"Hamburguer sem carne"... Quereis comprar?...


O Governo anunciou há dias a revogação da anterior decisão, tomada em 1999, sobre a localização do novo Aeroporto de Lisboa e a consequente tomada de uma nova decisão, ainda que preliminar, sobre este assunto.

Não sendo aqui o local adequado para explanar a minha opinião sobre o tema (quem estiver interessado pode sempre ir espreitar aqui), gostaria contudo de vos propor agora uma análise desta questão à luz de uma perspectiva regionalista.

Uma coisa tenho como certa: se vivêssemos num País “normal”, no contexto europeu, a decisão sobre a localização desta nova infra-estrutura aero-portuária caberia muito menos ao Governo e muito mais às autoridades regionais.

Efectivamente, apesar de ser inegável a relevância nacional da decisão, o facto é que ela é crucial sobretudo para os potenciais utentes do Novo Aeroporto e também para todos aqueles que, habitando ou trabalhando na sua área de influência, próxima ou longínqua, mais irão sofrer os impactes da opção definitiva!

Sabe-se, aliás, que uma das mais claras vocações de um verdadeiro Poder Regional se prende com a temática genérica dos Transportes e das respectivas infra-estruturas – atente-se, apenas por exemplo, no peso percentual das estradas regionais em Espanha, face ao total de quilómetros de rodovias, ou à percentagem do orçamento das regiões europeias, sobretudo as metropolitanas, que é anualmente dedicado aos Transportes, sobretudo urbanos, como é natural...

Esta perspectiva, tão vulgar nos nossos parceiros europeus, por nunca ser abordada nos nossos meios de comunicação de massas, que debitam apenas informação não trabalhada e, tantas vezes, contraditória (e até falsa e demagógica!) sobre este tema, como sobre muitos outros, exige porém uma redobrada atenção e disponibilidade por parte dos caros leitores.

Acontece que, no Portugal actual, à falta de autoridades próprias, legítimas e democráticas, que representem a vontade das populações da Região Metropolitana de Lisboa e das outras Regiões mais directamente interessadas no assunto da localização do novo Aeroporto - Vale do Tejo, Centro e Alentejo -, a tomada de decisão ficará, em exclusivo, nas mãos do Governo! Deste, ou doutro que lhe suceda (como sempre esteve nas mãos de todos os Governos anteriores…).

O qual, ao contrário do que simplisticamente tantas vezes se afirma, não é por estar sedeado em Lisboa que representa mais fielmente os interesses desta ou das outras Regiões citadas! Não senhor, longe disso, muito simplesmente porque o Governo não depende EXCLUSIVAMENTE dos votos dos lisboetas! Nem do dos ribatejanos, ou do dos alentejanos! Por isso, uma decisão como esta, crucial para o desenvolvimento, sobretudo, de toda a zona central do País, vai ficar entregue unicamente ao Governo, que naturalmente pondera apenas o que considera ser o interesse NACIONAL!

Para já não falar das vozes descoordenadas (e irrelevantes) dos vários autarcas, numa matéria que obviamente os transcende e para a qual não possuem nem legitimidade, nem preparação!!

Mas como seria num Portugal realmente moderno, europeu e regionalizado? Pois bem, a decisão final poderia até, eventualmente, continuar a caber ao Governo (dependendo isso da arquitectura em concreto adoptada para os poderes e para as prerrogativas das autoridades regionais neste campo), mas certamente que, antes dessa decisão, a Administração Central contaria com parceiros idóneos e legitimados para a estudar. E teria, forçosamente, que articular e sopesar a perspectiva do superior interesse nacional, com as evidências dos (eventualmente determinantes!) interesses REGIONAIS, numa matéria para a qual o resto do País poderá inclusivamente ter uma posição de relativa indiferença, ou de neutralidade!

(Faço aqui um pequeno parêntesis para criticar a intervenção algo extemporânea e despropositada de um mero representante de interesses económicos particulares da Cidade do Porto, Rui Moreira, que teve a ousadia de vir a terreiro pronunciar-se sobre a localização do NAL, na perspectiva daquilo a que chama "os interesses do Norte": sempre gostava de ver o que sentiria e diria esse senhor se, por acaso, viesse um lisboeta ou um aveirense qualquer opinar que o Aeroporto de Pedras Rubras deveria ter sido construído sim, mas a Sul do Douro!...)

