Área Metropolitana de Lisboa - que soluções?

Portugal tem hoje cerca de 10.5 milhões de habitantes. Oitenta por cento desta população reside ao longo da respectiva faixa litoral. A correspondente taxa anual de crescimento é da ordem dos 0,5% (0,1% de crescimento natural e 0,4% de crescimento migratório).

As cidades de Lisboa e Porto perderam mais de 130 mil habitantes para as respectivas periferias. Mas a concentração populacional e urbana na Região de Lisboa e Vale do Tejo (3.467.483 de pessoas em 2001), e mais especialmente na Grande Área Metropolitana de Lisboa (2.661.850 de pessoas em 2001), continua a dar-se de forma contínua, com especial incidência nos concelhos de Sintra, Amadora, Loures, Almada, Seixal e Setúbal. Quem percorre as periferias das duas maiores cidades portuguesas apercebe-se dos impressionantes ritmos de suburbanização que de há três décadas para cá tem descaracterizado estes arredores.

No caso da Grande Área Metropolitana de Lisboa, a par da má qualidade urbanística e arquitectónica do património edificado, aumentou dramaticamente o volume e intensidade dos movimentos pendulares periferia-centro-periferia, abrandou a velocidade de circulação automóvel entre localidades, diminuiu o tempo pós-laboral disponível e aumentaram as despesas de transportes, nomeadamente as implicadas na aquisição e uso do automóvel.

A dispersão suburbana actual (com as respectivas cidades e aldeias dormitório) é uma paisagem cuja origem pode ser localizada numa conjuntura muito precisa: a dos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial. Gasolina barata, crédito democrático para comprar casas e automóveis, dezenas de milhar de quilómetros de estradas e auto-estradas, cinemas "drive-in", "supermarkets", "shopping malls" e "theme parks", em suma, tudo isto e o sonho americano de uma casinha independente, com relvado e churrasqueira à porta. O mesmo sonho, recauchutado, mas ainda assim encantatório (apartamento e lareira, automóvel e 'shopping'), chegou até nós no princípio da década de 1980 e durou praticamente até ao fim do século. Entretanto, depois dos atentados de 11 de Setembro e da última guerra do Iraque, as coisas começaram a mudar.

O efeito conjugado da especulação imobiliária, do desemprego, da subida generalizada do custo de vida (com especial incidência no preço dos combustíveis) e de uma maior pressão fiscal, obrigará cada um de nós a fazer melhor as contas domésticas e a eleger com muito mais cuidado as prioridades de investimento. Se o petróleo chegar aos 100 dll antes do fim desta década e, quem sabe, aos 300 dll por volta de 2015, podemos todos ter a certeza que haverá uma corrida imobiliária em direcção aos centros urbanos e a todas as principais interfaces de transportes urbanos e suburbanos. A especulação imobiliária aumentará exponencialmente, assim como a actividade de construção nos referidos atractores urbanos e de mobilidade. Se não houver entretanto nem visão estratégia nem planeamento adequado por parte dos poderes autárquicos e autoridades intermunicipais as complicações poderão ser mais do que muitas.

PRIMEIRAS CONCLUSÕES

É necessário reformular os actuais sistemas de mobilidade urbana e suburbana:

  • localização do novo aeroporto internacional na Base Aérea Militar do Montijo (mantendo e modernizando os actuais aeroportos da Portela e de Tires);
  • construção de duas novas pontes (Chelas-Barreiro e Belém-Trafaria);
  • introdução de novos sistemas de transportes (Maglev, táxis fluviais, etc.) e expansão das redes de Metro e de corredores BUS.

Que a solução da Grande Área Metropolitana de Lisboa passa obrigatoriamente pela resolução de um problema chamado Lisboa, ou melhor dito, centro de Lisboa.

Envelhecido, atrofiado e incapaz de oferecer alternativas credíveis às novas tensões urbanísticas, este centro precisa de crescer (como tal, i.e como centro) e transformar-se no verdadeiro modelo de requalificação da grande urbe.

Crescer para Sul é a nossa proposta: a zona ribeirinha entre a Almada e Alcochete, hoje em processo de suburbanização acelerada, deverá ser o alvo principal de uma operação metropolitana estratégica e de grande envergadura.

Que o lançamento de uma candidatura aos Jogos Olímpicos de 2020 seria uma boa forma de criar as condições anímicas, organizativas e políticas para a grande revolução urbana que temos em mente.
[...]

Publicado por OGE

Comentários

A análise até é acertada, mas as conclusões e propostas pecam por idealistas. Traduzem aquilo a que chamaria uma "fuga para a frente". Que teve a sua época (a dos "inesgotáveis" fundos estruturais...), mas já não deve fazer parte dos cenários actuais de realismo em tempos de crise, que se prevê prolongada e, ela sim, estrutural (muito mais do que os ditos "fundos" o foram...).

Agora é tempo de vislumbrarmos (e agirmos) para além deste visionarismo tecnocrático, consensual e (aparentemente...) inocente.

Jogos Olímpicos em 2020? Claro! E Mundial de Futebol em 2014? Boa ideia! E nova candidatura à "Taça América", em vela? Etc....

Mas então e o grande objectivo de qualificação da Cidade, modernização, oferta turística, nova centralidade e tudo o mais não era a Expo'98? E o resultado não está longe do que se esperava, nestes aspectos?

Pois bem, aprendamos a fazer a sopa e o guisado e, só depois, perguntemos pelo quilo da lagosta, se é que me faço entender...
Anónimo disse…
Lisboa e val do tejo já não fazem parte das regiões mais desfavorecidas do país. Pelo contrário, o que é preciso é investir noutras regiões de forma que a população se destribua mais iquitativamente, principalmente pelo interior.Já basta de império e de capital imperial.Foi assim que Portugal se reduziu ao seu "umbigo", com uma capital enorme qual gigantesca "sanguessuga" sorvendo o samgue do país. É preciso descentralizar, regionalizar e fazer tudo para que Portugal possa respirar e se ver livre das peias do centralismo estatal, económico, financeiro, etc.