62,61 %


Confirma-se a progressiva degradação da qualidade da nossa democracia representativa. Basta observar os debates pós-eleitorais nos "mass media", para constatar a quase total transformação dum processo eleitoral local (a Eleição intercalar para a Câmara Municipal de Lisboa), num processo de definição de estratégias partidárias de âmbito nacional e centralista.

Como forma de protesto, emerge uma estrondosa abstenção: 62,61 % é o valor mais alto de sempre em eleições autárquicas na cidade de Lisboa.

Confirma-se a tendência para a "desagregação" dos dois maiores partidos políticos portugueses ( ambos com votações abaixo dos 30%), ao lado do ressurgimento de listas de independentes.

Mais um sintoma que alerta para a necessidade urgente da regionalização /descentralização em Portugal.

RESULTADOS FINAIS:
PS 29.54 %
Lisboa Com Carmona 16.70 %
PPD/PSD 15.74 %
Cidadãos por Lisboa 10.21 %
PCP-PEV 9.53 %
B.E. 6.81 %
CDS-PP 3.70 %

"Em Portugal persiste uma tendência que consiste na “apropriação” de eleições de carácter local e regional, com o objectivo de que a mobilização popular presente nesses processos eleitorais, se centre mais em matérias de interesse nacional do que em matérias de interesse local.
Acresce a isso, a realidade de os eleitores votarem mais em partidos políticos e menos em pessoas (representantes), uma vez que o sistema eleitoral é de candidaturas em lista fechada, não favorecendo uma maior independência e liberdade dos representantes eleitos em relação aos partidos políticos e às respectivas hierarquias - as linhas partidárias anulam pontos de vista individuais e territoriais, prejudicando uma apropriada representação eleitoral.
As eleições autárquicas (bem com as europeias) são aproveitadas, pelos partidos políticos, para “medição” do grau de satisfação da opinião pública e para definir estratégias partidárias de âmbito nacional. Também os governos centrais permanecem atentos ao “barómetro” da opinião pública e durante os processos de decisão, fazem obalanço entre eficiência governativa e democracia, tendo em conta futuros ganhos eleitorais.
Esta “apropriação” representa um desafio para os “media” de âmbito regional e local – estabelecer uma agenda compatível com os interesses locais e regionais e dar-lhes um impacto e uma audiência de dimensão nacional."

mokkikunta.blogspot.com

Comentários

Anónimo disse…
O Norte tem a obrigação patriótica de impôr, democraticamente claro, a regionalização ao resto do País.
Não podemos perder mais tempo e recursos.
Miguel Duarte
Um Lisboeta
Bravo, Miguel Duarte.


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Uma adequada resposta aos problemas focados neste Artigo foi ontem dada pelo Povo lisboeta, que na prática "chacinou" as candidaturas partidárias convencionais, de mais do que uma maneira:


1ª) Envergonhou-as a todas (e ao próprio Presidente da República que, não o esqueçamos, faz parte e até é o TOPO deste "sistema"), com um «recorde» de abstenção;


2ª) Deu uma vitória folgada ao P. S., mas bem longe da maioria absoluta;


3ª) Humilhou o principal Partido da Oposição com um desonroso terceiro lugar, ATRÁS da candidatura independente dissidente desse Partido (e apesar das conhecidas e notórias fragilidades desta candidatura);


4ª) Ridicularizou os esforços do segundo maior Partido da Oposição, relegando-o para um quinto lugar, mais do que subalterno, ATRÁS de uma outra Candidatura independente sem qualquer tradição na Cidade (H. Roseta);


5ª) Baniu (de vez, como em Oeiras?) o PP da Câmara de Lisboa, Cidade capital de Portugal e uma Câmara cuja Presidência já deteve, anos a fio (como, aliás, também em Oeiras!)!