Mas voltemos ao cerne da questão e vejamos outro exemplo expressivo, aliás bem português: qual o peso que tem o Governo Regional da Madeira nas decisões sobre o seu Aeroporto (que efectivamente é "do Funchal" só de nome, pois não se situa nesse Concelho, mas no de Santa Cruz, e que serve toda a Ilha…)? Não deve ser propriamente igual ao do Governo central, ou ao da Câmara do Funchal, penso eu…

Sejamos pois honestos e realistas: os mais interessados na questão do Aeroporto, que são os habitantes das Regiões de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Centro, serão na prática os menos ouvidos pelo Governo em toda esta questão, no meio das vozes e dos restantes poderes, fácticos, económicos, mediáticos, políticos e autárquicos! Daí, talvez, que a maior parte dos portugueses já tenha pressentido o pior: seja qual for a decisão final sobre este assunto, ela muito provavelmente será uma decisão ERRADA!

Que também o poderia ser, eventualmente, no caso de haver já uma intervenção institucional de efectivos poderes regionais, mas que o seria seguramente com muito MENOR PROBABILIDADE: é que este assunto seria fulcral em toda a estratégia de desenvolvimento e nas complementares políticas próprias das Regiões interessadas e, sem sombra de dúvida, tema obrigatório na campanha eleitoral seguinte para os executivos regionais, ao passo que assim, entregue em exclusivo às competências do Governo (e passando ao largo da tristíssima caricatura de debate que se viu nas últimas autárquicas lisboetas…), será apenas mais um aspecto que os portugueses poderão, eventualmente, ponderar nas próximas legislativas, seguramente muito menos importante do que os que REALMENTE CONTAM para o balanço da actuação deste Governo: Economia e Finanças, Justiça, Saúde, Segurança Social, reforma do Estado, Educação, Segurança Pública…

No meio de tanta coisa mais importante, quem se lembrará de decidir o seu voto a pensar na questão Ota versus Alcochete?
É pois isto que distingue quem compreende o porquê da necessidade da Regionalização: “cada macaco no seu galho”, isto é, cada assunto discutido no nível político que mais interessa!...

Resumindo e caricaturando, em todos os temas como este, especialmente vocacionados para o Poder Regional que não temos, a Administração Pública dará sempre de si esta pobre imagem de um “hamburguer sem carne”, ou seja, apenas com as metades de cima e de baixo – Governo e Autarquias, respectivamente – mas sem aquilo que realmente mais interessa!
Até quando, estimado leitor?...

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Adenda (especialmente para os lisboetas):

QUANTO A LISBOA, e ao contrário do que possa transparecer das análises mais simplistas, a localização do novo Aeroporto NÃO É UM PROBLEMA EXCLUSIVO DA CIDADE, mas sim da nossa REGIÃO! Poderá naturalmente interessar-lhe, como igualmente interessará por exemplo à Amadora, a Almada, a Torres Vedras, ou a Sintra, mas é fundamentalmente uma questão REGIONAL. O que acontece é que a Região ainda "não existe" politicamente!

Existem apenas, lamentavelmente, os senhores autarcas que, à falta de poderes regionais legítimos e democráticos, se colocam em bicos de pés, pateticamente, seja na “outra banda” a rejubilar com "amanhãs que cantem", seja no Oeste a preparar já o choradinho das "compensações" para as suas respectivas e santas terrinhas!...
Quanto ao que interessa mesmo de específico ao Município de Lisboa, aqui é sobretudo o DESTINO DOS TERRENOS DA PORTELA, tema que só foi abordado, isolada mas corajosamente, por Ant.º Costa, na última campanha eleitoral, onde disse o que é óbvio mas custa a engolir: o destino dos terrenos da Portela será aquele que a C. M. L. quiser, dado que dispõe legalmente da faca e do queijo sobre esse assunto, através do seu PLANO DIRECTOR MUNICIPAL (em eterna fase de "revisão"...)!

