Regionalização – Um Dever na Nova Europa



A situação actual

O modelo administrativo vigente em Portugal é centralista, fomentador das desigualdades regionais periféricas e emperradoras do processo de modernização e desenvolvimento.

Os 308 municípios vivem bastante isolados, sem qualquer poder eficiente perante o Governo. Um planeamento de infra-estruturas moderno esbarra, muitas vezes, nas fronteiras concelhias. Isto possibilita abusos das superstruturas económicas e políticas, atendendo à impossibilidade de elaboração de projectos válidos coordenados que implicariam projectos e planos alargados. .

As cinco áreas regionais do turismo, em que Portugal está dividido, Porto e Norte, Beiras, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve, têm um carácter de gestão administrativa que não poderá servir de exemplo para uma política regional que se preze. À racionalização e modernização da administração pública deve preceder a divisão político-administrativa do país.

O “Tratado de Lisboa” regulador da União Europeia, ao incluir a possibilidade das regiões interferirem directamente no processo legislativo terá como consequência uma maior organização e consciência regional. Só as regiões bem organizadas e fortes terão hipótese de fazer valer os seus interesses. Deste modo cada Estado tem dois instrumentos de intervenção em Bruxelas, através do governo central e das regiões.

Nos países desenvolvidos há sempre uma concorrência entre o centralismo e o regionalismo. Em Portugal, sempre encostado ao modelo francês, não dá possibilidade de a província se articular devido à sua contínua sangria. Em Portugal o centralismo já clássico tem sido um factor de atraso da “província” e assim o atraso crónico de Portugal. Embora o povo mostre grande capacidade de adaptação e de modernização as elites não têm conseguido persistência nem ideias condutoras. A multicoloridade e a diferenciação paisagista regional deram lugar à monotonia das cores ideológicas.

Aspectos positivos da Regionalização

O centralismo tem acentuado a injustiça e o atraso de Portugal. A nível histórico, Portugal sabia, no início da organização nacional manter a diferença salvaguardar os interesses económicos e os biótopos culturais através de representações políticas incardinadas no povo e na cultura, na região e não na ideologia. Além do país adquirir mais força de pressão em Bruxelas, o mais importante seria o facto de as regiões adquiririam maior competência cultural, legislativa e económica, como se pode verificar em países mais desenvolvidos. O poder estaria mais perto do cidadão. As Câmaras Municipais demasiadamente limitadas nas suas visões e planos seriam obrigadas a concepções e planificações supra-regionais mais alargadas e mais eficientes para a população. Possibilitar-se-iam sinergias e uma racionalização modernizadora das administrações locais.

A região adquire mais força.

A regionalização implicaria mais democracia, mais força municipal / regional e capacidade para se poder impor perante o Governo Central impedindo um dirigismo alienante dum estado que tem sugado a província em favor da macrocefalia, à custa da subserviência individual estrutural.

Portugal tornar-se-ia mais rico, mais justo, mais equilibrado e mais moderno.

Aspectos negativos da Regionalização

As propostas que até agora têm sido apresentadas à discussão pública contemplando a criação de cinco a dez regiões é mais cara e de carácter burocrática, além de fugir à solução do problema português.

Pode implicar mais, em certos casos mais burocracia e mais gastos. Naturalmente que, num momento em que o europeísmo se tenta afirmar, pode estar, por detrás da intenção política regionalista, mais que o interesse pelas regiões, o interesse em desmantelar o Portugal dos municípios para criarem um corredor político de Bruxelas até aos municípios, tal como já vão fazendo nas administrações. Neste sentido ganhariam as forcas dominantes económicas e políticas à custa da província.

O sistema partidário ideológico e centralista receberia a oportunidade de tudo controlar desde a cúpula até à base, através duma rede coesa. Isto veria acentuar a prepotência partidária já existente que cada vez problematiza mais a eficiência do sistema democrático.

Poderia assistir-se a um partidarismo ainda maior de todas as estruturas administrativas, tal como se observou após o 25 de Abril e ainda se constata hoje no Ministério da Educação, tendo-se a esquerda apossado praticamente de toda a administração educativa. O perigo do controlo centralista seria neste caso maior. Os problemas das benesses e do nepotismo, hoje vigentes nas estruturas centrais e locais, continuariam mas mais disseminados e impenetráveis.

O sistema de partidos vigente, com as suas obediências partidárias, acentuaria o conflito entre o interesse partidário e o interesse regional. Para se mitigar este mal teria de haver deputados das regiões com representatividade no parlamento, tal como acontece na Alemanha.

