Os deputados «pára-quedistas» na Beira Interio


A crise do modelo de representação política que ocorre no contexto internacional apresenta, também no contexto do país, algumas especificidades locais que fragilizam a representatividade das regiões e das suas populações. No plano internacional, no que respeita às mudanças no carácter da representação política, algumas evidências parecem sustentar a ideia de crise de representação, sendo disso prova o elevado número da abstenção eleitoral nas Europeias. Sendo assim também visível a ampliação da desconfiança dos cidadãos em relação às instituições políticas e o esvaziamento dos partidos políticos, através, entre outros, da burocratização das suas estruturas internas e da crescente interferência da comunicação social junto ao processo eleitoral, bem como das múltiplas sondagens efectuadas com comprovadas débeis margens de segurança.

Num modelo democrático, tomando em conta o sentido básico de participação (auto-apresentação) e de representação (tornar presente algo que está ausente), torna-se evidente o quanto é importante e vital para os pequenos distritos, como o é a Guarda, que os seus representantes no órgão de poder central – o parlamento, sejam verdadeiras vozes locais, que não só conheçam a realidade do nosso distrito, como também verdadeiramente o sintam e o vivenciem, para assim melhor poderem representar os interesses das suas populações.

Como portugueses residentes no Distrito da Guarda que somos, não podemos continuar a permitir que, no modelo representativo, a participação se restrinja apenas ao momento da escolha dos seus representantes na ocasião do processo eleitoral. Que acontecerá se, quando exercermos o nosso dever e direito de voto, o fizermos em nome de um partido que apresente como candidatos a deputados alguém da esfera partidária nacional e que nada tem a ver com o nosso distrito, não sendo assim “um dos nossos”. Pois, ao contribuirmos com o nosso voto para a eleição de alguém que nada tem a ver com o nosso distrito estaremos a dar-lhe a legitimidade necessária para nos representar durante a próxima legislatura, sabendo de antemão que dele pouco poderemos esperar no que respeita às múltiplas soluções para os também múltiplos problemas de que o nosso distrito padece.

Perante a proximidade do processo eleitoral é hora dos partidos não só apresentarem o seu programa e projecto para o país, bem como escolherem os candidatos a deputados nos vários ciclos distritais. Tornando-se assim necessário exigirmos que aqueles que na próxima legislatura nos representarem sejam cidadãos residentes no distrito, pois só assim fortaleceremos a nossa cidadania e a Guarda poderá acreditar que os seus problemas serão assunto em Lisboa e as suas ambições se puderam tornar uma realidade.

Não podemos deixar para outros as tarefas que a nós cabe executar e é tempo dos partidos, através das suas estruturas federativas distritais, escolherem e afirmarem os melhores, entre aqueles que no dia-a-dia vivem, sentem e sofrem os verdadeiros problemas do distrito e das suas gentes, pois só estes reuniram as melhores condições de se baterem com determinação, vontade e persistência pela sua resolução.

Cabe assim aos partidos afirmar o distrito impondo como seus representantes gente da Guarda, que sente na pele a desertificação, o desinvestimento, o desemprego e muitos outros males que a assimetria com o litoral e com os grandes centros nos trás. Cabendo-lhe também assim, impor como candidatos a deputados, gente da Guarda com valor e com poder reivindicativo que acredite que o distrito da Guarda, assim como a sua capital é Forte e tem potencial de crescimento capaz de melhorar as condições de vida dos seus habitantes e contribuir para o desenvolvimento do país.

«Da Guarda pela Guarda», crónica de Joaquim Nércio

Jornal O Interior, 16/07/2009

Nota: Este artigo foi publicado antes da aprovação das listas de candidatos a deputados dos partidos.

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Infelizmente, o paraquedismo estravasa as esferas civil e militar, para se instalar com todos os meios ao seu alcance no plano político.
Com esta arrancada para o exercício do poder, fica descredibilizada não são as formações partidárias como os protagonistas políticos que aceitam ser representantes por círculos que desconhecem na íntegra.
O abranhismo avança com toda a força e toma assento neste país que mais parece, já não digo um monumental BPN, como o afirmou esta semana o senhor Doutro Medina Carreira, mas uma "caixa de 20 amigos".

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)