Esperemos agora é que não seja só mais uma promessa eleitoral.
Os eleitores mais atentos, certamente, não irão esquecê-la...

Comentários

Anónimo disse…
Os grandes projectos de investimento em discussão e/ou decisão têm uma amplitude nacional, pelas profundas consequências que vão implicar a médio e longo prazo, em todas as vertentes políticas.
Uma delas tem a ver com o peso excessivo de uma concentração política continuada em torno da capital, impedindo que se pense objectivamente qualquer processo de regionalização, independentemente da solução que vier a ser implementada, se vier. Na verdade, todo o processo ficará definitiva e negativamente condicionado, daqui para a frente. É por estas e por outras que me recuso a dar opinião sobre a natureza e dimensão de tais projectos, por a sua discussão tender para o obsceno, como em parte ontem se viu.

Anónimo pró-7RA.
Anónimo disse…
pois, pois, quando se fala na concentração em Lx/Vale do Tejo..
é um ver de duvidas que até assusta..

Já estou anémico, outra vez

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Anonimo 4
Excelente matéria para reflexão, bem exemplificativa dos "custos" que vamos suportando com a não regionalização
Anónimo disse…
Eu tenho todo o gosto em lembrar ao Anónimo 4; já está a ver melhor porque razão as Regiões Admnistrativas não são suficientes; logo,
7 Regiões Autónomas.

Anónimo pró-7RA.
A propósito de novos Aeroportos e Regionalização em Portugal, cabe-me ainda acrescentar que, com a "fuga" do NAL para a Margem Sul do Tejo (a confirmar-se...), se abre mais "espaço" (territorial e de mercado) para o que poderá bem vir a ser o primeiro Aeroporto português verdadeiramente Regional: o Aeroporto da Beira Interior, a localizar de preferência junto à Linha da Beira Alta e perto da fronteira com Espanha, talvez ali no planalto entre Mangualde e Vilar Formoso.


Com a evolução actual do mercado aeronáutico (já se vêem passageiros a ir de Lisboa ao Porto, ou mesmo a Faro, apanhar aviões, por motivo da escolha de certas companhias ditas de baixo custo...) e a distância a que se encontram dos Distritos da Guarda, Viseu e Castelo Branco os restantes Aeroportos nacionais, um Aeroporto regional nessa zona parece-me que seria uma das principais medidas que deveriam constar de um bom programa de candidatura ao futuro executivo regional da Beira...
Anónimo disse…
Junto à Guarda, onde se cruzam a A23 (IP2), a A25 (IP5), as Linhas da Beira Alta e da Beira Baixa, e onde vai ser brevemente instalada uma plataforma logística, não faltam terrenos livres para construir um aeroporto. Aliás, a zona de Vilar Formoso é uma zona óptima para investimentos do ponto de vista ibérico, porque está no centro de um triângulo formado pelas cidades de Porto, Lisboa e Madrid, com ligações rápidas às três. Os terrenos são acessíveis, e as empresas só não se instalam porque os governos só se têm preocupado em promover as Áreas Metropolitanas em termos industriais. Para além disso, há o turismo: Serra da Estrela, Ruínas de Foz Côa, Alto Douro e Aldeias Históricas, cidades da Guarda e Castelo Branco. Por isso, apoio a ideia de um aeroporto na Beira Interior, nomeadamente naquela que é a sua principal cidade, a Guarda. Seria um sinal de real preocupação pelo Interior.

Anónimo (Beira Interior), pelas 7RA
Anónimo disse…
Vejam só a diferença. A Suíça, profundamente autonomizada, só tem 13 aeroporstos.

Anónimo pró-7RA.
Anónimo disse…
e Portugal pouco dinheiro.
muito desemprego, pobreza, fome e reformas de miséria.
Seja poupado.

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Anónimo 4
Anónimo disse…
Lamento, como sempre não percebeu.

Anónimo pró-7RA.
Anónimo disse…
pois não, sou autarca burro...

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Anónimo 4
Anónimo disse…
O senhor o disse.

Anónimo N
Anónimo disse…
GEF???? Está um silêncio ensurdecedor no galinheiro.