Despesas públicas da administração local e regional em % do total
Entre nós, por exemplo, onde esse poder fez prodígios, hoje
não se faz ele sentir quase. Todos os interesses que deviam ser zelados por
municípios estão à mercê de um ministro que reside em Lisboa, e que nem os
conhece, nem devidamente os aprecia.
Daqui resulta o predomínio da capital sobre as províncias, a
pouca vida política destas, a sua anulação, e quase nenhuma acção sobre os
negócios públicos; enfim, daqui vem a influência funesta de certos homens que,
colocados pelo acaso, ou pelos cálculos da sua ambição, no foco onde se
concentram todos os poderes, lançaram mão deles, e subjugam por este modo o
reino, que pode, mas que já lhes não sabe resistir.
Ora nós entendemos que essa centralização demasiada é
incompatível com a verdadeira liberdade. Dela resulta a formação de partidos
que, imitando na sua organização a forma administrativa do país, estabelecem
também uma centralização sua própria, adoptam chefes a quem obedecem, muitas
vezes sem apreciarem as boas ou más qualidades desses chefes, e em vez de
olharem os interesses reais do país e trabalharem para eles voltam os olhos
para o centro do partido, e esperam que ele lhes indique o que hão-de fazer, e
até o que hão-de pensar.
A existência de centros dos partidos é funesta: mas ela não é
a causa, é a consequência da centralização administrativa.”
Ano 2019 ? Não. Século 19, escrito por Alexandre Herculano.
Continua actual. Portugal é dos países mais centralistas da OCDE como se pode
ver neste ensaio do Carlos Guimarães Pinto.
E ainda recentemente um Estudo da
Universidade do Minho concluiu Portugal é “o país mais centralizado da Europa”
depois de analisar 85 mil contratos do Estado (observando uma elevada
concentração de compras do Estado em Lisboa).
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