Eduardo Cabrita diz que o país tem um “pesadíssimo custo com o caos administrativo, de desorganização e opacidade na gestão do território” e critica processo da reorganização das freguesias.
Reforçar o poder das áreas metropolitanas de Lisboa e do
Porto, passando o presidente e a assembleia metropolitana a serem eleitos pelos
cidadãos já nas autárquicas de 2017, “não tem nada a ver com a questão da
regionalização”, vincou esta quarta-feira o ministro-adjunto Eduardo Cabrita.
“O que está em causa é ter um nível autárquico que fale com
legitimidade no espaço correspondente à sua área. Ganhamos eficiência,
transparência na decisão e também responsabilização”, justificou o governante,
durante um almoço-conferência subordinado ao tema “Descentralização e reforma
do Estado” promovido pelo International Club of Portugal, depois de questionado
se o modelo de organização defendido pelo Governo “não estará a criar mais uma estrutura de job for the boys”.
Eduardo Cabrita recordou que este nível supramunicipal é
admitido pela Constituição, que “prevê expressamente a existência de modelos de
autarquias locais nas grandes áreas urbanas – e só temos duas: Lisboa e Porto”.
E argumentou com outra vantagem: “Se alguns destes senhores decidirem mal, nós
temos uma grande arma, a do voto, e podemos substituí-los nas eleições
seguintes. Hoje não temos esse poder sobre nenhuma das instituições que em
nosso nome gerem milhares de milhões de euros [como é o caso dos fundos
comunitários]”.
O governante lembrou que um dos pilares da reforma do Estado
preconizada pelo actual Governo é a descentralização e esta “passa, antes de
mais, por uma reorganização do modelo de organização do Estado”. Há, por isso,
que contrariar a “tradição cultural de matriz centralista, que não é
necessariamente nem de direita nem de esquerda”, mas que se tem revelado
negativa porque vive de uma “cultura de capelinha”, de “minifúndio e de defesa
do seu pequeno espaço de intervenção”. E isso “tem um efeito terrível sobre a
eficácia dos poderes públicos”, realçou Eduardo Cabrita.
Ora, o reflexo do “cruzamento do centralismo com a lógica da
capelinha” faz com que, em Portugal, ao contrário de Espanha ou França, haja
uma “total ausência de coerência no modo de organização territorial do Estado”.
O modelo definido pelo Governo assenta na estrutura das cinco
áreas de planeamento de coordenação regional – as CCDR – e nas duas áreas
metropolitanas. Eduardo Cabrita salienta ainda a questão da transparência.
“Hoje ninguém sabe quem são as pessoas que decidem todos os
dias milhões de euros em nosso nome. Nem são responsabilizáveis
democraticamente nem administrativamente neste caos que é este mecanismo de
decisão com ineficácia.”
“O que está em causa é preparar com tempo e sustentadamente o
que nos permita ultrapassar a pesadíssima irracionalidade da multiplicidade de
matrizes territoriais, com despesas elevadas”, disse o ministro, já olhando
para a negociação do próximo quadro comunitário, que se inicia em 2018. Nessa
altura, o Governo quer já ter o novo modelo de descentralização arrumado para
que o país se apresente em Bruxelas com “coerência territorial”.
Tanto no caso do reforço das áreas metropolitanas como das
CCDR – Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, o Governo tem ainda
o desafio da proximidade, que tem que ser enfrentado através da elaboração do
plano de acção para a descentralização, já aprovado em Conselho de Ministros há
um mês, que engloba grande parte dos ministérios – da Educação, Saúde, Mar,
Cultura, Solidariedade - que estão a “identificar o que tem mais sentido que
seja gerido a nível local”.
Eduardo Cabrita considerou também que a reorganização das
freguesias foi uma “obsessão para troika ver”. “Teve pouco sentido porque a
poupança foi nenhuma, a eficácia acrescida pouca e o efeito externo
limitadíssimo”, apontou, acrescentando que se perdeu uma “grande oportunidade”
para distinguir as freguesias com funções totalmente diferentes. E aproveitou para
deixar outra crítica: “Aquilo que num só dia os contribuintes colocaram no
fundo de resolução para financiar o funcionamento do Novo Banco equivale a 21
anos de transferências para todas as freguesias.”
“Aprofundar
a democracia local”, diz o programa
No seu programa, o Governo prometeu “reforçar e aprofundar a
autonomia local, apostando no incremento da legitimação das autarquias e das
CCDR, abrindo portas à desejada transferência de competências do Estado” para
níveis de decisão mais próximos das pessoas, acompanhadas do devido cheque.
Para “aprofundar a democracia local”, o programa de António
Costa prevê que o órgão de gestão das CCDR seja eleito por um colégio eleitoral
formado pelos membros das câmaras e das assembleias municipais (incluindo os
presidentes de juntas de freguesia) da área de intervenção de cada comissão.
Nas duas áreas metropolitanas (AM) de Lisboa e Porto, “para reforçar a sua
legitimidade”, tanto a assembleia metropolitana como o presidente da AM passam
a ser eleitos pelos cidadãos, nas eleições autárquicas (as próximas são no
Outono do próximo ano). Além disso, as assembleias municipais terão os seus
poderes de fiscalização política reforçados.
Comentários
Finalmente em Portugal os primeiros passos no caminho certo?