O facto de Portugal ser um estado uno a nível de povo, território e língua é uma vantagem mas que devido, ao desleixo do centralismo e à inexistência de concorrência entre regiões (porque não têm hipótese de verbalizar eficientemente os seus interesses), se tem revelado muito negativo para o desenvolvimento regional e nacional.

Pressupostos para uma regionalização oportuna
A discussão pública do problema deveria surgir do meio da sociedade, do empresariado médio e pequeno e das universidades.

A globalização pressupõe a integração das regiões geo-culturais, sem as destruir. Sou do parecer que uma regionalização séria e profícua para o nosso país não pode partir da existência de mais de 3 regiões autónomas continentais. Teria de seguir um modelo de autonomia com governo e parlamento regional. Sem autonomia regional a discussão não passa duma mascarada. Para isto basta seguir o exemplo da Alemanha, país bem organizado com grande peso das regiões na sua política e administração, que, por razões económicas e de eficiência, procura reduzir as suas regiões (16 estados). A boa integração das regiões no estado alemão irá ser um factor de grande importância para a defesa dos interesses alemães em Bruxelas, mas com que ninguém ainda sonha.

As divisões geográficas manteriam as actuais câmaras e em parte os actuais distritos com competências de administração directa a definir. Uma divisão em Região Norte, Região Centro e Região Sul, cuja delimitação se baseie no reagrupamento das antigas províncias, cada região com acesso ao mar, criaria garantias económicas de autonomia real. Isto pressuporia, naturalmente um sistema de compensação solidária entre as regiões, tal como é praticado na Alemanha com um transfer de capital das regiões mais fortes para as mais desfavorecidas. Poderia haver um agrupamento de governadores civis baseado no reagrupamento das antigas províncias. As três regiões autónomas, com presidente e parlamento próprio, obteriam força capaz de interferência real efectiva.

A regionalização provocaria o surgir de partidos regionais, já não baseados na ideologia mas nas necessidades concretas e específicas da região.
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Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Não poderei estar de acordo com os aspectos negativos da regionalização referenciados nesta intervenção.
Centra-se muito nos aspectos administrativistas da regionalização e não a integra nas exigências de desenvolvimento autosustentado e equilibrado, a partir dos altos desígnios nacionais.
Não compreendo como é que nenhum político actual ainda não aproveitou a ideia de o projecto político da regionalização autonómica para dar "a volta ao texto político" do nosso País, transformando-o num programa eleitoral e, depois, num programa de governo, pois se o fizer, ganhará as próximas eleições legislativas com um programa inovador que terá de ser também exigente.
Por tudo, a insistência nas 7 Regiões Autónomas, com as características exigências de natureza política amplamente aqui divulgadas.

Assim seja, amen.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
hfrsantos disse…
Creio que fica claro para todos que estamos de acordo que é preciso criar Governos Regionais em Portugal continental.

Uns pensam que sao precisos 3, 5 ou 7 Governos Regionais para melhor Governar Portugal continental.

Eu exponho as minhas razoes porque defendo 5 Governos Regionais:

- 5 Governos Regionais sobrepoem-se ao mapa das NUTsII da UE.
O mapa esta feito, foi bem pensado e é bem aceite por muitos portugueses e pela Uniao Europeia para a distribuiçao de fundos europeus regionais em Portugal.

- A eleiçao dos representantes para a Assembleia Regional sera PROPORCIONAL ao territorio e a densidade de populaçao.
Um voto de Tras-os-Montes vale o dobro de um voto do Porto e um voto de Vila-Real vale 1,5 vezes mais que um voto do Porto de forma que Tras-os-Montes tenha o mesmo peso politico na Assembleia Regional embora tenha muito menos populaçao que o Porto. O mesmo para a Regiao Centro entre Coimbra e as restantes cidades da Regiao Centro.

- O Alentejo e o Algarve sao duas regioes independentes e bem consolidadas, com anos de historia, que merecem ter cada uma o seu Governo Regional por motivos historicos e de diferenças abrutas da sua realidade atual.

- 5 Regioes porque nao se desperdiça dinheiro em criar 7 Governos Regionais e respectivas Assembleias Regionais e Tribunais Regionais que parecera demasiados tachos para os eleitores.

- 5 Regioes porque é o compromisso entre nao despesismo e formar Governo Regionais que respeitem as diferenças historicas entre Alentejo e Algarve e entre o Centro e o Norte e porque as Regioes NUTs II estao feitas e aprovadas pelo Governo e pela UE.

