«Portugueses devem decidir sobre a regionalização, mas mais tarde»

Paulo Rangel acusou, na Guarda, os Governos de António Guterres e de José Sócrates de terem deixado o país «numa situação dramática». O candidato à presidência do PSD foi o primeiro a falar com os militante do distrito, numa sessão realizada na passada sexta-feira, onde assumiu que «libertar as famílias, as empresas e o Estado do peso da dívida» e acabar com a «injustiça territorial».

Perante mais de meia centena de militantes, o eurodeputado considerou que o PS «esmagou para baixo a classe média», pelo que é necessário apostar na educação para o país ter uma classe média forte: «Precisamos de rigor, autoridade e exigência nas escolas e não esta em que importa mais a estatística para mostrar no estrangeiro. Aliás, a marca Sócrates nesta área é a falsificação estatística e a facilitação dos exames», criticou. Paulo Rangel disse também quer avançar com o ensino técnico-profissional para dar «profissões aos jovens». O candidato defendeu depois uma das suas medidas mais badaladas, a de colocar os presidentes das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) no Governo, como secretários de Estado, como forma de resolver as assimetrias: «É uma proposta para aplicar já, enquanto devem ser os portugueses a decidir sobre a regionalização, mas mais tarde», sustentou.


Paulo Rangel referiu que as regiões Centro, Norte e Alentejo estão numa situação «de grande empobrecimento e de grande divergência no contexto nacional», pelo que serão as primeiras a seguir este modelo que lhes garantirá «convergência com as zonas mais ricas, como o Algarve, Lisboa e Vale do Tejo ou a Madeira». Na sua opinião, graças a estes «embaixadores», as regiões em causa terão «mais força e capacidade de actuação no terreno». E garantiu que, com ele como primeiro-ministro, «acabará o desvio das verbas do QREN para Lisboa. Antes do candidato, Rui Quinaz, mandatário distrital, sublinhou que Paulo Rangel é «uma fortíssima esperança» para os sociais-democratas, mas também para os portugueses, enquanto Álvaro Amaro, presidente da distrital, elogiou as suas propostas para esbater as assimetrias entre interior e litoral. Tudo indica que Pedro Passos Coelho seja o próximo candidato a presidente do PSD a vir à Guarda, numa sessão que deverá ocorrer na próxima semana. Entretanto, José Pedro Aguiar Branco escolheu Júlio Sarmento, autarca de Trancoso e presidente da Assembleia Distrital do PSD, para mandatário da sua candidatura, não havendo ainda uma data para a sua vinda ao distrito.


Jornal O Interior (Guarda, Beira Interior), 11/03/2010

Comentários

templario disse…
Caro Afonso Miguel,

Pela destaque que dá neste post a Paulo Rangel - que parece ter agarrado na minha ideia expressa num comentário neste blogue no dia 19 fevereiro sobre descentralização (nunca a ouvi ou vi escrita antes ), como tábua de salvação para se aproximar dos defensores da regionalização no interior do PSD, sendo curioso que o escrevi como "cedência aos regionalistas", o mesmo que ele está a fazer, cujo "plágio" muito aprecio... (aquela da equiparação a secretários de estado para os chefes das CCDR's), solução que apoio, embora com importantes diferenças -, mas como ia escrevendo, o destaque sem comentários que dá neste post a Paulo Rangel, parece revelar sérias hesitações sobre a regionalização como a tem vindo a defender neste blogue.

Se assim é, e nestas coisas o que parece é, felicito-o: primeiro porque era uma forma de rigorosa conjugação do poder central com o municipalismo; segundo, porque era uma descentralização política e administrativa que não punha em perigo a unidade nacional. Numa atitude de boa vontade para justas reivindicações das regiões interiores.

No entanto, e não sendo votante do PSD, sem querer meter foice em seara alheia, Passos Coelho parece-me um jovem político mais acertado com o país, uma agradável surpresa da nova geração, pese embora o seu liberalismo exacerbadamente esteriotipado, certamente devido à sua juventude.

Resumindo: Paulo Rangel é cínico, demagogo, anda à cata de palavras e frases que agradem à área velha do partido, do passado, ao reumático do pós 25 de Abril; Aguiar Branco é uma pessoa honesta, mas não tem o perfil demagógico que os psd's gostam para os carrear para o poder; quanto a PPCoelho tem pinta, gostei do discurso dele ontém à noite e parece-me uma lufada de ar fresco na política portuguesa (de direita). Gostei daquela em que responsabiliza não só o setor público, mas também o setor privado pelo nosso atraso.

Excepto aquela das desculpas a AJJardim, uma verdadeira catástrofe. Há sempre alguém em Portugal a dar-lhe palco para brilhar, quando começa a estar ignorado e reduzido ao que na verdade é: um pouco mais que Presidente de Câmara, com 300.000 habitantes, onde se mantém há 35 anos!

O que leva uma pessoa a estar 35 anos na mesma cadeira do poder? O caro Afonso Miguel, jovem, interessado na vida pública, reserve um dia para pensar sobre isso.

Aconteceria o mesmo nas pretendidas famigeradas juntas regionais.

Porém, como o PSD é um partido frentista, de muitos bandos e ranchos, com raízes no marcelismo do Estado Novo, lá vimos Passos Coelho com o Mendes Bota à ilharga, o "remexido" regionalista algarvio, a quem já deve ter prometido a tal "experiência" regionalista no Algarve... para caçar votos. Tal como fez Santana Lopes tempos atrás.

Para terminar: o que aqui digo do PSD e seus dirigentes, aplica-se aos outros partidos. É por isso que continuo a insistir: a revolução a fazer é no nosso sistema partidário tomado por camarilhas que continuarão a desgraçar os portugueses. Sendo o Afonso Miguel um jovem, o melhor é ir à luta lá dentro, gastar as suas energias inteletuais e físicas para correr com a malandragem que neles se alapou, para manjarem à mesa do OE. Físicas, sim! Olhe que muitos deles só à porrada é que saiem de lá e do aparelho de Estado.