Hélder Nunes, director do barlavento - semanário regional, 02.11.2006
Aquando do primeiro referendo sobre a regionalização, o Partido Socialista teve muitas culpas pelo «não» que o Algarve colocou nas urnas.
Hoje, o cenário parece ser diferente, com os socialistas dispostos a avançar para um poder descentralizado, e com Manuel da Luz (PS-Portimão) a afirmar que, «se houvesse regionalização, os problemas dos municípios seriam tratados de outra forma, o que não acontece com a estrutura central que, culturalmente, tem desconfiança do poder local».
Como é impressionante ouvir um socialista clamar dos seus ex-colegas autarcas que, quando «chegam ao Parlamento ou ao Governo, se esquecem da sua experiência. Parece que nos estão a fazer um favor quando decidem alguma coisa».
A bandeira da regionalização deve manter-se bem erguida, os esclarecimentos devem ser dados nas Assembleias Municipais, nas Juntas de Freguesia, nas Escolas. É preciso começar a perceber o que, efectivamente, é o poder central descentralizado.
Pessimista quanto a todo este processo parece estar Miguel Freiras, líder da Federação do PS Algarve, que afirmou, na última vinda de José Sócrates ao Algarve, que sentia «alguns sinais contraditórios».
E colocou o dedo na ferida: «nem todos os organismos se estão a reorganizar em cinco regiões plano, que era o grande objectivo. Mas também porque este era o momento para reforçar a capacidade de coordenação da CCDR e de lhe dar um carácter político e isso não vai acontecer».
Todos continuamos a acreditar no referendo para a regionalização na próxima legislatura, com um certo benefício de dúvida, porque o actual Governo não tem provado que a seriedade é a verdadeira arma de quem governa, tomando atitudes que antes tinha prometido não tomar.
Miguel Freitas, ao afirmar que «a descentralização, a verdadeira descentralização, só será possível com a regionalização», traça o teorema que compete ao Governo resolver e todos nós colaborarmos para que a sua solução seja verdadeira.
Comentários
Alem disso quem nos garante que o PS ganhara as proximas eleicoes. Se os socialistas realmente estao de alma e coracao com a regionalizacao, porque nao propo-la ja em referendo em vez de andarem a reboque dos mais esquerdistas com o referendo do aborto?
Parece que a regionalizacao vai mas e ser mais um "aborto" do (des)governo.
Também não é o facto de um individuo ter uma licenciatura um mestrado ou um doutoramento que faz dele automaticamente um bom político.
A política exige sobretudo uma forte inteligência emocional, conhecimento da comunidade, sabedoria pluridisciplinar e quando for o caso, aí sim, o recurso aos técnicos para poder fundamentar as suas opções.
Comparar os méritos de uma boa administração politico/administrativa do território com o funcionamento de ineficazes secretarias regionais, parece-me excessivamente redutor.
Um mau técnico até pode dar um óptimo político e vice-versa.
No caso vertente, por melhores que sejam os técnicos, se não houver responsabilização política - e não nos esqueçamos que, em Democracia, a soberania reside no Povo, os políticos apenas o servem - é assim como um carro novo, com uma óptima direcção assistida, mas sem volante: andará apenas ao sabor da inclinação da estrada e acabará mal de certeza...
Para ser um bom autarca nao e necessariamente obrigatorio ter formacao superior e muito menos ser engenheiro ou arquitecto. O que sim e necessario e ter visao de futuro saber as necessidades locais, e ter sentido civico, ser honesto e trabalhador entre outras coisas, tanto quanto sei nenhuma destas virtudes lhe adviram de nenhum curso superior.
Eu pessoalmente conheco muitos tecnicos que sao portuguesmente falando "umas bestas" ate nas proprias areas tecnicas que supostamente dominam, pois vem-se certos erros arquitectonicos e outros, que se nao devem admitir a individuos com escolaridade minima, quanto mais a tecnicos.
Nas minhas cinco dezemas de anos ja encontrei muitos individuos com a 4a, classe com muito mais visao de futuro e muito mais inteligentes, que muitissimos "tecnicos" burocratas cheios de "peneiras".
Para além do mais têm disfrutado, como é sabido, de condições financeiras de privilégio, o que, tudo conjugado, permitiu ao Governo Regional madeirense (com todo o mérito, mas também com toda a "batota"!) dar um impulso económico inaudito à Ilha da Madeira (não conheço ainda o Porto Santo, por isso não me pronuncio), muito embora os indicadores geralmente utilizados para medir esse sucesso sejam bastante enganadores, dada a conhecida disparidade de níveis de rendimento verificado na população madeirense.
Para além do mais, a Madeira é ainda muito beneficiada em termos das remessas de emigrantes e, sobretudo, pela existência de uma "zona franca", por exemplo.
Veremos a partir de agora o que irá acontecer à economia desta Região, com as novas regras de rigor orçamental (finalmente!) decididas pelo Governo...