No Interior, «fechar escolas é encerrar aldeias»

Autarquias já estão a sinalizar as escolas que poderão encerrar no próximo ano letivo na região

«Fechar escolas é encerrar aldeias»


Ministério da Educação quer encerrar mais escolas do 1º Ciclo no próximo ano letivoEste poderá ser o último ano de vida das poucas escolas primárias, com menos de 21 alunos, que ainda resistem nas aldeias do distrito da Guarda. As autarquias já estão a sinalizar os estabelecimentos de ensino que poderão encerrar por decisão do Ministério da Educação (ME).

No município de Manteigas, por exemplo, já não existem muitas escolas para fechar. O presidente da Câmara está preocupado com a sala de apoio que existe em Sameiro, com 13 alunos, e que já no ano anterior esteve quase na lista. «Encerrar escolas é encerrar aldeias», avisa Esmeraldo Carvalhinho. Neste concelho, depois da escola de Vale da Amoreira ter fechado portas, a chamada sala de apoio de Sameiro é o único espaço que parece estar em risco. Apesar de ter menos de 21 alunos, o autarca defende a sua continuação por entender que «tem ótimas condições» e por considerar que um possível encerramento contribuirá para «a desertificação das aldeias». Este foi, aliás, o motivo apresentado ao Ministério da Educação para travar o “fim” deste estabelecimento de ensino em 2010/2011. Nos concelhos de Vila Nova de Foz Côa e Aguiar da Beira, a questão parece nem se colocar. O edil fozcoense Gustavo Duarte explica que os alunos estão divididos entre os centros escolares da cidade e de Freixo de Numão, depois de no ano passado terem encerrado escolas no Numão, Cedovim, Almendra e Muxagata. Já o presidente do município de Aguiar da Beira adianta que «em princípio não há nenhuma escola sinalizada» para fechar.

Mais escolas sinalizadas em Figueira e Seia

Em Seia e Figueira de Castelo Rodrigo, o futuro adivinha-se mais penoso, já que há mais escolas em risco de encerrar. No primeiro caso estão nesta lista negra os estabelecimentos do primeiro ciclo do ensino básico do Sabugueiro, Santa Comba, São Martinho e Pinhanços. Apesar de adiantar as escolas que estão em risco, o autarca Carlos Filipe Camelo lembra que ainda «não existem decisões», acrescentado que «está agendada para breve uma reunião» para debater o tema. O presidente do município serrano garante ainda que terá de se ter em conta os casos em que «existam dificuldades de deslocação das crianças». Já em Figueira de Castelo Rodrigo, «surgem rumores» sobre o encerramento de «mais duas escolas». De acordo com o vereador Carlos Condesso, as EB 1 de Reigada e da Vermiosa poderão ter o futuro comprometido, depois de terem encerrado oito escolas no concelho desde 2005.

Em Almeida, surge um cenário diferente, com a própria autarquia a concordar com o fecho da escola da Imaculada, que tem agora apenas o 1º e 2º anos. «Transferir esses alunos para a EB 2/3 de Vilar Formoso já era uma vontade nossa, para que todos ficassem integrados e, além disso, os pais estão de acordo», explica o edil. António Batista Ribeiro revela, no entanto, que há pelo menos outra escola sinalizada, desta vez na Miuzela. E, neste caso, a autarquia já não concorda com o seu encerramento, uma vez que a aldeia fica «a 40 quilómetros de qualquer EB 2/3», uma distância demasiado grande que torna «impossível» o transporte diário de crianças. «É um espaço com condições e gastaram-se ali 250 mil euros quando o edifício foi renovado, há quatro anos», lembra o autarca, que mantém a esperança de que o Ministério da Educação tenha em conta estas advertências, tal como fez no ano passado.

Também o concelho da Guarda não escapa às intenções do ministério. À margem da última reunião de câmara, na semana passada, o vice-presidente da autarquia, Virgílio Bento, admitia um possível encerramento de «três ou quatro escolas», com as crianças a serem transferidas para o Centro Escolar da Sequeira. No âmbito da reorganização da rede escolar pública, o Ministério da Educação tenciona encerrar, no próximo ano letivo, cerca de 400 escolas que não tenham condições adequadas ou que funcionem com menos de 21 alunos. O número foi avançado pela ministra Isabel Alçada, mas do lado das autarquias a conta é diferente e aponta para 654 escolas em risco.


in O Interior (Guarda, Beira Interior), 10/03/2011



Comentários

O caso da aldeia da Miuzela é paradigmático da pilhagem que tem sido feita nos últimos tempos ao Interior.

A Miuzela é (ou melhor, era, até há pouco tempo) o centro de serviços da parte mais a sul do concelho de Almeida, na região da Beira Interior, que envolvia um punhado de aldeias fortemente desertificadas.

Tinha posto da GNR. Encerraram-no (ou pelo menos tentaram, não sei como ficou o caso), há 2 anos, votando a região a um completo abandono em termos de forças de segurança (os postos mais próximos ficam a mais de 30 km, em Vilar Formoso e em Almeida).

Tinha escola. Querem fechá-la. As escolas mais próximas estão a mais de 30 kms, nas vilas de Almeida e Vilar Formoso.

E como se chega da Miuzela a Vilar Formoso? De comboio, pelo apeadeiro da Miuzela. Havia 4 comboios por dia. Desde o mês passado só há 2, porque os restantes foram suprimidos.
Também pode fazer-se a viagem de carro. Mas isso só é viável se fizermos metade do percurso na auto-estrada, A25. Essa mesma que o Governo quer taxar com portagens, por considerá-la "um luxo".

Agora expliquem-me, como querem que estas pessoas (sobre)vivam?