Norte gastará 330 milhões a pagar gestores de Lisboa

Norte gastará 330 milhões a pagar gestores de Lisboa

Alteração a fundos comunitários destinados a recuperar regiões pobres permite mais desvios
00h30m

ALEXANDRA FIGUEIRA, com C.M.A. e A.I.
A mudança do regulamento dos fundos comunitários feita pelo Governo durante a campanha eleitoral permite usar verbas destinadas às regiões mais pobres para financiar os gestores dos programas, em Lisboa.

Em causa estão dois dos três programas negociados com Bruxelas para desenvolver as regiões mais pobres, chamadas de convergência. O Programa Operacional do Potencial Humano, sediado na Av. Infante Santo, em Lisboa; e o Programa Operacional dos Factores de Competitividade, cuja sede fica na R. Rodrigues Sampaio, também na capital.

Cada programa tem uma equipa de gestão, com filiais no país e sede em Lisboa. Ambas custarão perto de 700 milhões até ao fim do actual envelope financeiro da União Europeia. Daí, 95% poderá ser imputado às regiões mais pobres; e, daí, cerca de metade acabará inscrito na contabilidade do Norte, mas gasto na capital, ou seja, perto de 330 milhões de euros (200 milhões ao Centro e 133 ao Alentejo).

Isso mesmo está previsto na alínea b) do artigo 5º do Regulamento Geral do FEDER e do Fundo de Coesão: "Constituem excepções ao critério de elegibilidade territorial (...) a Assistência Técnica à intervenção dos Fundos Estruturais". Isto é, as equipas de gestão ficam de fora da regra territorial, segundo a qual só as regiões mais pobres (assinaladas a vermelho no documento do próprio Governo, a que o JN teve acesso) podem beneficiar dos fundos.

Além de passar a permitir pagar a despesa das equipas de gestão com dinheiro originalmente destinado às regiões pobres, as mudanças feitas pelo Governo ao regulamento especificam que também podem ser financiados com estas verbas os investimentos em Lisboa que, diz o Executivo, podem beneficiar o resto do país. Esta excepção, segundo apurou o JN, estava prevista numa Resolução de Conselho de Ministros mas não nos regulamentos do FEDER e do Fundo de Coesão.

O Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território, que tutela o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), tem sido questionado pelo JN sobre a matéria, mas até hoje não deu qualquer resposta.

Só Portugal pode desviar fundos

Dos 27 países da União Europeia, só Portugal pode usar fundos destinados a desenvolver as mais pobres para investir numa região considerada rica (no nosso caso, Lisboa). O regime de excepção, chamado efeito de difusão, está contemplado no Anexo V e foi negociado entre o Governo português e a Comissão Europeia em 2007, com o objectivo de cobrir "necessidades específicas", afirmou fonte da direcção de política Regional da União. No caso, disse, tratava-se de colmatar o facto de Lisboa ter um rendimento per capita superior a 75% da média europeia e, por isso, já não poder receber fundos de coesão.

A mesma fonte adiantou que, "em todas as negociações do QREN e programas operacionais, surgiram necessidades específicas" negociadas individualmente.

A existência do princípio de excepção é aceite - desde que com uma aplicação "altamente criteriosa e excepcional" - por Carlos Lage. O presidente da Comissão de Coordenação da Região Norte diz ter sido sempre contra "a introdução do mecanismo chamado de 'efeito de difusão' no QREN", que classifica de "controverso". E acrescenta que, "não foi a grande concentração de investimentos na capital que fez o país crescer como um todo ou diminuir as assimetrias de desenvolvimento regional".

Da parte da Comissão de Coordenação de Lisboa, Fonseca Ferreira - que deixou o cargo para se candidatar à Câmara de Palmela - classificou de positiva a transferência de verbas para a capital, que "tem sido altamente prejudicada", e de "extemporânea" a queixa da Junta Metropolitana do Porto, porque o Porto "não vai perder fundos".


Fonte: JN.



Comentário:
Con tantos "gestores" não admira que o país esteja como está. Chega de vigarices. E ainda por cima se permitem dizer que Lisboa tem sido "altamente" prejudicada! Só pode ser a brincar...



L. Seixas.

Comentários

Vimara Peres disse…
Mais uma vergonha no nosso pais, por estas e por outras a regionalização deveria ser feita o mais urgente possivel, estamos fartos de andar a trabalhar e pagar impostos para os outros terem beneficios, são aeroportos, tgv, expos, etc...
No Norte onde a taxa de desemprego e maior e onde existe mais PME's em dificuldades, levam os subsidios que eram destinados para esta região.

http://povomaisforte.blogspot.com/
JOSÉ MODESTO disse…
Situação paradigmatica esta, além do défice que Lisboa nos cria, ainda temos esta noticia.
De que precisamos para que a Regionalização venha?

Saudações Marítimas
José Modesto
Rui Farinas disse…
De que precisamos? De deixar de dobrar a cerviz à capital,de nos unirmos num desígnio comum,e de encontrarmos um lider à altura.Facil de dizer,dificil de concretizar.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Regionalsitas,

A este propósito (mau), já respondi no "post" anterior a este com a necessária veemência.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Skedsen disse…
Como pode isto ser possível? É por estas e por outras que o nosso País não anda para a frente.E como poderia ele andar para a frente com uma chusma de ladrões deste calibre.
Pagar aos gestores de Lisboa? Que vão trabalhar no duro que eu tanbém trabalho.Vergonha,vergonha,vergonha...