O “centralismo do Porto” (supostamente associado à criação de uma Região Administrativa do Norte) será preferível ao “de Lisboa” ?
Posta assim a questão, desta forma (construtivamente) provocatória,
direi que o alegado centralismo do Porto, a existir, será sempre muito
mais justo do que o centralismo atual (é incorreto designá-lo por “lisboeta”).
Porquê?
Primeiro, porque o voto do ‘nortenho’ nessa situação passaria a
ser pelo menos três vezes mais forte do que atualmente, pois o universo
eleitoral da prevista Região Norte (com o Porto) é cerca de três vezes menor do
que o universo nacional (isto em ordem de grandeza, claro). Sendo assim, seria
muito mais fácil a todos os transmontanos e minhotos influenciarem,
com o seu voto, as decisões que viessem a ser tomadas, no Porto (ou noutra sede
regional), sobre os destinos da sua Região, do que misturados com os votos de
alentejanos, beirões, algarvios, lisboetas, ribatejanos, ou ilhéus. Que quando
votam pensam em tudo, menos nas necessidades concretas e específicas das outras
Regiões que não as suas próprias!
Por outro lado, Trás-Os-Montes ou o Minho não ficarão “separados” do resto do
País, com a Regionalização. O “centralismo de Lisboa” continuará sempre a
existir, só que limitado exclusivamente aos assuntos de interesse nacional, nos
quais o voto de todos os portugueses conta em total pé de igualdade!
No entanto, com a existência de órgãos regionais legítimos e
democraticamente representativos, os assuntos e temas políticos de interesse
exclusivo de cada Região (e não
são assim tão poucos) seriam decididos apenas pelos respetivos eleitores, como
aliás já acontece com os Municípios e as Freguesias (e ninguém questiona),
deixando de haver a atual promiscuidade em que todas as Regiões são dirigidas
pelo Governo, que não é “de Lisboa” mas sim de todos os portugueses, que quando
nele votam estão preocupados com as matérias da sua competência e não com os
assuntos regionais! E também os governantes sabem que, quando forem julgados, o
serão pelo que fizeram no País como um todo, e não em cada Região!
Pelo que o voto dos portugueses acaba assim por ser “aproveitado”,
sem que eles disso se apercebam, para esses dois planos distintos, mas sem
qualquer “verdade” no plano regional, pois que nenhum eleitor toma opções nesse
plano quando lhe pedem o seu voto para os órgãos nacionais!
Por isso acredito que, apenas quando as questões sobre a Região
Norte (e serão “apenas” essas) forem decididas, seja no Porto, em Braga, em
Guimarães ou até na Régua, mas desde que com base na legitimidade democrática
do universo eleitoral nortenho, só nessa altura essas decisões serão tomadas
não só com o conhecimento mais apropriado, mas sobretudo com a eficácia, a
transparência e a autenticidade de quem sente estar a “tratar do que é seu”,
argumento que é válido, aliás, para qualquer outra Região deste País, incluindo
a minha (Lisboa e Vale do Tejo), onde as decisões, apesar de serem tomadas na
sua sede, o são com base em critérios de apreciação e numa legitimidade
eleitoral nacionais, que tal como nas restantes Regiões em nada favorecem a
racionalidade, a justiça e a operacionalidade das mesmas!
António Neves Castanho
Comentários
O centralismo do Porto é o maior perigo da regionalização. É preciso ter muito cuidado, há muitos anos que tentam ser capital de algo maior do que o seu distrito, usando o nome norte (nome inventado por lisboetas que nunca passarm Coimbra para cima) para ganhar adeptos.
A questão do TGV Poto-Vigo é um bom exemplo do que poderá acontecer com esse centralismo. Quando o 1º troço da construçao dessa linha foi suspenso, vieram logo os politicos do Porto pedir para usar o dinheiro "europeu" da linha na construção de uma ponte sobre o douro. Engrçado é que o troço de TGV suspenso ligava apenas Braga a Vigo. Ou seja O minho à Galiza.