Encerramento de estações de comboios contribui para a desertificação do país

O encerramento das estações dos comboios e de outros serviços públicos está a contribuir para a desertificação do país, que corre o risco de, em breve, ser apenas uma faixa estreita entre Setúbal e Braga, alertam especialistas.

"Se pensarmos porque é que o interior se esta a despovoar é por tudo isso. Não é só os transportes, é o encerramento de escolas, os vários serviços que vão encerrando. Pessoas que vivem em sítios mais remotos, com mais dificuldades de acesso, vão-se deslocando primeiro para as sedes de concelho, mas depois há também a emigração para o litoral", afirma o sociólogo Pedro Hespanha.

O sociólogo salienta que uma linha fecha quase sempre por questões de rentabilidade: "Do ponto de vista da empresa, pode representar grandes poupanças, mas, do ponto de vista dos utentes, isso normalmente significa um encargo maior." José Manuel Lopes Cordeiro, especialista em ferrovias e docente da Universidade do Minho, defende que deviam ser reforçados os comboios de passageiros de ligação com o interior do país: "Estamos a desaproveitar o potencial de desenvolvimento económico e social do interior.

Não podemos continuar com esta política e o caminho-de-ferro tem aí um papel fundamental", alerta, considerando que o país corre o risco de, dentro de 50 anos, ser "uma estreita faixa do litoral entre Braga e Setúbal".

Para Manuel Tão, da Universidade do Algarve, há exemplos "em que o desaparecimento do caminho-de-ferro foi o declínio das povoações e quase a sua extinção", como Barca d"Alva, onde havia comboios rápidos para Madrid e que "hoje é nitidamente uma terra deprimida". "Quando se encerraram linhas em Trás-os-Montes e no Alentejo houve uma desestruturação do território, porque houve um relacionamento funcional de muitas cidades que foi destruído", conclui.

Manuel Tão salienta que noutros países da Europa há um renascimento das linhas regionais, que são concessionadas às empresas de camionagem, "que as exploram através de material ferroviário ligeiro e depois reestruturam as camionetas para alimentar esses comboios com um êxito completo".

|Lusa|
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