Produtores juntam-se aos avisos dos ambientalistas em memorando remetido ao Comité do Património Mundial da UNESCO.
A
concretização do projecto da barragem do Tua põe em risco não só os valores que
estiveram na base da classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património
Mundial, mas vai afectar também de forma irreversível as condições para a
produção de vinhos, designadamente dos vinhos do Porto, que foram um dos
argumentos utilizados pela UNESCO para a sua decisão.
O
alerta consta de um documento que esta semana foi remetido ao Comité do
Património Mundial (WHC, no acrónimo em inglês) e é subscrito, entre várias outras
entidades, por produtores de peso como Quinta do Crasto, Quinta dos Murças
(Grupo Herdade do Esporão) e Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo (Grupo
Amorim). " Serão destruídos vinhedos e a produção e qualidade de vinho do
Porto ficam ameaçadas pelas alterações climatéricas decorrentes da criação da
albufeira", frisa o documento, concluindo que "a barragem de Foz Tua
compromete de forma irremediável a autenticidade e integridade do Alto Douro
Vinhateiro".
Além
destas, muitas outras quintas e produtores da região estão a movimentar-se no
sentido de tomar uma posição pública contra o andamento da obra. O documento
agora remetido ao WHC é o resultado do encontro que a missão de inspecção ao
Douro manteve no início do mês com associações ambientalistas e de defesa do
Tua, que se comprometeram a elaborar um memorando.
O
conhecimento de que também os produtores estão a procurar organizar-se para
contestar barragem chegou apenas nos últimos dias, pelo que só com aqueles três
foi possível estabelecer o contacto para consensualizar o texto.
Aí
se afirma a importância que o vinho e a vinha tiveram na classificação da
região, tal como é expressamente referido na decisão tomada pela UNESCO em
2001, e os receios provocados pela barragem. "A produção de vinho é um negócio
delicado, que depende da conjugação entre conhecimentos ancestrais, tecnologia,
solo e clima. Podem-se duplicar a tecnologia e também, em certa medida, o
conhecimento, mas certamente que não se pode duplicar a combinação de solo e
clima", sublinha o memorando.
"Há
um grave risco de que variações climatéricas provocadas pela albufeira, mesmo
que mínimas, designadamente maior humidade, aumentem a probabilidade do
aparecimento de doenças da vinha, afectando a produção e a qualidade do
vinhos", assinala o documento, frisando que estas são questões que até
agora não foram tidas em conta nem sequer avaliadas.
E
citam mesmo o caso do projecto de construção da barragem de Cela, no rio Minho,
que foi sucessivamente reprovado em 1996 e 2004, precisamente pelos efeitos que
o lençol de água provocaria na qualidade e na produção de vinhos alvarinhos, em
consequência do aumento dos níveis de humidade no ar.
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