6ª) Não demonstrou um mínimo sinal de maior apreço por José Sá Fernandes e pelo B. E., relativamente ignorados no meio disto tudo, apesar do seu reconhecido papel-chave na Câmara anterior e ao longo de todo o processo político-legal que acabou por desembocar nas próprias eleições intercalares!



Pois é. "Procuram-se explicações para tudo isto", diz o Prof. Vital Moreira no seu "bolgue" «causa-nossa.blogspot.com».


A meu ver, apesar da "lamechice" subserviente da comunicação social "convencional", tentando por todas as formas ignorar ou suavizar este evidente DESCALABRO SEM PRECEDENTES para TODOS os Partidos parlamentares, a verdade é que, como diria hoje Jorge Sampaio se fosse coerente e corajoso, "HÁ MAIS DEMOCRACIA PARA ALÉM DOS PARTIDOS", e é bom que eles se apercebam disso enquanto ainda podem aprender alguma coisa com os sinais dos tempos presentes e, a partir deles, tentarem urgentemente REGENERAR-SE, pois são ainda, inquestionavelmente, indispensáveis à nossa Democracia.


Mas a verdade é que o são CADA VEZ MENOS, pelo menos se não conseguirem acompanhá-la, na sua natural EVOLUÇÃO!


Isto encerra, igualmente, lições para temas como a Regionalização: o estrondoso SUCESSO das candidaturas independentes em Lisboa prova que É POSSÍVEL LOCALIZAR AS TEMÁTICAS E OS ACTORES POLÍTICOS, nem que para isso tenha que se procurar "alimento" FORA DOS PARTIDOS TRADICIONAIS!


E então, se assim se prova, chegar-se-á a um ponto em que a sua própria posição sobre a Regionalização PODERÁ TORNAR-SE SECUNDARIZÁVEL face à emergência de uma nova geração de ELEITORES E CIDADÃOS ACTIVOS E CONSCIENTES!


A maior lição destas intercalares lisboetas é esta: ESTÁ A CHEGAR O TEMPO DOS "CIDADÃOS PELO PAÍS" se organizarem e PASSAREM À ACÇÃO POLÍTICA, confrontando os Partidos tradicionais NOS SEUS PRÓPRIOS TERRENOS, como agora sucedeu em Lisboa!...


Mais Carmonas, Rosetas e Isaltinos precisam-se, para protagonizarem a REGIONALIZAÇÃO!...
Anónimo disse…
Certo. Mais Carmonas, Isaltinos Valentins, Felgueiras, Setúbal e Salvaterra de Magos. Esse é o país real. Onde os 57 de Costa valem mais que os 75 de M M Carrilho. Com ou sem Regionalização. Com bufos ou sem eles, estamos a caminho da Moldávia.. quem sabe, de Cuba... Força Portugalex...
Anónimo disse…
Amigo amargo, aliás anónimo, não precisa de ir tão longe: tem um óptimo sítio para um exílio político descansado - acho que a sua lista peca por defeito: está-se a esquecer do damasquinho de Leiria, ou pelo facto de a senhora ser do PSD já o caso muda de figura?


Cuidado com o telhado a estilhaçar-se, alguém ainda se vai ferir nos vidros...
Anónimo disse…
Tem razão... esqueci-me de Leiria, do Montijo, de Braga e de tantas outras. Para mim, vigarista não tem partido. Vigaristas há em todos os partidos. Tal como os gordos, as "meninas", os "gays". Exílio??? Já estou exilado desde 4 de Janeiro de 1994. Mas acompanho. E desde que possa, escrevo. E vou resistindo a tudo. Desde a Censura dos anos 60, ao PREC, ao Grupo Fernando Nogueira, aos Maçónicos do governo Guterres, até à fúria dos impostos deste governo. Vilentos, mas infelizes... não me vencem. E, ao contrário do Saramago, não sou Ibérico. Sou português.
Anónimo disse…
Pois, mas acontece que ser português também é ser ibérico!


Como também é ser europeu...