O pequeno Norte

Longe vão os dias em que o Poder Local era vigoroso, capaz e livre de angústias. Nesses tempos, a comunicação social tratava de ouvir os seus protagonistas, de lhes louvar a obra e as atitudes. Foram os primeiros 25 anos desde as eleições de Dezembro de 1976, e foram, também, os anos em que havia muito para fazer e fazia sentido fazer.
O Poder Local é hoje um bombo de festa porque muitos dos seus protagonistas descuidaram a boa gestão, descuidaram as opções criteriosas e descuidaram, de forma dramática em alguns casos, a sua imagem. Mas é também o bombo de festa porque as mais recentes levas de lideranças municipais se enlevaram nos seus pequenos “condados” não assumindo uma estratégia que fosse de um entendimento mais alargado, mais amplo territorialmente. Há exceções? Claro que há e são muito relevantes, mas são amarfanhadas pelo genérico!
Olhando o Norte sempre diremos que o anátema que se abateu sobre o Porto em 2001, se alargou ao todo o acima Douro. A perda do fulgor de Mesquita Machado, afirmador de uma Braga prestigiosa, ou de Jorge Nunes, que nos seus dois primeiros mandatos se assumiu como voz cuidada e ponderada nas questões regionais, associada à desocupação política do cargo de Presidente da Câmara de Vila Real e à tardia chegada à cena do tecnicamente bem preparado Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, fazem um caldo de ausência de opinião e de afastamento dos media que se tornou perigosíssimo.
Nos últimos meses ouvimos alguns dos protagonistas do espaço político portuense clamarem por um Porto liderante. Não lhes levamos a mal essas tentativas de ocuparem o espaço comunicacional, de fazerem regressar, ao amor-próprio dos portuenses e das gentes concomitantes, a ideia de que podem voltar a ser grandes. Achamos até que esse tipo de propostas pode fazer algum sentido, e que a área metropolitana do Porto carece de um desafio.
O que nos parece errado é a ausência de uma estratégia por parte dos restantes protagonistas políticos, e aqui estão incluídos, para além dos autarcas, as lideranças partidárias, empresariais e sindicais, como estão as igrejas e os criadores culturais.
Temos para nós que, no dia em que se regressar à Regionalização, a discussão se não fará em torno de espaços regionais que não condigam com as atuais NUT’s II, mas também temos para nós, que não é inevitável a ocupação selvagem da região pelo litoral exíguo que vai de Espinho até à Povoa do Varzim.
Como e o que fazer, então, para voltar a fazer pensar e atuar? Nada de mais incomplexo – comece-se pela exigência de programas políticos integrados e reivindique-se a sua democratização pelo espaço regional; inicie-se uma reponderação dos instrumentos de planeamento e promova-se uma visão integrada e cautelosa de uma realidade de investimentos a partir de 2014; requalifique-se a rede de serviços públicos e promova-se a sua alocação regrada; crie-se um breviário político aceite por todos os protagonistas e incomodem-se os centralismos de todo o tipo, sem provincianismos.
É esta a receita? Não! Esta é uma proposta singela. Não servirá para mais do que para fazer pensar, porque também pelo Norte o fazer pensar é coisa relevante.
 ® 2012.04.23

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