O Norte afirma-se

Em cada 10 milhões de euros exportados por Portugal, 3,5 milhões têm origem na Região Norte, enquanto Lisboa e Vale do Tejo são responsáveis por 2,98 milhões. Estes números correspondem a uma taxa de cobertura exportações/importações de 123 por cento a Norte, contra a média nacional de 65 por cento. Ou seja, é da região mais deprimida do País que sai o maior e mais importante esforço no combate ao desequilíbrio da balança comercial do País.

Não é uma novidade absoluta. De facto, o Norte é tradicionalmente a região que mais vende para o estrangeiro. Relevante é o facto de em anos de crise concretizar um crescimento assinalável – mais de mil milhões de euros de 2009 para 2010. E ainda ter diminuído a importância da Europa como principal destino de vendas, descobrindo oportunidades em todas as partes do Mundo. Mesmo tendo perdido a Quimonda, que era em 2007 a empresa que mais exportava em Portugal, com cerca de 1,7 mil milhões de euros/ano, as características do empreendedorismo nortenho mantém-se intactas.

Estamos a falar de uma região em que predomina a chamada indústria tradicional – têxtil calçado, mobiliário, cortiça, etc -, em que a mão-de-obra é mais barata e em que o desemprego apresenta dos mais altos números de Portugal.

Isto é mais interessante ainda porque se trata de um tecido económico-social cuja morte já foi anunciada vezes sem conta, de uma geografia dominada pelas pequenas e médias empresas de base familiar e em que os apoios estatais são bem menores do que os verificados noutras zonas do País.

Para exemplificar a importância da realidade que os números traduzem, demos um exemplo: a indústria do calçado, maioritariamente sediada no Norte, exporta cerca de 1.150 milhões de euros, bem mais do que todo o Algarve, mesmo com o Turismo (731 milhões), Alentejo (215 milhões), Açores (710 milhões) ou a Madeira (544 milhões); o Vinho do Porto apresenta números de 315 milhões de euros de venda externa; o porto de Leixões viu o seu movimento exportador aumentar em mais de 30 por cento em Janeiro deste ano e a indústria têxtil, ainda sem número globais, vai dizendo entretanto que teve o melhor ano da última década; o aeroporto de Sá Carneiro vai ultrapassar so seis milhões de passageiros em 2011 num crescimento sem par no País…

É altura de o Norte recuperar a sua auto-estima e de reivindicar a parte a que tem legitimamente direito na repartição do bolo nacional dos apoios e incentivos, quer do Estado quer da União Europeia. O Norte não pode continuar a ser tratado como uma região atrasada e que não terá cura nos critérios definidos em corredores do poder absolutamente insensíveis à realidade nacional e às especificidades regionais.

A produtividade e a competitividade internacional têm aqui no Norte os melhores exemplos e é mais do que tempo de os nossos políticos e decisores porem os pés ao caminho e virem verificar como é que indústrias ditas tradicionais aplicam novas e sofisticadas tecnologias à sua produção.

Estas, sim, merecem ser conhecidas, divulgadas e apoiadas.

Rogério Gomes

|GrandePorto|
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