As toupeiras da democracia

Apenas quem nunca carregou uma pedra é covarde bastante para, à sorrelfa, destruir os alicerces de um castelo: as toupeiras.

Trabalho na Câmara Municipal de Alijó há muitos anos e sinto uma enorme felicidade por isso. Na área técnica a que estou profissionalmente ligado, a cultura, em tempo algum apresentei uma ideia, um projecto, que não tenha sido, no mínimo aceite para discussão pelos dirigentes políticos.

Isto apesar de nem sempre ter, politicamente, apoiado as administrações municipais com as quais trabalhei! Todavia, dei, em todo o tempo, a cara por tudo o que disse, escrevi ou fiz. A democracia constrói-se, não se apregoa!

O facto de ser um adepto ferrenho da regionalização política e administrativa do país - sei que a Regionalização, sim, Regionalização e não descentralização, desconcentração e eufemismos da parentela, não será remédio para todas as maleitas de Trás-os-Montes e Alto Douro, mas lá que é bem capaz de nos ajudar a bater o pé com mais força ao poder da capital da reinação, lá isso é – não me inibe de admitir que as Autarquias Locais têm feito um trabalho sem medida para que continue a ser possível viver nesta região. Viver com qualidade e em democracia, entenda-se.

Como transmontano resistente estou grato a um punhado de autarcas que vêm sonhando o impossível para os respectivos municípios com o mesmo afinco que o lavrador destas terras põe no seu dia-a-dia. De sol a sol.

Entre muitos outros sonhos feitos realidade, quanto foi preciso sonhar para que a praia do Azibo, Macedo de Cavaleiros, seja, reconhecidamente, uma praia de excelência? Quanto foi preciso sonhar para que a Cidade de Vila Real ganhasse, como já ganhou, estatuto de Cidade Chão de Cultura? Quanto foi preciso sonhar para que nascesse o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais em Bragança? Quanto foi preciso sonhar para que enraizasse em Alijó uma Pousada da Juventude?

Vem o intróito a propósito de, nestes tempos de campanha eleitoral e um pouco por todo o lado, quais toupeiras na horta, andarem por aí a rastejar (na Internet, a maior soma de entre eles; em papel com direito a selo, alguns) boatos de todo o tamanho e feitio.

Todos, ou quase todos, visam a acção, pública e privada, dos presidentes de câmara, ou vereadores, que se recandidatam. De igual modo, todos ou quase todos os boateiros acusam os Executivos Municipais de, entre muitas outras enormidades, castrarem a liberdade dos funcionários das Autarquias. Como se os funcionários das Autarquias, homens e mulheres adultos, precisassem de tutores!

Estes boateiros - eu chamo-lhes toupeiras – põem-me a pensar na falta de qualidade, de qualidades, de alguns políticos ou candidatos a políticos. Gente que pretende chegar ao poder apregoando, durante o dia, remédio para todos os males, e apregoando, durante a noite, veneno para gente sã! A democracia constrói-se, não se apregoa!

O senhor António – um abraço de gratidão cá de baixo aí pra riba - homem que me ensinou, entre tantas coisas, que “boato é pregão de toupeira”, deu-me mando, num daqueles dias de Junho em que o nevoeiro mijão pulverizava míldio a esmo pela vinha, para que botasse na minha “memória”:

- Antes míldio na vinha que toupeira na horta.
- Então porquê? – perguntei-lhe.
- É que o míldio, Jorge, a gente dá por ele mal entra na vinha e com uma volta de sulfato salva-se a colheita. Quanto às toupeiras… entram-nos na horta e só sabemos que por lá andaram quando damos por tudo morto.

Comentários

Eira-Velha disse…
Um abraço para o meu amigo Jorge Laiguinhas (não sei se se lembra de mim) e os meus parabéns pela clareza da mensagem.
Eira-Velha disse…
Peço desculpa pela intrusão daquele inconveniente u
no Laiginhas...