Comboios e as Estações desativadas


A Estação Ferroviária do Arco de Baúlhe – um Exemplo de Valorização Histórico-Cultural de uma Região.

Encerrada em 1990 por questões económicas, a Linha do Tâmega foi em tempos uma ligação muito importante entre os municípios de Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto e Amarante.

O tráfego ferroviário de passageiros e mercadorias passou de um realidade que durou cerca de 81 anos para uma mera miragem interpretada como o atrasar do processo de desenvolvimento da sub-região do Tâmega.

Foi enorme o investimento feito na linha, quer no material dos próprios carris quer nos belos materiais que compõem ainda hoje as inúmeras estações que a alimentaram durante o século XX. A realidade actual é deprimente: a maioria das estações e apeadeiros foram esquecidos e estão a ruir.

O que fazer para contrariar este fenómeno? A estação do Arco de Baúlhe será talvez aquela que melhor estado de conservação demonstra, podendo servir mesmo de exemplo e modelo de reabilitação de espaços carregados de cultura e história.

Tanto os espaços exteriores como os interiores mereceram a atenção da autarquia de Cabeceiras de Basto nos momentos de recuperação da estação, projecto este que visou a reconverção no Museu “Terras de Basto”.

O Núcleo Museológico de Arco de Baúlhe ocupa as antigas instalações de estacionamento de material circulante da estação e reflecte os costumes, as práticas culturais e os momentos de história protagonizados pelo povo das Terras de Basto.

A antiga estação do Arco de Baúlhe é nos dias correntes ponto de paragem para turistas que visitam e usufruem das qualidades da sub-região do Tâmega mas também para as visitas de estudo das escolas locais, onde os alunos aprendem um pouco da história dos antepassados mais chegados.

Ao contrário do que seria de esperar, a estação não morreu mas, graças ao excelente trabalho da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto, ela permanece cheia de vida e tem forte presença na vida e no orgulho dos habitantes da região.

O museu criou algum emprego qualificado (guias) mas também algum pouco qualificado (manutenção e limpezas dos espaços interiores e circundantes), atrai turistas para a região, que “vestem a pele” de consumidores do comércio e dos serviços locais.

Para além de tudo isto, é bom ter noção que caso este cenário nunca se tivesse desenvolvido teríamos hoje mais uma estação arruinada e portanto um ponto negro no mapa.

Embora o exemplo de Cabeceiras de Basto seja muito bom, não é único. Uma das modas nos processos de recuperação de linhas de ferro desactivadas é as ciclopistas. A linha do corgo é um excelente exemplo no Norte de Portugal, dada a construção da pista de ciclismo de 6 km que liga Vila Pouca de Aguiar a Vidago, paralela à linha férrea que ligou estes dois pólos urbanos e encerrou a 1 de Janeiro de 1990.

Mas para além destes exemplos surgem outros, desde a conversão das estações em moradias, espaços de comércio e serviços locais. A principal preocupação deve passar por jamais deixar os espaços destinados ao abandono e à ruína.

O panorama geral da Linha do Tâmega é preocupante pois apenas duas ou três estações são utilizadas, num percurso de 58 km. É necessário dar vida aos locais que no passado foram alvos de grandes investimentos por parte do Estado Português e que ainda reflectem belos traços de arquitectura estrutural, passando por aí também a valorização dos valores culturais, históricos e territoriais das populações assim como o seu contributo para a economia local. 


 André Filipe Castro Pereira
 (artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)

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