De todas as formas votarei sempre sim no Referendo a Regionalizaçao mesmo que seja so para criar a Regiao piloto no Algarve.
Com o centralismo de Lisboa é que nao vamos a lado nenhum e a prova sao estes 30 anos de alargar as diferenças entre Lisboa e o resto do Pais em desenvolvimento economico, social e de oportunidades.

Regionalizaçao é preciso também para Portugal Continental, nisto estamos de acordo.
Anónimo disse…
Caro hfrSantos,

A ineficácia da gestão orçamental do Estado está mais dependente da forma como têm sido mantidos os métodos da sua execução, tanto do lado da receita, como sobretudo do lado da despesa (perfeitamente inelástica, pelas razões que todos conhecem) do que do futuro figurino das regiões a implementar no nosso País.
Sendo assim , haverá que propor e delinear uma solução que faça o aproveitamento total dos nossos recursos endógenos, com a imprescindível mobilização geral das populações para se atingirem os objectivos de desenvolvimento autosustentado e equilibrado, no quadro de altos desígnios nacionais de: soberania, desenvolvimento económico e social, conhecimento e tecnologia e equilíbrio social.
Por isso, a única fórmula que permitira tais desígnios só terá sustentabilidade com as 7 Regiões Autónomas e nunca com soluções administrativistas e de vistas políticas curtas, estas sim as que habitualmente têm consumido ineficazmente os recursos do Orçamento do Estado.
Ou estão convencidos que o problema do défice orçamental já está ultrapassado? Como se poderá ser tão ingénuo (ou interesseiro)? Esta convicção é muito anterior à recente declaração de crise que vem assolando todos os países, mais uns que outros.

Assim não fosse, mas vai continuar a ser até à implementação das 7 Regiões Autónomas.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
hfrsantos disse…
Creio que a Regionalizaçao a 7 Regioes Autonomas para o continente poderia trazer ainda maior autonomia para o interior das Beiras, Vila Real e Tras-os-Montes.

Nao é uma ma ideia, existiriam mais Governos Regionais no continente que seriam porventura mais pequenos e com um budget menor.

O dificil é chegar a um concenso politico e depois convencer o eleitorado.

E ja agora o mapa da Regionalizaçao a 8 regioes referendado em 1998 nao era assim tao mau: Lisboa e a sua Area Metropolitana seriam uma Regiao Autonoma.

A Regiao Oeste seria outra regiao Autonoma. O contraste de desenvolvimento entre Lisboa e a Regiao Oeste é abismal e é claro que a capital nao investe na sua periferia: uma viagem de comboio entre Lisboa e Leiria demora 4 horas em 2008.

Gostaria de saber a vossa opiniao sobre o mapa de Portugal regionalizado a 8 regioes como referendado em 1998?
Anónimo disse…
Caro hfrSantos,

Em termos de regionalização, o diagnóstico que apresentou está correcto, a doença dele decorrente é exactamente a que classificou, mas a solução terapêutica que propôs revela-se totalmente inócua, precisamente na região que mais precisa que "olhem" por ela para se não tornar ingovernável, a curto prazo.
Por outro lado, não menos IMPORTANTE, é necessário contrapor a necessidade de desenvolvimento da região em que se integra a cidade-capital, para a obrigar a "distribuir" o desenvolvimento por uma maior área geográfica em seu redor e encontrar, por esta via, uma solução mais equilibrada e autosustentada.
Daí, a necessidade de se integrar as Províncias da Estremadura e do Ribatejo numa única região autónoma com o mesmo nome, para assegurar uma maior e melhor governabilidade de um todo geográfico, económico, social e humano segundo critérios que TÊM DE SER ESTENDIDOS às restantes 6 Regiões Autónomas, a fim de evitar novas e excessivas centralidades (Porto, Coimbra, Évora e Faro, para além de Lisboa) e reduzir as assimetrias de desenvolvimento que apontou para a região que designou por "Oeste".
Por tudo, a criar serão NUNCA 8, mas as 7 Regiões Autónomas, a saber:
* Região Autónoma de Entre Douro e Minho:
- Província do Minho
- Província do Douro Litoral
* Região Autónoma de Trás-os-Montes e Alto Douro:
- Província de Trás-os-Montes e do Alto Douro
* Região Autónoma da Beira Litoral:
- Província da Beira Litoral
* Região Autónoma da Beira Interior:
- Província da Beira Alta
- Província da Beira Baixa
* Região Autónoma da Estremadura e Ribatejo:
- Província da Estremadura
- Província do Ribatejo
* Região Autónoma do Alentejo:
- Província do Alto Alentejo
- Província do Baixo Alentejo
* Região Autónoma do Algarve:
- Província do Algarve

Assim seja, amen.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)