia, mas tudo faz crer que no futuro mais ou menos próximo as coisas se inverterão com o caminho-de-ferro a impor-se como meio de transporte essencial e aconselhável.

Por estas e por outras, é que não podemos uma vez mais ficar calado e acomodados mediante as notícias que nos chegam acerca dos comboios que apitam pelo nossos lados, ainda que nas mesmas condições de há pelo menos meio século, porque nunca nos ligaram e sempre acharam que para nós tudo serve, que luxos e comodidades são para quem viva junto ao mar ou a cidade metropolitana.

Pelo que se lê em alguma imprensa, credível ao ponto de podermos dar como verdadeiro o que é notícia, a empresa dos comboios, vai substituir as ronceiras e gastas composições que andam sobre os carris nesta linha-férrea. Num primeiro relance, é de contentamento a novidade. Mas logo passa a satisfação, quando se acrescenta que os velhos comboios irão ser substituídos por comboios velhos alugados por uma verdadeira fortuna em Espanha.

Por certo alguém em devido tempo, fez um negócio da China, e não tendo para onde enviar o produto comprado, melhor ideia não teve do que enviá-lo para nós. A fazer fé no que se afirma que a gente não sabe, o negócio foi do tipo do burro que se compra ao cigano, com respeito para ambos, mas ninguém agora que saber disso. Interessa é encontrar utilidade para o ferro velho que vem agarrado ao contrato, pois enviá-lo directamente para a sucata seria desplante a mais.

Quase por certo que nada tardará que com ar de circunspecto enfado alguém com bom ar venha afirmar as boas intenções e a eficiência da medida. Irão tentar fazer-nos acreditar que teremos ao dispor comboios do melhor que há e do mais recomendável para as nossas precisões. Num tempo que se discute a construção de linhas para comboios que são um gosto de tão rápidos e luxuosos serem, alguém nos vai quer impingir comboios que ninguém quer, por serem já do tempo do arroz de quinze. Mais um pouco, e seriam movidos a carvão, á igualha dos que por cá temos. Para isso, não valia a pena darem-se ao trabalho de se lembrarem de nós. Obrigado.

Até revolta. Chega uma pessoa ali a Penafiel, e logo entra em comboios que até apetecem, e vêm estes agora, com carripanas para o nosso uso. Isto, palavra de honra!...
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