Nunca é demais voltar ao tema da regionalização, especialmente porque não temos regionalização e o centralismo é asfixiante.
Portugal é dos países mais centralistas da União Europeia, senão mesmo o mais centralista. Cruzando-se os dados da OCDE, FMI e Eurostat, conclui-se que Portugal apresenta um grau de descentralização de 14%, medido no grau de participação da administração não central (regional e local) no orçamento de estado. Em Espanha os valores são de 43%, 35% em Itália, 38% na Finlândia, 25% na Estónia, 30% na Letónia, etc., etc..
Muitos já estão fartos de ouvir falar de Espanha. Mas é um bom caso de estudo, com algumas semelhanças a Portugal e um país que saltou para os 10 países mais ricos do mundo.
Em Espanha, em 1987, o governo central usufruía de 70% do Orçamento de Estado e em 2004 apenas 50%. Entre 1987 e 2004, a administração pública local espanhola (Ayuntamientos) conservou cerca de 13% do Orçamento de Estado, mas as Comunidades Autónomas, muitas delas da dimensão das regiões portuguesas, aumentaram a sua participação no Orçamento de Estado de 18% para 35%. Também isto contribuiu para o salto de Espanha.
A regionalização, sob diversas formas, é uma opção administrativa largamente maioritária na União Europeia e a razão é clara: os problemas locais e regionais são melhor resolvidos por estruturas locais e regionais. Com o poder e as decisões a concentrarem-se em Lisboa ou em lugares nomeados por Lisboa tudo se torna mais lento, mais burocrático e mais propenso a erros de análise de quem não conhece os problemas no concreto.
A inexistência de Regiões Administrativas em Portugal conduziu a assimetrias regionais desastrosas: o interior desertifica-se e as regiões do Alentejo, Centro e Norte estão em quebra económica e social. Mesmo o Algarve está num impasse e a situação não está pior porque o turismo tem sido uma almofada.
É este o contexto da regionalização. Quanto ao resto e às conversas de mais gastos ou mais tachos pode-se constatar que não passam de mitos e o resto são discursos demagógicos.
Serão apenas 34 os membros dos Executivos das Juntas Regionais e ao mesmo tempo desaparecem 18 Governadores Civis e pelos menos 10 presidentes e vice-presidentes de Comissões de Coordenação Regional. Entre outros cargos regionais que poderão ser suprimidos constata-se que os novos lugares não vão aumentar o número de cargos políticos e, de facto, do que iremos beneficiar é que os actuais lugares existentes que estão dependentes de interesses partidários irão ser substituídos por outros que serão eleitos e escolhidos pelo povo.
Por outro lado, não é preciso mais orçamento ou funcionários, porque as Regiões Administrativas irão ficar com os orçamentos e funcionários das Comissões de Coordenação Regionais, Governos Civis, Direcções Regionais de Economia, Agricultura, Saúde, etc. A diferença é que deixarão de ser orçamentos e funcionários geridos por políticos nomeados pelos partidos e passarão a ser geridos por pessoas eleitas e escolhidas pelo povo.
Mesmo o argumento que se vão multiplicar os erros das Câmaras Municipais é falacioso. Porque os males do Estado não estão no poder local. As Câmaras administram cerca de 10% do orçamento de estado e a sua parte da despesa também ronda os 10%, mas são positivamente responsáveis por quase metade do investimento público e ainda apresentam saldo positivo. As Câmaras não são responsáveis pelo défice e gerem bem. Obviamente que poderão haver Presidentes melhores ou piores, mas a beleza das eleições é que estas permitem sempre escolhermos outro. Com a regionalização também teremos a possibilidade de escolhermos quem consideramos melhor para gerir a região.
Sendo que a regionalização, ao traduzir a legitimação democrática e a eleição directa de quem governa na região, também significará que teremos pessoas com poder e peso representativo, institucional, político e negocial reconhecido por todos os agentes públicos e privados, regionais, nacionais e europeus. Teremos o que não temos agora: dirigentes com poder para defender o Algarve.
Escolher quem gere a região, combater a burocracia e fazer mais e melhores obras com menos dinheiro e são as grandes vantagens da regionalização. Não ter regiões administrativas ou continuar a adiá-las significará manter um caminho de aprofundamento das desigualdades regionais, desertificação do interior, dinheiros mal gastos e um país eternamente na cauda da Europa.
Comentários
Existem esquemas que podem por em causa a necessária renovação democrática, como tal a limitação de mandatos é essencial para uma sã vida democrática das futuras regiões administrativas de Portugal continental.
Regiões Administrativas ou, na melhor das hipóteses, as Regiões Autónomas, sendo conveniente não esquecer a melhor alternativa (arenção aos custos de oportunidade nas decisões políticas).
Este "blogue" seria um local excelente para se discutir o que vale a pena fazer para uma regionalização com resultados palpáveis em termos de desenvolvimento e com novos protagonistas políticos.
Assim seja, amen.
Sem mais nem menos.
Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Excelente artigo.
Em poucos parágrafos tocou em todos os pontos críticos desta matéria da regionalização e dos custos da não regionalização.
Cumprimentos,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,
Neste "post" de grande perspicácia analítica sobre a regionalização, causas e consequências da sua não implementação, dá-se uma ênfase desproporcionada às regiões administrativas, sem sequer admitir a alternativa das Regiões Autónomas.
Por outro lado, a afectação dos recursos humanos às futuras regiões administrativas baseia-se no critério do "arrebanhamento" do pessoal afecto actualmente aos organismos mais especializados no "administrativismo" da "coisa pública": CCDR's, Governos Civis, etc., etc., etc.
Com esta solução nunca existirá estratégia política e, dentro desta, nem sequer ambição para delinear e implementar as políticas sectorias e funcionais que privilegiem as características e as potencialidades de cada Região Autónoma e a inovação permanente nos objectivos políticos(nem quero saber do simplex, do prace e quejandos, já que são apenas instrumentos).
Por isso, regionalização autonómica em frente, com novos protagonistas e verdadeiras políticas nacionais, sectoriais e funcionais, com respeito pelas características de cada região autónoma.
De outro modo, será mais um fracasso político e social, para de fracasso em fracasso, comemorarmos a derrota final (proximamente, a Estónia e a Eslováquia já nos vão ultrapassar; que diabo, nós já estamos na UE há mais de 20 anos; aqueles 2 países, somente há 3 ou 4).
Afinal, o que é que os nossos políticos andam a fazer e o que querem para o País?
- Ah! Mas nem tudo é mau!, podem afirmar entusiasticamente alguns.
Pois não; imaginem que era tudo, tudo mau.
Enfim, a habitual "cepa torta"
Assim não fosse, mas continua a ser.
Sem mais nem menos.
Anónimo pro-7RA. (sempre com ponto final)