A ideia de criação de um único
município por fusão de Porto e Vila Nova de Gaia resulta fundamentalmente da
consideração de uma necessidade evidente: a de dar resposta a problemas intermunicipais
e de âmbito supramunicipal, num contexto territorialmente marcado pela
contiguidade administrativa e pela continuidade urbana.
Certa na identificação do
problema, a proposta é todavia errada, podendo comprometer uma solução capaz de
ser politicamente exequível e minimamente durável.
Em torno deste tema e a propósito
da situação de Gaia e Porto, pretendemos chamar a atenção para a gravidade dos
problemas resultantes da falta de cooperação entre municípios e da inexistência
de uma visão e uma responsabilidade supramunicipal; alertar para as
deficiências, dificuldades e desvantagens de uma fusão entre dois municípios e
contribuir para a identificação de soluções para a administração do território
metropolitano.
Grandes
questões
Em primeiro lugar considera-se
inadequada a fusão de municípios tendo em consideração a apropriação destes
pelas populações que o vêem como referência territorial primordial, com firmes
raízes históricas que, no caso de Gaia, radica até na oposição fundacional da
“vila nova” medieval à cidade do bispo, do outro lado do rio (para não lembrar
Gaia e as associações da margem sul à presença muçulmana, ao contrário do que
terá sucedido a norte).
O município, com a sua designação,
neste caso “Vila Nova de Gaia” e “Porto”, tem grande força no sentimento de
todos, residentes ou não, que foi fortemente aprofundada nas últimas décadas,
através de sucessivos atos eleitorais, de diversas medidas descentralizadoras
do Estado e até em resultado do desempenho e notoriedade dos autarcas.
Em segundo lugar considera-se a
desigualdade dos dois municípios, entendendo-se dever sublinhar que a existir
fusão, do lado de Gaia o território é cerca de quatro vezes superior ao do
Porto (168,7km2 para 41,km2), nele residindo mais pessoas que no município do
Porto (hoje serão já mais de 300.000 habitantes os habitantes de Gaia,
duvidando-se que no Porto ultrapassem os 230.000), razões mais que suficientes
para falar-se em GaiaPorto no lugar de PortoGaia e pensar-se na sede do
proposto município do lado sul do Douro.
Este aspeto, eventualmente
ultrapassado pela união apenas das freguesias inscritas na cidade de Gaia (as
mais setentrionais), colocaria um novo problema, na medida em que não se crê
como razoável que as demais freguesias sejam distribuídas por entre Espinho,
Santa Maria da Feira, Gondomar e Castelo de Paiva, nem que passem a constituir
uma nova circunscrição administrativa, que só se poderia designar por Município
de Sobras de Vila Nova de Gaia?
(…)
Rio Fernandes
Comentários
Uma sugestão: é de aproveitar a mudança e muda-se logo para Gaiaporto e Restos.