Os portugueses e as boas ideias

Por vezes, dou por mim a pensar que temos um conflito com as boas ideias ou com o conceito de “boa ideia”. Muitas vezes, tenho mesmo a impressão de que não fazemos ideia do que seja uma boa ideia.

Para muitos, uma boa ideia é boa por ser nova ou inovadora ou como tal considerada. Nestes casos, um dos habituais e paupérrimos argumentos em defesa da alegada boa ideia consiste em desvalorizar qualquer crítica fazendo uma referência genérica às habituais resistências ao que é novo, o que, na realidade, é apenas um não-argumento. É assim que se tem defendido o Acordo Ortográfico e é assim que o mundo da Educação tem sido torpedeado constantemente com ideias inovadoras, entre muitos exemplos que poderiam ser escolhidos.

A nossa problemática relação com as boas ideias reveste-se, ainda, de outra particularidade: qualquer boa ideia com provas dadas noutros países parece deteriorar-se no preciso momento em que entra em território nacional.

A regionalização, por exemplo, é, em princípio, uma boa ideia, mesmo num país pequeno como o nosso, pelo que representaria, entre outras coisas, de maior proximidade entre administração e cidadãos. O problema está nos pequenos e grandes caciquismos e restantes perversões que as autarquias e as regiões autónomas revelam.

Resumindo, ou temos más ideias que anunciamos como boas ou estragamos as boas ideias que outros tiveram. Assim, é difícil.

|António F. Nabais|
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